O dia e as notícias amanhecem.
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Homens e mulheres comuns inauguram a praia do dia comum.
Os feirantes são marés nas margens da rua.
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O povo surfa sobre rádios, panelas, facas, roupas, pregos, óculos, farinha, bandeiras, peixes, carnes, frutas...
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A pororoca da sobrevivência arrasta trabalho e cansaço.
E como há cansaços no cansaço...
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Rostos na chuva. Caras sob o sol. O tempo é fabril.
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Comoventes são os ombros dos feirantes, sob o peso de tábuas, das sacas de farinha, edificando mínimas barracas.
São peixes velozes no rio de cimento.
A vida navega.
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(E todo o meu respeito se insere em gramas de palavras, em quilos de admiração)
O feirante não é dobrado pelo trabalho.
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O suor desce pelas axilas, ensopa-lhe o riso que seu peito ofegante elabora: é o efeito colateral da alegria de ser útil.
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Emociona-me os cuidados com as frutas e a claridade dos legumes. O convívio das maçãs com as mangas. E uma mulher arrumando o verde das alfaces como se fosse uma toalha de esperança.
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O abcedário dos sabores aprende-se com os gritos de venda.
A Pedreira ensina trabalho!
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