Paulo Vieira é de São Miguel
do (rio) Guamá, no Pará.
Viveu uma infância amazônico-urbana passada
na periferia da cidade, entre os restos de um floresta perdida : quintal da casa do seu avô.
Paulo e seus anjos verdes nos dão a engenharia da "poesia
autêntica e legítima".
Paulo Vieira "dá-nos o poema ágil, como pedia Oswald de Andrade, o poema saltimbanco e circence, a poesia que brinca consigo mesma e que pensa a existência e o mundo, de maneira discreta e irônica.Não se poderia encontrar melhor combinação para tão novo poeta", escreve Benedito Nunes.
Não se poderia encontrar melhor raiz para a nova poesia paraense!
..
Detalhe
.
o desencanto embrutece os lábios
sem saber que o beijo
paira entre
borboletas
.
Passeio no Bosque
..
foste passear no bosque
- as árvores passeiam em tua sombra
.
Sétimo Suicídio
..
Em mim
apunhalei
o último
de mim
.
Poema
...
Ao submeter-me à geografia da noite
aceito meu alqueire de solidão
.
Primeiro Canto
....
Meio-dia:
revivo a voz morta
do galo
e vou para casa
almoçá-lo
.
Água do Ser
...
No mar das palavras
compondo
a canção submarina
de meus dias de chuva
a feiticeira
.
águas
março
mar aço
das pedras
.
decompondo folhangens
ao furor das cheias
em minhas jovens veias de peixe
.
Poeta de estimação
...
Todos os dias
depois da ceia
.
O cão late deita e rola
e me lambe os pés
.
O gato me olha
calmamente
se lambe o focinho
e sai
(pisando em plumas)
.
Apesar de ser o cão meu amigo
é mesmo um poeta esse gato
.
Eu, homem vivíssimo
tenho claras idéias de morte.
Um globo terrestre inteiro por visitar
e mal conheço os tacos da sala
.
O amor estende pontes emprevistas...
.
A cabana
...
cada
manga
uma vésper
.
cada
ramagem
uma nuvem
(verdoenga)
.
e a cidade inteira
foi morar à sombra
daquela mangueira
.
Poema das ruas
...
sabem as ruas:
as cargas do mundo lhes são estorvos
mas
de vez em quando
uma chuva fina refresca suas peles
....
Não me avisaram do teu pouso
Quando te vi no início
- nas linhas do livro -
o sol trabalhava a louça azul esmaltada
os pássaros moravam em teus calcanhares
e voavas.
.
Quando te vi novamente
- no fim do filme -
o musgo trabalhava a lousa fria póstuma
mas teu epitáfio era legível:
A morte tem o peso de um pouso.
...
* Do livro "Infância vegetal ".Prêmio IAP de Literatura.
3 comentários:
Parabéns, Ronaldo!
- ótima publicação.
Valeu, Paulo!
- parabéns pelo prêmio
Abçs.
Benny Franklin
Vamos regar essa raiz, o futuro é promissor...parabéns RF, parabéns Paulo Vieira!!!!!!
olá Ronaldo, Franklin e Ana, escrevo para agradecer por terem gostado desses poemas da Infância e para dizer também obrigado ao Ronaldo, que trouxe poemas meus para cá. deixo para vocês então meu endereço http://vieiranembeira.blogspot.com,para visitas onde poderão conferir logo logo a data do lançamento de meu mais novo livro de poemas ORQUIDEAS ANARQUISTAS,além de poemas novos e crônicas, só lembrando que Ronaldo tem um livro quase pronto também, quando sai Ronaldo?..
abraço a
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