quarta-feira, 3 de junho de 2009

Walter


Foi ali, por volta de 1990. Recebi o Walter Bandeira

na redação do jornal A Província do Pará, na Campos Sales,

para a longa entrevista,

de página dupla, que eu publicava no Caderno Magazine.

.

Pois o entrevistado, ao final do bate-papo, desligado o gravador,

não me saiu com a má-criação de dizer

(e deixei isso registrado na abertura da matéria): “Ah, nem doeu”.

Com isso queria dizer que eu havia pegado

leve nas perguntas, não o levara para o canto do ringue,

deixando-o sem saída, fustigando-o com

perguntas indiscretas, provocadoras.

.

Era bem a cara do Walter: atiçar o “pequeno”, em vez de ser atiçado.

.

Na mesma abertura, como vingança,

também deixei anotado: na próxima entrevista,

aguardaria o Walter com um porrete

escondido atrás da porta. Queria ver ele reclamar da minha fineza.

.

Na verdade, nunca fomos amigos próximos, jamais lhe

acompanhei a carreira.

Eu era mais chegado a seu

irmão mais jovem, o Euclides Bandeira,

o nosso Chembra,

que se foi mais cedo.

.

De vez em quando, mas esse “de vez em quando”

já tem mais de vinte anos,

nos encontrávamos na antessala do Bar do Parque,

para uns papos madrugadores,

ele fumando feito um Max Martins.

.

Apimentada ou não, aquela foi a mais extensa
entrevista impressa que ele concedeu,
uma radiografia de sua cantante vida noturna.
Preciso encontrá-la para ver se, afinal,
o Walter tinha razão na sua crítica à minha lordeza.
.
Mas encontrá-la, ah, só mesmo se ele, de onde estiver,
me aparecer como São Longuinho.
.
De qualquer maneira, um dia ainda
desencavo essa entrevista,
na falta, agora, do entrevistado.
.
E deixo-o assim, sublimado,
enovelando-se como a fumaça de cigarro
que ele soprava no ar e que o levou.
.
Elias Ribeiro Pinto
.
***

2 comentários:

papistar_nunes disse...

Nos anos 90 quando eu era guia turística da Ciatur,eu andava muito com gringos então ele tirava sarro comigo e sempre que me encontrava dizia essa frase:"E aí Papi, tem navio no porto?"Claro" que ele estava com segundas intenções na sua sarcástica frase. Se eu tivesse o porrete do Elias Pinto, tacava na cabeça dele ahahahaha Bom, no final, sabia que era tudo uma brincadeira e terminávamos rindo tomando uma cerveja no Bar do Parque.
Que êle tenha a permissão de cantar para os anjos e os santos pois em nossos ouvidos sua voz já ficou impregnada e eternizada.smackssssssssss a ele e ao poetinha Ron.

Anônimo disse...

Walter (em Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si)

E tu partindo
E essa ausência aqui dizendo

Em Sí sorrindo
Em Dó doendo
Em Fá fechando-se a luz que vais tecendo

Em Mí se fez milagres
Em Sol de amor abrindo-se
Lá onde habitaste
Ré de renascendo

(MESSIAS LYRA)