quarta-feira, 23 de abril de 2008

Por nós, alma minha
josémariaLealpaes

À parte rinite alérgica, que me prosta, o espírito teima em respirar ares que não são mais os mesmos.

Lembras, minh'alma, dos tempos ingênuos em que dormíamos abraçados à poesia e acordávamos tangidos pela utopia da mudança do homem e seu gesto?

Sonhávamos com a integridade, fermento e massa da farinha ou pão nosso, fome e sede de justiça, eqüidade, felicidade.Instigávamos a competência rumo ao mérito? Bobagem! O topo tornou-se vil. A base o aduba nas pesquisas de opinião.

Opinião? A pirâmide desaba, indigente de saber, de crítica e da necessidade mais primária - da boca ao reto. Perdemos o senso da grandeza, a percepção da essência? Tolice! Perdemos mais: o impulso da leveza do ser, o espasmo da rebeldia ao não ceder.

Os patifes dominam tudo. O bem e o bom não passam do quase. Entre o corpo andado e você, alma minha que não partiste, que mais há de se interpor em corrupção, delito, loucura e alucinação?

Mal despejam Isabela - das alturas - mãos e braços que deveriam abraçá-la, acariciá-la, niná-la, ao meu lado jaz Pethrus Orosco, 4 anos, às margens plácidas de um igarapé paraense.

O mundo amazônico das águas haverá de chorar por ele. Eu chorarei por mim, por você, alma minha, pelo tempo que nos despedaça.

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