Interessantíssimos pensamentos de Mário de Andrade:
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* O ridículo é muitas vezes subjetivo.Independe do maior ou menor alvo de quem o sofre.
Criamo-lo para vestir com ele quem fere nosso orgulho, ignorância, esterilidade.
* A inspiração é fugaz, violenta.Qualquer empecilho a perturba e mesmo emudece.Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisá-lo das pedras e cercas de arame do caminho.Deixe que tropece, caia e se fira.Arte é retirar mais tarde o poema de repetições, fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos.
* Virgílio, Homero, não usaram rima. Vírgílio, Homero, têm assonâncias admiráveis.
* Você está reparando de que maneira costumo andar sozinho...
* A gramática apareceu depois de organizadas as línguas. Acontece que meu inconsciente não sabe da existência de gramáticas, nem de línguas organizadas. E como Dom Lirismo é contrabadista...
* Escrevo brasileiro. Se uso ortografia portuguesa é porque não alterando o resultado, dá-me uma ortografia.
* O passado é lição para se meditar, não para reproduzir.
" E tu che sè costí, anima viva,
Pàrtiti da cotesti che son mortí."
* Quando uma das poesias do meu livro foi publicada, muita gente me disse:- "Não entendi".
Pessoas houve porém que confessaram:- "Entendi, mas não senti". Os meus amigos...percebi mais de uma vez que sentiam, mas não entendiam.Evidentemente meu livro é bom.
* Escritor de nome disse dos meus amigos e de mim ou que éramos gênios ou bestas.Acho que tem razão. Sentimos, tanto eu como meus amigos, o anseio do farol. Se fôssemos tão carneiros a ponto de termos escola coletiva, esta seria por certo o "Farolismo".
Nosso desejo: alumiar.
A extrema esquerda em que nos colocamos não permite meio-termo.
Se gênios: indicaremos o caminho a seguir; bestas: naufrágios por evitar.
* E não quero discípulos.
Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.
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