quarta-feira, 30 de abril de 2008

Você não acha ?

"Sabe, tem dia que eu fico pensando: Deus é mesmo misericordioso,
porque senão há muito tempo que
ele já teria mandado um outro dilúvio para nós.
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Mas, também, se mandasse,
seria o fim,
pois dessa vez ele
não encontraria nenhum Noé.

Você não acha?..."

*Luiz Vilela
(Do livro > A cabeça.Editora Cosac&Naify)

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terça-feira, 29 de abril de 2008

Law is fashion

Law is fashion
droptexto
josémariaLealpaes

nada como crime e criminosos classe média alta: a justiça salta da sonolência mórbida, fecha, rápido, o céu de Sampa.


a polícia se exibe com luminóis e traquitanas tecnológicas para provar o que há muito provado está.

de tudo resulta o nada: no Brasil, a lei é fashion

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sexta-feira, 25 de abril de 2008


O salto alto
é a denegação
do chulé
devastador:
- e dos calos
masculinos...
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(RF)
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à paz, à liberdade, à sexta, ao ócio

meus pés desconhecem dois degraus essenciais para a reflexão sobre o viver-vivência:

[1.] não subi, fisicamente, ao mais alto para ver - do breu cósmico - o azul da Terra que Gagarin viu e [2.] não desci ao mais baixo do Planeta, a loucura e maldade humanas resumidas na guerra: não fui ao Vietnam. há em mim, contudo e por vezes, a sensação de atravessar intermináveis arrozais vietnamitas verdes,
vivos, silenciosos, reverentes e entregues, enfim, à paz,
à liberdade da autodeterminação dos povos.
pelo menos

josémariaLealpaes

ps. à humanidade que ainda existe em você...

Raul Franco no SBT


Amizade, um mandamento. (Sérgio Augusto)

Caminhava, caminhava, tropeçava e não chegava a lugar algum. Com um tímido suspiro, o homem sem rumo indagou duas pedras que encontrara na praia:
-Qual o sentido de pertencer à natureza, se ela tudo transforma do pó ao pó? Qual o motivo de estarem à deriva, perdidas entre planícies desertas, no alto de montanhas, ou servindo de túmulo às águas do mar? E, finalmente, por que filosofo acerca de suas propriedades minerais se minha participação nesse círculo vicioso resume-se em dar tropeços seguidos ante a vida, que me escorre por dentre os dedos a cada ano que passa? Tivera o indagador vivido o suficiente para respeitar a natureza de cada espécie. O céu lhe apontava um destino, enquanto os passos o conduziam a um deserto de solidão. Certa vez chegara a comparar os primeiros raios solares à vida, quando esta é plantada e começa a florescer nas entranhas.

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A chuva, entremeada por trovões, às intempéries da adolescência, esta única noite cheia de armadilhas e angústias. E o crepúsculo, seguido de um eclipse, ao momento em que o homem se despede da vida e torna-se parte integrante do solo. Mas foi diante daquelas duas pedras, que mais pareciam a noite e o dia, de tão destoantes, que o desejo de passar à condição de criador, após uma vida como criatura, emergiu nos olhos tácitos do caminhante. Ele nunca tivera notado a disparidade entre sonho e ficção, apesar de acostumado à realidade.

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Jamais enxergara os montes de ébano que protegem os corações dos amantes. Não imaginara ser apenas uma piada dos deuses, quando estes brincam de experimentar os sentimentos. Não correra para além dos campos materiais, onde acreditara estar protegido sob as asas do orgulho.

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Não caminhara de mãos dadas com o infinito, preferindo chocar-se com a incerteza. Não reconhecera o tesouro quando este esteve diante de seus olhos, pois os homens não acreditam em tesouros.

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Nem sentira em seu próprio coração o calor que inunda a alma e rasga o peito, quando se acredita estar no fulcro central da paixão.
Porém, outro sentimento muito poderoso o desarmou e o fez cair sobre os joelhos: a amizade. Essa deusa terrena que não é traída, quando verdadeira; essa flecha envenenada com o doce sabor da eternidade. Essa profusão de cores... cada uma representando o amor que existe entre amigos verdadeiros.

