sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Texto de Ronaldo Franco no Diário do Pará > Caderno POR Aí

A grana, a prata, anda escassa.(O bronze a gente dá um jeito de arranjar em Outeiro...)

Ah, pátria minha.

50 anos de bossa nova. Quem viveu, viveu. Quem chorou, chorou. Quando só precisávamos de um banquinho, de um violão. Agora tem de ter celular com Bluetooth, 3G, zoom, notebook, e-mail. Seriam aqueles os anos dourados?

Bem capaz, que hoje está difícil de trazer da China o peito varonil dourado de medalhas. Os anos de chumbo – liberdade, abre sempre as asas sobre nós – já se foram. Os anos agora, olímpicos, são de bronze.

Somos o país do chorinho e dos chorões. Chora-se pela vara perdida, pelo ouro desperdiçado (e também pelo conquistado), pelo que poderia ter sido e não foi.

Mas quem não perdeu o taco, o prumo, e não ficou pela bola sete? Quem não deu com os burros n’água, com o bumbum no chão, feito o Diego Hypólito?

Na abertura das Olimpíadas, a voz infantil que se ouviu não era a da criança que se via.
Fantasma da ópera, a patinha feia trinava nos bastidores. Play-back à chinesa. Pirataria made in China.

Taí, bem podíamos ter adotado essa maracutaia no jogo contra os argentinos. Pelo fone de ouvido, alguém sopraria ao Dunga, à beira do gramado, as doces harmonias de táticas e estratégias que fariam o Brasil vencer los hermanos. Alguém que entendesse do riscado, dos atalhos no gramado. Se bem que o Dunga não é exatamente um galã de novela para fazer bonito, com sua estampa, à beira do campo. Melhor simplesmente mudar o Dunga de grama, transplantá-lo para ficar ao lado de seus outros seis irmãos, no jardim.

Quanto à Branca de Neve, esta não se criaria no calor e no sol abrasante de Pequim. Voltaria bronzeada, na pele e no peito de atleta.

Quanta luta, dedicação e suor para conquistar um ouro.

O Daniel Dantas levou o seu para casa sem precisar suar a camisa. E o pouco ouro olímpico que trazemos é um nada diante do ouro que nos sangraram em abarrotadas naus metropolitanas, das Minas Gerais às Serras Peladas.

Suam na China os nossos atletas atrás do sonho dourado, do Eldorado às avessas.

Suamos nós aqui, sob o sufoco de sempre, atrás do sonho dourado da casa própria, da vida sem medo (ah, e bem que precisávamos de um João Sem Medo à frente da nossa seleção, e não de um anão de jardim), da comida no prato, que a grana, a prata também anda escassa. Que o bronze a gente dá um jeito de arranjar ali por Outeiro.

Esta é a pátria minha, sua.

E como se sua. Que essa quentura seja de querer bem, calorosa pátria.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Meu bom poeta: lindo o texto sobre a pífia participação do Brasil nas Olimpiadas. O melhor que já li até agora sobre o assunto. Voce, sim, merece a medalha de ouro, que aliás já tem, na sorridente Ione.
Grande abraço

Pedrinho Cavalléro disse...

Meu poeta
Que texto paid'égua.cheio de lucidez, humor e criatividade. Tu vales ouro.
Faz um link com o meu blog:www.pedrinhocavallero.blogspot.com, que tu já estas lincado no meu coração, apesar do furo domingueiro.rsrs

Anônimo disse...

Bom texto, colega Ronaldo.


Ivan Batista