sábado, 21 de junho de 2008

Versos do poeta Bissexto > Pedro Galvão


É o Vietnã televivo em nossa cama
por tanta noite em trinta e tantos anos
sangrando sobre quem sangrando ama.
...
Dinheiro é o deus.A absurda potestade
trucida Allah e o Islã desde o Oriente,
a suicida legião de Mohammad,
.
por amor ao petróleo e no Ocidente
zomba de um deus chamado Deus e atira
suas bombas sobre o crente e o descrente
.
(...)
E o difícil depois, o mais difícil
não é contar os mortos mas os vivos
de vidas destroçadas, o difícil
.
é devolver a vida a mortos-vivos,
é separar a mãe dessa cabeça,
o pai do filho aos urros vingativos
(...)
O autor desses massacres? Bush ou quem?
Que círculo do Inferno e seus penares
.
lhe acenderia Dante no infralém?
Talvez criasse um décimo, o mais certo
a humanicidas, séculos além.
.
Ou preferisse o sétimo? Decerto:
o círculo onde ferve o Flegetonte,
rio sangrento e sulfúrico referto
.
de violentos que ardem, rio sem ponte,
sem margem, expiação ou horizonte
e se afogam em sangue e infernidade.
.
Mas sorris desta boba veleidade
de evocar o alto inferno literário
quebrando a terza rima - vanidade.

(...)
E eu te carrego ao fim da travessia
no labirinto quando cais ferida
feita de carne e sonho e agonia.
.
É um labirinto? Existe uma saída?
Alta esfera invisível nos governa?
Se há amor no paraíso e noutra vida
.
não dormirás sem mim na noite eterna.

***
O Pedro Galvão dá-nos o roteiro entre ação e linguagem:- o kamikaze
em audácia metafórica que explode em rimas ágeis.

( Em sílabas agudas torna visível a escrita-mãe separada das mesmidades das cabeças de tantos poemas.Um poeta mergulhado
no sangue das palavras.Que ouve a dor nas imagens que escreve sem contenção:-" sangrando sobre quem sangrando ama"."Que círculo
do Inferno e seus penares lhe acenderia Dante no infralém?"...

Não é um conto de mortos e vivos.É uma contagem regressiva da vida.
São versos destroçados da existência.

Violências que ardem fora da gramática.
Por cima das pontes da linguística.
Longe da margem acadêmica.
Na língua do Poeta Pedro
feita das dores de todas as línguas do mundo poético.

**Ronaldo Franco.)

*

quarta-feira, 11 de junho de 2008

...que outro de mim
deveria ser
para saber
ver
os pedaços que você junta em silêncio?
assim você queima distâncias?
me devolve ao meu animal?
assim você me dá grandeza
ou corpo que você invade com a sua ausência?

...você está aqui
quer dizer
tudo está aqui
o vazio e a união
e você
e a desordenada solidão...

*Juan Gelman
.

Oh! Deixai que ele
me queime e me afogue
Minha voz arde em sua mão
Agora estou perdida naquele que me cega
* Dylan Thomas
.

sábado, 7 de junho de 2008

Pedro (poeta) Galvão (publicitário)

Agora chegue bem perto
com uma câmara em close
do rosto do Pedro.
Esse bom camarada.
De agora.De sempre
Guri-rapaz-homem-poeta:
todos um só, todos Pedro
multipedro.

RF: O Galvão publicitário trabalha com a mão do Pedro poeta?

Pedro: Com muita transpiração.Muita.

RF: O que você lembra da época dos telefones pretos e das geladeiras brancas?

Pedro: Duas mulheres lindíssimas. Coincidentemente, uma branca, outra preta.

RF: Ultimamente o tempo tem passado depressa?

Pedro: Tempus fugit. Desde a época que se falava latim.

RF: O que é kitsch em Belém ?

Pedro: Aquela "catedral" na Cabanagem é assustadora.

RF: Você trocaria o barco da sua vida por apenas uma prancha de surfista?

Pedro: Surfar a vida é mais emocionante.

RF: "Ah, você está vendo só/Do jeito que eu fiquei/E tudo ficou..."Você
já cantou esses versos da Dolores Duran?

Pedro: Já. Já,sim...

RF: O "gentleman" deu lugar ao ubersexual?

Pedro: Ubersexual é o cara faz cunnilingus em alemão? É ?

RF: Fazer política é namorar homem?

Pedro: Pergunta ao Gabeira.

RF: Para quem você daria uma sopa de letrinhas?

Pedro: Uhh! Tanta gente!

RF: O que exarceba sua impaciência?

Pedro: Irresponsabilidade. A irresponsabilidade às vezes é um crime.

RF:O que lhe dói no fígado?

Pedro: O mau professor.O mau médico. O mau publicitário.

RF: O que é uma alma vira-lata ?

Pedro: A que se contenta com lixo. Lixo profissional, lixo escrito, lixo mulheril e lixo humano.

RF: Quantos "Camões" existem na cidade?

Pedro: Na língua só vejo dois: o Pessoa e o Drummond. Mas na cidade...

RF: Você bateu continência para alguém?

Pedro: Sim. Para o Drummond, para o Guimarães Rosa, para o Borges, para o Elliot e para as mulheres que amei.