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Quando percebeu sua pequenez, mais um dia havia acabado na vida daquele ser humano tão imperfeito e inacabado. Dominado pela sensação que jamais sentira, o caminhante entregou-se àquele delírio e foi transformado justamente no vácuo existente entre aquelas duas pedras.
A pedra mais antiga simbolizava o lado feminino, e a mais jovem a parte masculina daquele sentimento único. Ambas foram perfuradas pelo sal do mar. Mas não se separaram. Passaram a fazer parte de um oceano, em que o vácuo norteava o caminho das correntezas...

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quarta-feira, 23 de abril de 2008

Por nós, alma minha
josémariaLealpaes

À parte rinite alérgica, que me prosta, o espírito teima em respirar ares que não são mais os mesmos.

Lembras, minh'alma, dos tempos ingênuos em que dormíamos abraçados à poesia e acordávamos tangidos pela utopia da mudança do homem e seu gesto?

Sonhávamos com a integridade, fermento e massa da farinha ou pão nosso, fome e sede de justiça, eqüidade, felicidade.Instigávamos a competência rumo ao mérito? Bobagem! O topo tornou-se vil. A base o aduba nas pesquisas de opinião.

Opinião? A pirâmide desaba, indigente de saber, de crítica e da necessidade mais primária - da boca ao reto. Perdemos o senso da grandeza, a percepção da essência? Tolice! Perdemos mais: o impulso da leveza do ser, o espasmo da rebeldia ao não ceder.

Os patifes dominam tudo. O bem e o bom não passam do quase. Entre o corpo andado e você, alma minha que não partiste, que mais há de se interpor em corrupção, delito, loucura e alucinação?

Mal despejam Isabela - das alturas - mãos e braços que deveriam abraçá-la, acariciá-la, niná-la, ao meu lado jaz Pethrus Orosco, 4 anos, às margens plácidas de um igarapé paraense.

O mundo amazônico das águas haverá de chorar por ele. Eu chorarei por mim, por você, alma minha, pelo tempo que nos despedaça.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Elegia para Isa - josémariaLealpaes



sinto que vives, Isabela!

se, em verdade, em verdade,
estivesses morta, esse mar de dor,
perplexidade, silêncio, medo e revolta,
tristeza e ternura,
permaneceria oculto, contido em nossa
covardia supostamente civilizada,
submisso, conivente com a miséria
ou outro nome que se
dê à maldade sem limite do animal
chamado homem sábio.
eu sei, também sabes,
ser a vida concessão da morte. porém
deveriamos saber todos que Isabelas,
de todos os tempos, até do amanhã,
de todos os vôos e cruéis aterrissagens,
ensinam quão singela e docemente bela seria Isa
- ou outro nome que se dê à vida -,
não fosse o animal chamado homem sábio.

sinto que vives, Isabela!


sexta-feira, 18 de abril de 2008


Leandro Dias > " De qualquer Maneira "


Ser botafoguense é... (Elias Pinto)

Ser botafoguense é...


Sei que estou pisando em terreno minado, sujeitando-me a botinadas, carrinhos por trás e coreografia do créu (além de simulações de chororô) de gente como Ronaldo Franco, Edgar Augusto e Gerson Nogueira, para ficar só com a prata de casa. Nada, enfim, que um tunante não esteja acostumado a enfrentar no impecável tapete verde do Monumental do Souza.

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É o seguinte, botafoguenses. Recebi informativo de que a Editora Mauad acaba de jogar na fogueira, ou melhor, de atiçar o (bota)fogo das rivalidades com a publicação do livro Piadas de Sacanear Botafoguense (para alegria de flamenguistas, vascaínos e tricolores), de Luís Pimentel, com ilustrações do nosso conhecido Amorim. Segue o release.

