sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Filhos >> Carmen Palheta

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Contato com crianças é sempre genial. Ou para dar-nos a sensação de leveza. Ou para acabar com o que ainda nos resta dela. Inevitavelmente, é uma relação única. Divina em sua essência.

FILHOS II
Nunca tive filhos. Não saberia dizer se os quero. Porém, a sensação de que um dia posso ter um, revela-se, cada vez mais distante de meus olhos. E do bolso. Mas, não por isso, ausente de minha alma.

FILHOS III
Por que isso se revela, assim, sem nenhuma data ou motivo especial? Porque, na convivência com os filhos de amigas, eles, vez por outra, se tornam um pedacinho de minha vida. Brevemente, é bem verdade. Não sei, todavia, se lhes gostaria, eternamente, ao meu lado. Não por maldade. Senão por pura falta de prática em lidar com eles. São imprevisíveis.


Foto:S.O.S

Maestro Waldemar Henrique > depoimento sobre a bossa-nova


*Waldemar Henrique > afirma:
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- "O verdadeiro mestre, o guia modesto, a figura marcante que preparou o advento da bossa-nova foi o Garoto. Ao redor do seu violão maravilhoso estavam Radamés Gnattali, Chiquinho e uma turma de meninos talentosos garimpando dia e noite: Donato, João Gilberto, Tom, Ed Lincoln, Vandré, Luiz Eça e Dolores Duran."
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* Claver Filho autor de "Waldemar Henrique - O Canto da Amazônia", comenta: "É importante e curioso que Waldemar se lembre de um nome e o valorize - o de Garoto - quando os personagens do grande movimento em questão a bossa-nova, raramente se lembrem dele em seus comentários, quando solicitados a falar daqueles momentos de ensaio e tomada de consciência para novo comportamento em relação à música popular brasileira.
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É que Waldemar conheceu de fato, aqueles inícios; aqueles jovens viviam em seu apartamento, no Rio, e ele orientou quase todos. E hoje fico pensando em como das orientações dos mais nacionalista de nossos compositores saiu um grupo aparentemente sem nacionalismo algum, atacados até hoje, os seus integrantes, mesmo depois da bossa-nova, de americanizados ao extremo."
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*Então Waldemar diz: " Como eu fui bem sucedido, sempre recebi bem os jovens que tinham demonstração de talento".
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*Continua Claver: " Será que uma música como Tamba-tajá, cuja primeira parte é tão horizontal e a segunda é que se mexe, não foi a origem de, entre outras, o Samba de uma nota só ?...
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*"Compare-se a pequena tessitura de boa quantidade de trechos de bossa-nova, e talvez coincida com a tessitura das músicas do músico do Pará. Além disso, tirando-se as dissonâncias e certas estilizações, vai sobrar a batida da bossa."
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* Ora, só a título de curiosidade, poderíamos, através de uma partitura de Villa-Lobos, chegar ao ponto em que a batida da bossa se parece com as acentuações da embolada. A partitura é um arranjo para coro e piano que Villa fez para Caboca de Caxangá, chegando, num certo ponto das versalhadas, a indicar as acentuações da embolada segundo a seguinte fórmula:
pa-tchi-tchi-pa-tichi-tichi-pa-tichi, pelas oito semicolcheias que fazem um compasso binário que se repete sempre.
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* ...Costumavam fazer bossa-nova em compasso quartenário - principalmente a rítmica de João Gilberto...
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* "Pois sim: a rítmica do maior intérprete da bossa-nova é composta de dois compassos binários da embolada, sendo um como vem na fórmula indicada acima, e outro que é...simplesmente invertido".
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* Mas o que tem a ver Waldemar Henrique com a embolada?... Algumas das peças mais famosas do músico, Boi-Bumbá e Coco peneruê e outras muitas, têm uma parte em embolada que pode ter ficado no subconsciente daqueles meninos...
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A preocupação de Waldemar Henrique em relação à musica brasileira:
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" Um dos males que têm consumido a história da criação artística no Brasil é a ausência de trabalho sistemático de pesquisa, propiciador de elementos capazes de enriquecer a criação musical. De certo modo, a existência de um completo ensino musical acarreta a ausência de consciência técnica, impedindo a produção musical de atingir, a não ser raramente, aquele grau de perfeição que decorre da convergência de criatividade artística e categoria artesanal".
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"O doce e ameno culto da improvisação, fruto de um romantismo mal digerido, acaba tornando-se causa e efeito da mencionada falta de consciência técnica. A crença no curso espontâneo da arte natural, da improvisação telúrica, termina por gerar um cordial desprezo pelo estudo e formação técnica".
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"O culto pelo consumo que alimenta o deleite da facilidade gera a rápida e abundante produção, o alinhavado descuido, o desinteresse pelo aperfeiçoamento e a conivência com o inacabamento artístico."
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"Com frequência vence o que Sérgio Buarque de Hollanda aponta como o espírito de aventura sobrepujando o espírito de trabalho."
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"Por isso temos a necessidade de intensa, ampla e programada atividade de pesquisa renovadora, visando concorrer para o reatamento da linha evolutiva autenticamente brasileira em nossa música popular".
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E o que Waldemar aconselhava aos jovens paraenses ?
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Maior conscientização brasileira. Mas lamentava uma ausência total de estímulo para o surgimento positivo desses valores, entretanto por experiência própria aconselhava aos nossos compositores que havia uma coisa melhor que pesquisar motivos folclóricos, catalogar versos, melodias, ritmos de carimbó, batidas de babaçuê, passos de mara-baixo...A lição de amar nossa terra e sentí-la profundamente nos seus rostos, problemas, paisagens, características.
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Villa Lobos escandalizava os puristas folcloristas quando dizia:- Eu sou o folclore.
E Villa estava certo dessa verdade. Ele pulsava e suava Brasil. Por onde andasse- e longos anos viveu em Paris e Nova York - sua obra refletia nossas paisagens, nossos ritmos e a nossa sensibilidade modinheira.
Era Villa e era o Brasil.
Os valores musicais de nossa região devem ser encontrados no coração de cada artista criador.
A calça pode ser blue-jeans, mas o coração deve estar perto da terra natal.
Os valores musicais são como os valores humanos. Têm de ser autênticos.
E o maestro acrescenta: "Nós temos uma atmosfera, um ambiente, um sentir próprios. Os compositores deveriam pensar nisso e captar esse imponderável que está dentro de cada um. Pode-se ser alegre ou triste mas o falar paraense se indentica pela doçura.
Fixemos essa doçura.
Antes de tudo devemos estudar música, escolher tonalidades, acordes, intervalos, material para pintar nosso quadro. Todavia se há de escolher um caminho, esse será o do amor à terra."
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Cenografia e Direção de Arte para Audiovisual


