( O futebol sob um olhar essencialmente feminino.)
Acordo neste domingo com o peso de uma responsabilidade histórica nas costas. Sim, porque para qualquer cronista esportivo paraense o fim do tabu alcança uma dimensão comparável à conquista de uma Copa do Mundo.
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E bem diferente de um comentário ditado pela frieza lógica dos fatos, uma crônica exige um penar sob cada palavra para traduzir com clareza o que se passa na alma de cada um.
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Abro a janela então, e me deparo com uma cidade espantosamente bêbada. Depois da vitória bicolor, Belém se transformou em uma só voz a gritar histericamente pelos botecos:"Acabou!".
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Eu disse cidade bêbada e já explico: somos uma cidade em pileque unânime. Porque a queda do tabu alcançou um sentido cívico para cada um dos paraenses, bicolores ou não.
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É uma página do futebol paraense que foi virada para o bem da história. A partir de agora, começaremos tudo do zero. Remistas e bicolores voltarão a escrever, sobre a mesma linha, no mesmo parágrafo, cada palavra dessa apaixonante epopéia de rivalidades.
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Sob a ressaca moral, cada bicolor se redimiu de exatos quatro anos, cinco meses e vinte e cinco dias de frustações. Na madrugada deste domingo, por conta da histórica vitória, cada torcedor do Paysandu suspendeu todos os pecados.
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Ninguém matou, ninguém roubou, ninguém traiu. Todos os pecados já haviam sido pagos em um sofrimento purificador.
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Hoje, cada bicolor veste o santificado manto azul e branco dos heróis de guerra que souberam esperar.
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* Syanne Neno: Em março de 94 , começou a trabalhar como repórter esportiva, na TV Liberal. Foi aí que o futebol, além da paixão, virou inspiração. Nascia uma excelente cronista de futebol.
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2 comentários:
Viva o Papão!
Geraldo.
Syanne dá show na TV. Sou sua fã de carteirnha.
Eliza Moraes.
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