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“Dentre todos os clubes de futebol do Brasil e, quem sabe, do mundo, o Botafogo é o mais supersticioso e também o único clube que os seus torcedores riem de si mesmos e contam piadas sobre a sua paixão. Esta é uma forma sui generis de demonstrar amor. E isto é um prato feito para as outras três grandes torcidas do Rio de Janeiro.

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Na época do jejum de 21 anos sem títulos não havia uma só partida em que o coro vindo do outro lado das arquibancadas não entoasse: ‘Entra ano, sai ano, botafoguense vai virar corintiano’.

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Alusão às duas décadas que o (também) alvinegro do Parque São Jorge amargou na fila – e o Botafogo caminhava a passos largos para quase igualar, em anos, a proeza de não erguer uma taça de campeão estadual.
Somente um clube como o Botafogo poderia ter como maior estrela Garrincha, a alegria do povo, que nos gramados daqui e de todo mundo contava piadas com suas pernas tortas, fazendo de seus marcadores os bobos das piadas.”

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Acompanha o material de divulgação, como amostra grátis, uma das piadas presentes no livro, intitulada “reação animal”, que reproduzo.
“Dois amigos estavam conversando e um deles diz: – Sabia que meu cachorro torce para o Botafogo?

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O outro perguntou: – E como é que você sabe?
– Porque quando o Botafogo perde ele vai para a casinha e fica chorando. Quando o Fogão empata ele vai para a cozinha e fica lá todo envergonhado!
O amigo pergunta: – E quando o Botafogo ganha?
– Ainda não sei, só tenho o cachorro há um ano...”

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O culpado, quer dizer, o autor, Luís Pimentel, é jornalista e escritor, com duas dezenas de livros publicados. Trabalhou em publicações como O Pasquim, MAD (que, por sinal, está de volta), Bundas e Opasquim21. Lançou em 2004 o livro de referência Entre Sem Bater – o humor na imprensa brasileira (Ediouro).

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E olhem lá, Gerson, Ronaldo, Edgar, tem volta. O Pimentel, juntamente com Dante Mendonça, também é autor dos livros Piadas de Sacanear Flamenguista (para alegria de vascaíno) e Piadas de Sacanear Vascaíno (para alegria de flamenguista), além de, para o lado de lá da Via Dutra, Piadas de Sacanear Palmeirense e Piadas de Sacanear Corintiano.

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Amorim, o ilustrador, já é conhecido por aqui – se não me falha a falha memória, publicou no PQP do nosso Stanislaw Ponte Preta (com uma pitada de Barão de Itararé mais Bernard Shaw), o impune Raymundo Mário Sobral.

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Amorim já contraiu diversos prêmios nacionais e internacionais com seu trabalho. Mas nada que não tenha sido resolvido com um chazinho. É músico (toca campainha), ator (às vezes finge-se de morto) e empresário do agribusiness (publica toneladas de abobrinhas por safra), como se autodefine.


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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Lançamento


>>>> L a n ç a m e n t o <<<<<

"Feminina Lente"**

Fotografias de Ana Mokarzel e Kharol Khaled **


Data: 29.04.2008

Hora: 20:00 hs

Local: Computer Store


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Banda Mahara - Sucesso no Santa Fé.

A Banda Mahara:Linnha Couto (no baixo)- Ruth Saldanha (bateria) -
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Elaine Valente (nas cordas) - Rafael Magalhães (nas cordas)-

Hivana (a voz).
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A Banda Mahara >é a celebração da delícia de tocar, cantar e encantar nos palcos da cidade.
Vendo-os em ação:- é um convite implícito à música > como expressão inteligente e humaníssima.
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Ah,a Banda Mahara é demais!!!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Ópera


Isabella

Sem limite
droptexto
josémariaLealpaes

Não há limite para o exercício da maldade na natureza humana.

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Eis tudo: sejam quais forem os autores, os atores, as motivações para o assassinato da menina Isabella.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Carlos Vera Cruz


Carlos Vera Cruz – Ator, cenógrafo e produtor cultural.