RF: O que soaria implausível no palco do Teatro da Paz?

Pedro: Um show brega.Um pagodão. Coisa assim.

RF: A bossa nova é uma coisa, o calypso é outra?

Pedro: Mas o calypso pode ser maravilhoso. Que tal inventar o bossalypso?

RF:Qual o poema você declamaria com dez uísques no tanque?

Pedro: "A última canção do beco".

RF: A Cidade Velha é apenas uma realidade poética?

Pedro:...Mas como dói...

RF:Belém é feminina?

Pedro: Belém é uma mulher incrível. Mas tem que ser muito macho para amá-la.

RF: Em que rua seria a nossa "calçada da fama"?

Pedro: Na Braz de Aguiar. Mas antes da previsível invasão de camelôs.

RF: O que você não suporta sob o seu nariz?

Pedro: Nariz empinado.

RF: A Paz é apenas um comercial mundial?

Pedro: Nããão! A luta pela paz é a guerra que vale a pena.

RF: Quem vende mais - o vendedor de ideologia ou o balconista de desejos?

Pedro: O país mais rico do mundo sempre vendeu ideologia.Repara só.

RF: É possível farejar uma mentira sincera?

Pedro: Claro. Ninguém deve ser bobo. Mas precisa ter um faro de cão.

RF: Finalizando...Quem é uma pororoca humana?

Pedro: Aqui ainda não vi esse tipo de pororoca. (risos)

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As bolsas da Dona Naza: Criatividade !


Eterno

...Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eterníssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno
Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive em fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica
e nenhuma força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas palavras, eternos pensamentos; e passageiras obras...

**Carlos Drummond

Por todos os poros, praças e teatros

O Festival Internacional de Música, que faz Belém amanhecer e anoitecer ao embalo dos mais variados ritmos musicais, é, talvez, a face mais visível, para a cidade, da atuação da Fundação Carlos Gomes.

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Mas a música, quem em si mesma é das mais delicadas e vibrantes manifestações do gênio humano, também é um poderoso instrumento de socialização, que a Fundação rege com a batuta da sensibilidade de Antonio Carlos Braga, com o apoio do secretário de Cultura, Edílson Moura, e da nossa governadora Ana Júlia Carepa.

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Nesse sentido, os acordes da Fundação Carlos Gomes ecoam muito além da capital. Por exemplo, no final do mês passado, através do projeto Música Interior, a FCG firmou convênio de cooperação técnica e financeira com diversas prefeituras.

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Essa iniciativa permitirá a implantação e manutenção de escolas de música no Estado, estimulando também a preservação das tradicionais bandas de música, tão características do nosso interior como suas pracinhas em torno da igreja matriz.

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Bragança, Cachoeira do Arari, Colares/Mocajatuba, Curuçá, Igarapé-Açu, Marabá, Marapanim/Marudazinho/Vila Mau/Vila Matapiquara, Ponta de Pedras, São Caetano de Odivelas, Salvaterra/Passagem Grande/Condeixa/Jubim, Santo Antônio do Tauá, Soure e Vigia/Porto Salvo são os municípios e localidades desde já contemplados pelo convênio.

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É conhecido, por sua vez, o efeito muitas vezes surpreendente da aplicação da música, integrada a uma abordagem clínica, no universo da educação especial. Pois desde março de 2007, a FCG vem semeando, em parceria com a Associação de Portadores de Necessidades Especiais (APPD), o encontro desses conceitos através do projeto “Música e Cidadania”.

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Ao disponibilizar uma equipe treinada de professores de musicalização para o ensino de flauta doce, violão, cavaquinho, teclado e canto, a FCG abre caminho para uma integração capaz de fazer desabrochar a criatividade de cada ser humano, respeitando a individualidade e, no caso, as necessidades especiais de cada um.

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Nada melhor do que celebrar essas conquistas com música. E Belém vive música por todos os poros, praças e teatros. Até domingo, o Festival Internacional de Música abre-alas para todos os gostos e timbres. Ainda ontem tivemos Alexandre Gismonti e Duo. Hoje teremos coros & corais, bandas, Badi Assad, Jeff Gardner. Amanhã tem mais.

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Faça seu programa. E não deixe de ir, domingo, às 9h, à Praça Batista Campos, para o encerramento, ao som da Orquestra Sinfônica do Festival. Viva sem fronteiras. A música, esperanto, fala todas as línguas.

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terça-feira, 3 de junho de 2008


O espaço interior é necessário para a permanente recriação de si.
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São os aposentos que deveriam ser os mais generosos e iluminados.Ali poderíamos analisar o projeto feito, conferir nossos parâmetros, repensar os amores vividos e os projetos possíveis.
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Porém nessa cultura do barulho e da agitação somos impelidos a fazer coisas, promover coisas, não a refletir sobre elas: precisamos de eventos, roteiros e programas, ou nos sentimos como quem fica de fora e para trás.
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Porém o que nos revigora é sossegar, entrar em nós, refletir.Nada se renova, inova, expande e se faz de verdade sem um momento de silêncio e observação.
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Depois disso podemos, devemos, querer e ousar.
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Lya Luft > em Perdas & Ganhos.