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Ao meu retiro verde nem chegam os ecos da vida dos meus gestos.
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Desejaria construir um código de inércia para os superiores nas sociedades modernas.
A sociedade governar-se-ia espontaneamente e a si própria, se não contivesse gente de sensibilidade e de inteligência.
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Acreditem que é a única coisa que a prejudica. As sociedades
primitivas tinham uma feliz existência mais ou menos assim.
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Pena é que a expulsão dos superiores da sociedade resultaria em eles morrerem,
porque não sabem trabalhar. E talvez morressem de tédio, por não haver espaços de estupidez entre eles. Mas eu falo do ponto de vista da felicidade humana.
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Cada superior que se manifestasse na sociedade seria expulso para a Ilha dos superiores.
Os superiores seriam alimentados como animais em jaula, pela sociedade normal.
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Acreditem: se não houvesse gente inteligente que apontasse os vários mal-estares humanos,
a humanidade não dava por eles. E as criaturas de sensibilidade fazem sofrer os outros por simpatia.
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Por enquanto, visto que vivemos em sociedade, o único dever dos superiores
é reduzirem ao mínimo a sua participação na vida da tribo.
Não ler jornais (e livros), ou lê-los só para saber o que de pouco importante e curioso se passa.
Ninguém imagina a volúpia que arranco ao noticiário sucinto das províncias.
Os meros nomes abrem-me portas sobre o vago.
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O supremo estado honroso para um homem superior é não saber quem é o chefe de Estado
do seu país, ou se vive sob a monarquia ou sob a república.
Toda a sua atitude deve ser colocar-se a alma de modo que a passagem das coisas, dos acontecimentos, não o incomode.
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Se o não fizer terá que se interessar pelos outros, para cuidar de si próprio.
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*Texto do poeta Fernando Pessoa.
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Tenha, querido leitor, um suavíssimo final de semana.
RF.
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2 comentários:
Caro Poeta, unamo-nos em prol de algo que nos proporcione essa paz, ou seja louvemos ao amor.
Um bj
Minhas fotos cairam como uma luva han?
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