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Iniciou sua carreira em 1999 na Usina de Teatro da Unama, com o diretor Paulo Santana.
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Participou como ator dos espetáculos “O Silêncio é Ouro a Palavra é de Latão”, “Auto da Barca do Inferno”; e de espetáculos do Projeto de Revitalização das Pastorinhas (Autos de Natal - 1999 a 2002).
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Em 2005 apresentou o monólogo “Imagens Dramáticas em Antônio Tavernard”, sobre a vida e a obra do poeta, como resultado de bolsa de pesquisa do Instituto de Artes do Para – IAP.
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Desde então tem conciliado o trabalho de ator publicitário (comerciais Unama), ator convidado (Ópera “A Cinderela” e espetáculo “Batuque” de Bruno de Menezes) com as funções de assistente de direção (Óperas “A Flauta Mágica”, “Carmem”, e espetáculo “Nu Nery”); cenógrafo (shows de Dayse Adário, Juliana Sinimbú, e das bandas A Euterpia, Álibi de Orfeu e Madame Saatan); e produtor cultural (Festival Internacional de Ópera da Amazônia e Projeto Ensaio Aberto – Ná Figueredo).
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Atualmente desenvolve pesquisa em teatro, música e literatura com grupo Verbus – A poesia se fez carne.
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Lívia Rodrigues & Floriano


segunda-feira, 14 de abril de 2008

Nanna Reis >>
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O Avarento do Nordeste


O espetáculo “O Avarento do Nordeste” é uma comédia baseada no texto “O santo e a porca”, de autoria do renomado dramaturgo Ariano Suassuna.
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O texto fala da avareza humana e da fé religiosa retratada no personagem “Euricão”, um velho que esconde seu dinheiro numa porca e apega-se a ela, ficando assombrado pelo medo de algum espertalhão furtar seus bens, além da devoção por Santo Antônio, a partir daí a trama está armada. Com as situações e confusões envolvendo os personagens fica difícil de conter o riso.
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O espetáculo será apresentado pelo grupo ecológico artístico Ecoarte, com a direção de Edson Chadas e um elenco de 7 personagens. A apresentação será nos dias 25, 26 e 27 de abril, às 20h, no Teatro Waldemar Henrique. Ingressos antecipados: R$ 10,00, no dia R$ 15,00 com meia para estudantes.
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Apoio Cultural FUMBEL e Prefeitura de Belém.

As lições de Futebol do poeta-jornalista > Armando Nogueira

* O gol que glorifica o artilheiro é o mesmo que mortifica o goleiro.
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* O jogador vê; o craque antevê.
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* O passe é devoção; o drible, inspiração.
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* A tabelinha é o triângulo amoroso do futebol.
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* Quem triunfa sem nobreza não perde, perde-se.
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* Nem tudo que cai na rede é peixe; às vezes é frango.
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* No futebol, matar a bola é um ato de amor.
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* Gol de letra é injúria; gol contra é incesto; gol de bico é estupro.
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* O torcedor de futebol é a encarnação da máxima de Jules Renard:
"Não basta ser feliz.É preciso que os outros não sejam".
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* Passe de mágica,
bola que passa
impressentida
tecendo na relva
a teia infinita
das minhas ilusões.
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* Para o craque, um palmo de campo é latifúndio.
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* Deus é esférico.
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(...Quanto mais o leio, mais constato que o grande poder do Armando é poético. A presença constante desse elemento comovedor, o poético, ela não se deve tão-só ao talento de trabalhar as palavras, enquanto matéria de criação. O ritmo e a musicalidade são valores que contribuem para força de encantamento que percorre a prosa do Armando.
Thiago de Mello.)
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sexta-feira, 11 de abril de 2008

Élida Braz - DJ.

Som e Élida se casam e se amam reciprocamente.
E o que se vê é uma pororoca musical.
E o que se ouve é a respiração da alegria.
E o que se sente - de forma geral - é a "orquestração" sensual
da noite cabocla.

