quarta-feira, 3 de junho de 2009

J.Bibas


O MUNDO NÃO É AQUI.


Quando estudava num colégio de religiosos, ensinaram-me que a inspiração na visão escolástica do frade Tomás de Aquino significava, na Bíblia, a ação de Deus sobre seus escrevinhadores. O livro sagrado foi produzido, assim, por mãos humanas, movidas pela ação direta do Criador, de maneira que utilizada a linguagem dos homens, pudesse o seu conteúdo ser mais bem interpretado e compreendido. Aqueles que se derem ao trabalho de ler a Bíblia, talvez me entendam. Penso que seu encanto vem justamente desse formato de escrever histórias onde o amor e o ódio convivem entre a tragédia e o luto.

A Bíblia é poesia homérica, uma grandiosa odisséia que descreve o Criador atirando raios por sobre a cabeça das criaturas, promovendo catástrofes ou impondo seu divino poder através de respeitoso medo. Sabe-se que escrita por diversas mãos, algumas foram mais talentosas que outras. Uma espécie de testemunho da passagem desses escritores por mundos não muito parecidos a este em que vivo como, por exemplo, no Apocalipse, um livro misterioso onde a viagem de João assemelha-se mais às experiências de seguidores dos ensinamentos e práticas de Timothy Francis Leary.

No entanto e, sobretudo, a Bíblia está cheia de momentos fascinantes. O que diferencia as passagens lá existentes é justamente um maior ou menor talento daqueles que a escreveram, e mostraram suas histórias por fantásticos mundos. Assim, também percebo e entendo a passageira viagem dos homens pela terra.

Uns capazes de projetar, no seu chão, grandes sombras, as mais fortemente visíveis e admiradas por todos. São os melhores e irão daqui, por primeiro, a procura de um outro mundo que não é aqui. E este, no qual me encontro, parece, está menos povoado por essas fantásticas sombras e tomado por outras, cada vez menores. Foi no que pensei ao saber, hoje, da morte do amigo Walter Bandeira.

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