Pelo menos em 2008, ao contrário de 2001, não tivemos aviões explodindo contra torres. Neste final de ano, a cena que atravessou o mundo foi a de um par de sapatos cruzando o estreito espaço de uma coletiva de imprensa no Iraque, em busca de seu alvo: a cabeça do presidente da nação mais poderosa do mundo. Mas o texano, acostumado a se desviar dos muitos chifres do seu rebanho, mostrou que é bom de ginga.
Aliás, outro norte-americano, mais de 80 anos atrás, acertou no alvo, apesar de ter mirado no que viu e atingido o que não viu. O poeta T. S. Eliot, ao final de um seus mais conhecidos poemas, disse que o mundo expiraria não com uma explosão, mas com um gemido.
Pois em 2008 o mundo expirou com o gemido (mais parecido com um ronco) do mercado financeiro americano (sempre os americanos). A explosão veio depois, com as falências se sucedendo como peças de dominó colocadas em fila. E dizem que o pior ainda está por vir, principalmente quando o tsunami financeiro bater aqui, nestas praias que Cabral descobriu, trazido pela Varig, Varig, Varig.
Pois é, seu Cabral. Por aqui, melhor o senhor não repetir a dose. Se lhe pegam na praia, fazendo turismo, corre o risco de o senhor sair daqui mais depenado que a indiada boa e nua que o recebeu lá já vão mais de 500 anos.
E nem tente sacar um dinheirinho do banco para as festas de final de ano. A saidinha pode lhe custar caro. Aqui, em se plantando tudo dá, como bem disse naquele “e-mail” o bom Caminha ao venturoso Rei. Mas o que por aqui mesmo germina, do alvorecer nos bairros bacanas ao breu das quebradas, é toda modalidade de crime. O cidadão já sai de casa como quem volta, em medos redobrados.
Por isso, seu moço, para saudar este 2009 que já aquece os tamborins na concentração, eu recomendo que sintonize as nossas cantoras do rádio. É, as cantoras do rádio paraense, cantoras da terra, tão afinadas quanto os passarinhos que varam a poluição e insistem em trazer no bico um pouco da melodia das matas úmidas e ensolaradas, com que nos vêm acordar, cedinho, nas varandas, nas sacadas dos apartamentos.
As cantoras paraenses são assim, nos acordam para a vida com seu canto que é como o rio que nos navega, e que nos deixa promessas de maresias nunca dantes navegadas, portos que se oferecem à fluvial existência de que somos passageiros.
Que as cantoras paraenses sejam a trilha sonora do ano-novo que se faz à porta, por todos os cantos e anos vindouros desta Belém amada, embora haja tantos assaltantes pelo caminho. Vida eterna à arte paraense, que é, principalmente, o de querer (o) bem, de receber bem, fartura no sorriso e à mesa. Vida eterna ao poeta Max Martins. E deixemo-nos de calmarias, seu Cabral: que 2009 se faça ao mar.