(RF)

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O medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador,soldado.
Nosso destino, incompleto.
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E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.
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Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
doenças galopantes, fomes.
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Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em S.Paulo.
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Fazia frio em S.Paulo...
Nevava
o medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
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Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno.
De nós, de vós; e de tudo.
Estou com medo da honra.
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Assim nos criam burgueses.
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
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Vem harmonia do medo
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
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do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.
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Fazemos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
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E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.
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O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores.
Este poema; outras vidas.
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Tenhamos o maior pavor.
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
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Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
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eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

* Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 10 de abril de 2008


Versos de Vasco Cavalcante

* Nos currais, só os peixes
dissimulam verdades.
Enquanto à solta,
naufrago versos
traiçoeiros.

*A luz das taças
escreve à sombra da lucidez
um breve torpor às trevas;

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- não quero mais olhar o sol,
enquanto plaino embalsamado
beijando a lua que singra
numa poça escura.

* Do livro > Poesias : coletiva > Edições Semec 1985.

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O ócio agitado

A vida moderna é um ócio agitado, uma fuga dentro da agitação ao movimento ordenado.

(Fernando Pessoa)

Bar do Parque _ Elias Pinto

Houve um tempo em que o hoje lendário Ruy Barata comandava – em carne, osso e cuba libre –, no Bar do Parque, a mesa de cantores, poetas, intelectuais e bebuns em geral, e desafinava o coro dos contentes com sua língua afiada no verso mordente, pauapixuna.
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A mão direita em forma de concha sob o queixo, o eterno cigarro pendendo entre os dedos fura-bolos e o pai-de-todos, o Velho Ruy (nossa versão do Velho Graça) pedia pressa na dose, ao que o Sérgio, o garçom com bigode-cantinflas de cantante mexicano (ou guatemalteco), respondia que estava passando na manteiga – o pedido da cuba, que fique explícito.
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O poeta recepcionava os amigos com efusividade barroca (ou maneirista, já não lembro bem), mas não era incomum, ao fim da noitada, despachá-los ao diabo, ou ao bispo, conforme o gosto do cristão atirado à arena do Coliseu.
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Companheiro, pagava bebida aos desprovidos. Lá pelas tantas, amparado nos braços de musa grega com sotaque papa-chibé, embarcava num táxi e sumia na noite deste país chamado Pará, rumo a violões e outros cantos. Não se dava ao trabalho de pedir a soma da despesa. Very Important Person, tinha nome cativo no caderno de penduras da casa. (Meu nome, desconfio, continua por lá, a essa altura já nem pendurado, mas enforcado.)
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Uma vez perguntei ao Sérgio qual o cliente mais famoso que lhe passou pela bandeja. Ele não hesitou: o Ruy Barata. “Olha, ele era uma ótima pessoa, mas depois que colocava a mão no queixo, olhava de banda e começava a te tratar de irmãozinho, aí o esquema já mudava.”
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Entre as impagáveis do Ruy, nem sempre publicáveis, Sérgio recorda da ocasião em que uma das chamadas profissionais do sexo (que fizeram do Bar do Parque o seu, digamos, local de trabalho) chegou ao quiosque (o Bar do Parque para os íntimos) acompanhada do filho de poucos anos de idade. O poeta piscou para o garçom e carimbou, ao melhor estilo cartorário: “Este que é o verdadeiro filho da (....)”. Elementar, caro leitor.
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Noutra mesa do bar, Vicente Cecim delirava entre seus personagens de Andara. Mas, às vezes, encarnava a mão direita do sargento Nazareno, a que mata, e partia, pontiagudo, em assassino atletismo etílico, no encalço de um aditivado amigo jornalista e fiel adversário mallarmaico, de nietzschianos bigodes.
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Mais adiante, nas asas da levitação, o monge Max Martins pairava além do bem e do mal, sonhando com os caminhos de Marahu, enquanto dardejava, na mesa, o I Ching.
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No balcão do quiosque (repetindo, como o Bar do Parque também é chamado, neste acaso, tomando-se a parte pelo todo), o deputado Célio Sampaio confraternizava cafezinhos com os ex-colegas taxistas.
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Alta madrugada, feito um cavaleiro aprumado em seu ajaezado corcel, o playboy Alfredo Gantuss Filho, o Fredoca, avançava pela calçada, por entre as mesas, despejando decibéis de suas tuítas, inundando o entorno de Mike Oldfield e Jean-Michel Jarre, para o desbunde de sua corte e o protesto indignado dos que só queriam levar um papo-cabeça, sem trilha sonora. Os que tinham sede, no entanto, deixavam de lado a birra com o nosso Scarpa no tucupi, para compartilhar da vinícola ambulante do baronete.
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E até os chatos daquela época eram mais toleráveis. Faziam seu discurso pinel e, feito aplauso, colhiam no copo o bota-fora da freguesia, a cerveja consagrada. E se houve uma época em que os cuidados maternos se encrespavam à idéia de suas filhas se amasiarem com um rolling stone, período houve em que as moças comportadas faziam ohs! indignados à menção de tomar umas no Bar do Parque.
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Tinham lá suas pudicícias razões. Naquelas rodinhas dionisíacas, fomentadas a charos e chundas, muito se banqueteou, entre um caldo verde e outro. Mas daquela era de bravos, hiperbólicos e lítero-bêbados se forjou, entre sopapos e papos, a fama de boemia intelectual do Bar do Parque. E hoje, de que louros e louras geladas sobrevive o Bar do Parque?
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Bem, neste nosso livro da boemia belenense, o capítulo dedicado ao Bar do Parque tem de ser mais chorado (feito uma dose), por isso continuo amanhã – se os deuses da boemia assim permitirem.
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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Carnaval de Vigia

