quarta-feira, 3 de junho de 2009

Texto de Elias Pinto

Elias Pinto >

Burro, burro, burro

Certamente não foram os deuses do futebol que escolheram as sedes brasileiras para a Copa do Mundo de 2014. Muito menos entrou em campo o Sobrenatural de Almeida, célebre personagem de Nelson Rodrigues que decidia – talvez com a ajuda dos deuses do futebol ou à revelia destes – renhidas partidas em lances capitais que desafiavam a compreensão dos boleiros.

O editorial da Folha de S.Paulo de sábado passado, a edição dominical do jornal paulistano e mais as colunas de ontem de Juca Kfouri e do companheiro Gerson Nogueira já forneceram suficientes explicações, por quem é do ramo, para entender os verdadeiros motivos, e não as justificativas técnicas alegadas, que levaram as máfias que controlam a Fifa (e a CBF, bem como as federações estaduais, num bolo de noiva pecuniário fatiado por interesses que parasitam em torno do bilionário futebol globalizado) a selecionar as doze capitais brasileiras. Em particular, para nós, o anúncio de Manaus, em detrimento de Belém, cidade de maior tradição futebolística e com estádio que necessitaria de menos investimentos do que aqueles exigidos para Manaus. Mas é possível que este fator, como alertou Gerson Nogueira, em vez de contar a favor de Belém, tenha pesado contra na balança sonante da Fifa/CBF.

Evidente que Belém, que há algum tempo vem perdendo terreno, para Manaus, como cidade referência na região amazônica, sofrerá outro considerável abalo em relação à capital amazonense, levando em consideração a prioridade nos investimentos federais que privilegiarão as cidades-sede do Mundial de 2014.

E com isso, outra metáfora criada pelo imortal Nelson Rodrigues fechará mais um botão sobre a já castigada imagem do paraense, o complexo de vira-lata que nos vem assolando, como continua o país a ser assolado pelo festival de besteiras cunhado pelo jornalista Sérgio Porto, o não menos inesquecível Stanislaw Ponte Preta. Mas a nossa cota de besteiras, sem dúvida, parece bem acima da média nacional, afivelando ainda mais, por sua vez, a focinheira do nosso complexo vira-lata.

Por outro lado (ou ainda do mesmo lado), enquanto Belém capitaliza as notícias negativas que o Pará (e a própria Belém) produz em proporção industrial, com invasões, conflitos agrários, trabalho escravo, bordel legislativo, urbanismo fóssil, etc. e etc., Manaus capitaliza não só o fato de o Amazonas concentrar a maior área preservada da região, como o próprio nome do Estado confundir-se com o da região. Por fim mas não menos importante, os dividendos de abrigar a Zona Franca, estando ali instaladas indústrias como Coca-Cola e Sony, patrocinadoras da Fifa.

Bem, diante de tudo que se sabe, tanto da Fifa quanto da flagrante incompetência dos que ora estão de plantão no poder estadual e municipal, o momento é de aproveitar a deixa e, fazendo uma analogia com as regras não escritas do futebol (e pedindo desde já licença ao presidente Lula, pois estamos entrando no terreno gramado que é sua maior especialidade), adotar a medida mais comum quando o time vai mal: demitir o técnico.

Demitir o “treinador” da ex-quase-futura-sede, Duciomar Costa, que, indo contra aquela “máxima”, mostra que os pequenos fracos são também capazes de guardar monstruosidades administrativas que exalam a moral mais putrefata da paróquia que o pariu (através do voto). E demitir a “treinadora” estadual, Ana Júlia Carepa, que, como diria o Lula (para quem, aliás, Ana está “prestigiada” no cargo), na língua que o presidente melhor domina, o idioma boleiro, já não tem o time na mão. Demitir, claro, através do voto, mas também pode ser, se couber, no tapetão.

E o que mais me dói é que, como está no “entorno” do Mangueirão, o estádio Francisco Vasquez, da Tuna, certamente ganharia uns trocados para reformar o Monumental do Souza, fazendo, assim, jus ao título. Mas para nós, tunantes, é apenas mais uma derrota que tiramos de letra, nossa espacialidade. E já que a cidade está fazendo água por todos os lados, melhor lançar-se ao mar, ou à baía, onde somos, com a nossa regata, os maiorais, apesar da maledicência de que português não gosta de água.

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Um comentário:

ELIAS RIBEIRO PINTO disse...

Está bom, neném. O "burro, burro, burro", claro, não é este Pinto cronista, que pinto é pinto, burro é burro, como diria o Gerson (não o Nogueira, mas o canhotinha). Esse é o coro (burro, burro...) com que a torcida "consagra" os técnicos, como agora estão sendo "coroados" o prefeito e idem governadora.