Gorjeio de ouro
Amanhã ocorre a abertura oficial dos Jogos Olímpicos de Pequim, mas aqui no Pará já podemos ostentar, com muito orgulho, a conquista de duas medalhas olímpicas. E não tem 18 ou 24 quilates capaz de avaliar o teor desse ouro, arrancado ali, do fundo da garganta, no gogó.
Enquanto comemorávamos nas praias nossas Olimpíadas de alegria, calor e uma cervejinha bem gelada, justa recompensa para quem enfrentou uma corrida de obstáculos o ano inteiro, lá na cidade de Graz, na Áustria, no período de 9 a 19 de julho, o Coro Carlos Gomes alcançava uma vitória inédita para o canto coral brasileiro.
Ganhamos (pois devemos conjugar essa conquista como nossa) ouro e prata disputando com os bambambãs da Europa, sustentando a brava voz paraense (e éramos a única representação brasileira na competição) entre 93 países, 450 coros e 10 mil coralistas.
E essa conquista não se deu num campinho de várzea qualquer, num palco de cineminha poeira de beira de estrada, mas num legítimo teatro austríaco, onde já valsaram os maiores nomes da música mundial de todos os tempos.
Para fazer sucesso ali, tem mesmo de ser pé-de-valsa, ter asas para alcançar o topo, as altas esferas musicais.
E eram Olimpíadas, sim, à vera, até no nome, a 5ª. Olimpíada Mundial de Coros. A medalha de ouro veio na categoria Coro Misto de Câmera, uma das mais concorridas do evento. E os concorrentes podem dar a dimensão do justo valor da vitória: disputamos ali, corda vocal a corda vocal, com 42 tradicionais corais europeus.
A medalha de prata (e uma prata nunca brilhou tanto como um ouro) nos honrou o peito papa-chibé na categoria Música Contemporânea. O ouro foi para um coral armênio.
Agora, vamos e venhamos: quem está acostumado ao nosso Teatro da Paz não iria estranhar a solenidade de um teatro austríaco, não é?
Mas para chegar lá fora e sair bem na foto, os nossos olímpicos coristas são regidos, desde o nascedouro, em 1995, pela batuta da maestrina cubana María Antonia Jiménez, que formou o Coro, composto por alunos e professores do Conservatório Carlos Gomes.
E a ida dos 18 coralistas, mais maestrina e uma pequena equipe de acompanhamento, contou com o apoio, e disso é preciso afinadamente lembrar, da Fundação Carlos Gomes, na figura de seu superintendente Antonio Carlos Braga, e, claro, do governo do Estado, graças à sensibilidade da governadora Ana Júlia.
O Pará costuma ser estampado lá fora ao primeiro sinal de estampido aqui dentro.
Pois agora, quando fomos a única voz brasileira a ser entoada nessas Olimpíadas do canto – e olhem que a China, palco das Olimpíadas que abrem hoje, levou 90 coros à Áustria, e só a vizinha Venezuela tinha quatro coros –, poucas vozes se levantam para saudar a conquista.
O Coro Carlos Gomes, que já havia recebido outras importantes premiações na Europa, como a medalha de ouro no Concurso Internacional de Coros Orlando Di Lasso, realizada na Itália, em 2006, vem se juntar a outras grandes expressões olímpicas da cultura paraense, como um Haroldo Maranhão e um Dalcídio Jurandir, na literatura, um Max Martins e um Ruy Barata, na poesia, um Benedito Nunes, na filosofia, um Waldemar Henrique, uma Fafá de Belém, um Sebastião Tapajós, uma Leila Pinheiro, uma Jane Duboc, na música.
E só aqui entre nós, que ninguém nos ouça: quem tem passarinhos gorjeando divinamente nas nossas florestas, tem a quem puxar na hora de gorjear lá fora.
P.S. * Quem quiser ver (e ouvir) por que o Pará brilhou com ouro e prata na Áustria, fica o convite para assistir, a partir das 20h, no próximo dia 16 de agosto, na Igreja de Santo Alexandre, à exibição do Coro Carlos Gomes, que apresentará as mesmas peças apresentadas na terra de Wolfgang Amadeus Mozart.
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3 comentários:
Viva o Pará !
Hélio Moura
É ISSO QUE ME FAZ SENTIR MAIS PARAENSE....
PARABÉNS COROC CARLOS GOMES. PARABÉNS MAESTRINA REVOLUCIONÁRIA. PARABÉNS, RONALDO.
E, A PROPÓSTICO, COMO FAÇO PARA LOCALIZAR O HEITOR?
ESTOU PREPARANDO UMA CANTATA DE NATAL PARA REALIZAR NO COLÉGIO ESTADUAL "PAES DE CARVALHO" E GOSTARIA DE CONTAR COM A SUA AJUDA.
Ola amigo Ronaldo!!!!, obrigada pela tua materia!!!!. Só queria esclarecer para os teus leitores, que a medalha que trouxemos em 2006 foi da Grecia, a do Orlando Di Lasso, a gente ganhou em 2002.
Apareça no nosso concerto de amanhã na Catedral ou o dia 21 em Santo Alexandre.
Um abração.
Maria Antonia Jiménez.
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