"As Virgienses"

Sempre às Segundas (Poema de José Ildone)
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E sexo tem nexo? Momo diz: Não,
Entupindo as avenidas com sons e multidão
- Mulheres fora! Fora os Cabras-surdos!
Então a voz afina. Sai da boca escarlatina.
Palpitam seios com recheio de jornal.
Peludas pernas sobre saltos-altos
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As Virgienses
Travestem a fevereira e colorida tarde,
Nesta segunda mais que todas gorda.

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Do livro de Paulo Cordeiro: "Carnaval de Vigia"

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Arraial do Pavulagem

A alegria que se impõe.
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Poder-se-ia dizer: - a felicidade que move-se em cores.

Aleg(o)rias levadas em frenesi de vozes e aplausos que adquirem asas sobre o pendão dos sorrisos.
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Os tambores, bois-homens, meninos no galope das canções e mulheres que vão de pouco em pouco crescendo a sensualidade aos olhos do sol...
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Tudo isso >> expõe e propõe uma celebração da vontade popular.

(RF)
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terça-feira, 8 de abril de 2008

Antonio Hohlfeldt > O ser humano precisa de poesia

O Brasil deve ser, provavelmente o país com o maior número de poetas por metro quadrado! Em compesação, o país deve possuir o menor percentual por quilômetro quadrado de leitores de poesia. Essa é uma equação difícil de explicar.Como uma sociedade que possui tantos poetas, ao mesmo tempo, lê tão pouco a poesia?
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Culpa da escola? Quando crianças, aprendemos sociabilidade através da poesia: nossas cantigas de roda são versos de seis ou sete sílabas poéticas, em geral, que facilitam a memorização.
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A tradição ibérica é do poema popular de seis ou sete versos que são decorados .
Crianças, gostamos de poesia...
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Então, chegamos à escola.Parece que, na escola, a poesia é matéria de segunda qualidade. Os programas oficiais falam pouco de poesia.O professor parece que têm medo da poesia. E, aos poucos, as crianças vão esquecendo a poesia. Vão desconhecendo a forma do poema. Na adolescência, tem-se uma recaída (quase sempre fora da escola).
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A primeira paixão nos impele à produção de poemas para nossas primeiras namoradas. O Mário Quintana dedicou vários poemas às suas diferentes primeiras namoradas.Felizmente, para nós, depois das paixonites, ele continou poeta. Mas a maioria, depois, desiste.
E adultos, afastamo-nos totalmente da poesia. Por quê?
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Os idiomas ocidentais mais antigos, como o grego e o latim, possuíam sílabas longas e breves, que identificavam fortemente o ritmo da fala e pareciam música.
Tanto que , equivocadamente, na Renascença, os estudiosos do teatro grego entenderam que os antigos habitantes da Hélade falavam cantando e inventaram a ópera!
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Por que, então, de modo geral, voltamos as costas para a poesia?
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Meu palpite é que temos medo da introspecção que a poesia propõe e exibe.
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O brasileiro gosta de falar alto, de expandir-se, de brincar, de ser inconseqüente. A verdadeira poesia não gosta disso.Ela exige o silêncio, o encontro do leitor consigo mesmo, quase que de olhos fechados, como que guiado pela sonoridade e o ritmo das palavras e dos versos.
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Não consigo dormir, a cada dia, sem ler ao menos um poema. É aquele momento em que, depois da azáfama do dia, quebro o ritmo trepidante e me encontro comigo mesmo.
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Espécie de oração, se quiserem. A poesia alimenta a alma. A poesia reequilibra.
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Você leitor, não quer experimentar?

* Artigo encontrado na excelente revista > Florense.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Banda Mahara

Apresenta-se no Bar Santa Fé, nesta sexta feira, dia 11/04, à partir das 00:00 h, couvert a R$ 2,00 reais.

Local: Travessa Rui Barbosa ,361 - entre a Rua 28 de Setembro e a Rua Manoel BarataTelefone: 3223-5528

domingo, 6 de abril de 2008

Karol Khaled & Ana Mokarzel : Aguardem !!!


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Mário de Andrade, o arlequim estudioso

Interessantíssimos pensamentos de Mário de Andrade:
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* O ridículo é muitas vezes subjetivo.Independe do maior ou menor alvo de quem o sofre.
Criamo-lo para vestir com ele quem fere nosso orgulho, ignorância, esterilidade.

* A inspiração é fugaz, violenta.Qualquer empecilho a perturba e mesmo emudece.Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisá-lo das pedras e cercas de arame do caminho.Deixe que tropece, caia e se fira.Arte é retirar mais tarde o poema de repetições, fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos.

* Virgílio, Homero, não usaram rima. Vírgílio, Homero, têm assonâncias admiráveis.

* Você está reparando de que maneira costumo andar sozinho...

* A gramática apareceu depois de organizadas as línguas. Acontece que meu inconsciente não sabe da existência de gramáticas, nem de línguas organizadas. E como Dom Lirismo é contrabadista...

* Escrevo brasileiro. Se uso ortografia portuguesa é porque não alterando o resultado, dá-me uma ortografia.

* O passado é lição para se meditar, não para reproduzir.
" E tu che sè costí, anima viva,
Pàrtiti da cotesti che son mortí."

* Quando uma das poesias do meu livro foi publicada, muita gente me disse:- "Não entendi".
Pessoas houve porém que confessaram:- "Entendi, mas não senti". Os meus amigos...percebi mais de uma vez que sentiam, mas não entendiam.Evidentemente meu livro é bom.

* Escritor de nome disse dos meus amigos e de mim ou que éramos gênios ou bestas.Acho que tem razão. Sentimos, tanto eu como meus amigos, o anseio do farol. Se fôssemos tão carneiros a ponto de termos escola coletiva, esta seria por certo o "Farolismo".
Nosso desejo: alumiar.
A extrema esquerda em que nos colocamos não permite meio-termo.
Se gênios: indicaremos o caminho a seguir; bestas: naufrágios por evitar.

* E não quero discípulos.
Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.

***

Poeta Paulo Leminsk

*Apagar-me
.

Apagar-me

diluir-me

desmanchar-me

até que depois

de mim

de nós

de tudo

não reste mais

que o charme.
.

*Um homem com uma dor
.
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante.
.
*Acordei bemol
.
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido
***

Poeta Antonio Tavernard

Meu velho Violão
(Para você, minha amiga, estes versos imperfeitos, mas cheios de coração.)

Meu velho violão coberto de poeira,
a dormitar num canto em nostalgia
imóvel para sempre - pasmaceira
feita de tédio e de melancolia.
.
Não recordas as noites em que eu ia
contigo no peito, a sombra companheira,
dois loucos a cantarem nessa elegia
que era a alegria da paixão primeira?
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Tudo depois mudou...Calei, calaste
dês a trágica vez em que vibraste
inutilmente sob a sua janela...
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Foi como se morresses...Entretanto,
se, sem querer, te roço em teu recanto,
soluças-me, baixinho, o nome dela.

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Na Tonga - por Elias Pinto

Deixei dito ontem, enquanto pedia mais uma ao garçom, que iria contar, depois de falar do Biriba, de um outro bar que ficava do lado de lá da rua, na Carlos Gomes. Os dois bares, disse então, têm mesa cativa no livro a ser escrito sobre a nossa boemia. Não era incomum sair do Biriba, atravessar a rua e esticar na Tonga, a casa que ficava do lado de lá e podia varar a madrugada, conforme a freqüência, assumindo uns ares de boate.
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Criada em 1972 (em plenas trevas ditatoriais do governo Médici, eclosão da Guerrilha do Araguaia, com a imprensa sob censura), a Tonga antecipou uma tendência que se firmaria naquela década: a do jornalista que deixa (mas nem sempre) a redação e a banda de cá do balcão, transferindo-se para o outro lado, o do quem passa o pano e o cliente a limpo.

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Acompanhado da então mulher, Lulucha, Avelino do Vale engendrou, na sua Tonga, um ambiente intimista, acolhedor, abrigo da boa música e de comidinhas reconfortadoras, descoladas, como o sanduíche de legumes e as pizzas (então uma novidade) acalentadoras, criação da sogra, Dionée Martins.
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Se de passagem pela cidade (até parece que viviam por aqui), Caetano Veloso e Gilberto Gil costumavam esticar na Tonga, sem aviso prévio. Por isso mesmo, China, um dos garçons da casa (fazia par com Valdomiro), bateu, certa vez, com toda educação, claro, a porta na cara de um tardo freguês, de sotaque baiano, o próprio Caetano, que, depois de fazer um show na cidade, resolveu estender a madrugada no bar do Avelino. Como estava na hora de fechar, China disse para o canoro madrugador voltar no outro dia – que fosse fazer samba e amor até mais tarde noutro canto.
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E se você esteve, perdido na noite daquela década, numa outra madrugada na Tonga, quem sabe não topou, sem perceber, com um topetudo político de Juiz de Fora. Ele mesmo, Itamar Franco, que, de veneta por Belém, acompanhado de um amigo, numa daquelas noites derrubou uma garrafa de uísque, jura o Avelino.
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E por falar em boemia nessa área aqui da Campina, claro que vocês lembram (os de mais de 40) do Porão (na galeria da Assembléia Paraense) e do Papa Jimi (na Presidente Vargas). E do bar Primavera (também na Carlos Gomes, no mesmo quarteirão do Biriba e da Tonga), famoso pela batida de frutas e pela Antarctica casco escuro, estupidamente gelada, acompanhada de tira-gosto de leitão, quem lembra? E onde ficava o Trogloditas, primeiro ponto a vender hambúrguer em Belém?
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Como a noite é uma criança insone, que venham outros bares, outros Tongas & Milongas & Biribas & Primaveras, e que a noite dos tempos lhes seja leve. Garçom, ainda não acabei. Traz a primeira das saideiras.

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sábado, 5 de abril de 2008

Aguarde!!!


Transmutação*
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Novos ventos
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transposições,movimentos
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nômades folhas
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se deslocam ...
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Lúcia Gönczy*
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“Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não podemos crescer emocionalmente.Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um."

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