*Com mais de uma dezena de filmes no currículo, o fotógrafo, diretor de cena, cenógrafo e diretor de arte Carlos Arthur Liuzzi estará em Belém a partir da próxima semana, para ministrar o curso Cenografia e Direção de Arte para Audiovisual.
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* Promovido pelo Instituto de Artes do Pará (IAP), através do seu Núcleo de Produção Digital, o curso tem como objetivo desenvolver, através de exercícios práticos, a criação de espaços cenográficos e a composição de figurinos. As inscrições podem ser feitas até dia 31 de outubro, sexta-feira, no próprio instituto.
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* Por ter apoio teórico de disciplinas ligadas à História da Arte, o curso trata ainda da confecção de objetos cenográficos de determinados períodos históricos, propondo assim um "olhar dramático" da cidade, das roupas e dos objetos, bem como a transformação de obras literárias em imagens e seqüências cinematográficas.
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*De acordo com Carlos Liuzzi, serão dez dias em que os alunos aprenderão a pensar e a criar para cinema. Segundo ele, a direção de arte é um dos aspectos mais importantes da produção cinematográfica, pois define a “cara” de um filme em seus mínimos aspectos. Carlos Liuzzi já trabalhou em produções como “Inocência” e “Chico Rei”, de Walter Lima Jr.; “Avaeté”, de Zelito Viana; “Sonho de Valsa”, de Ana Carolina; e “Matou a Família e Foi ao Cinema”, de Neville d'Almeida. Atualmente é professor de Direção de Arte na Faculdade de Cinema Gama Filho e na Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
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*O curso será realizado de 5 a 15 de novembro, no ateliê do IAP, de segunda a sexta, de 18h às 22h, e aos sábados de 10h às 14h. As inscrições são gratuitas e têm como público-alvo alunos de Arquitetura, Artes Visuais e Desenho Industrial e profissionais com experiência em cenografia. Os alunos precisarão de régua T, um par de esquadros de tamanho médio, lapiseira 0,5 ou 0,7mm, lápis e borracha.
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*Informações: 4006-2947/ 2924.
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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Outrora agora > Poema de Pedro Galvão


Mais où sont les neiges d´antan?
François Villon


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Aqui outrora foi Belém.


Aqui
outrora
é.

Mas onde estão as chuvas de antanho?

Elas escorrem no assombro e no beco
na farda do colégio
na maçã do meu rosto
em nosso primo amor posto em segredo.
Escorrem no azulejo - azul lejos
que sobrevive no azulejo destroçado.
Escorrem nas vidraças mortas
e nas casas desaparecidas
e na chaga dolosa dos terrenos
e nos restos de paredes e baldrames
e pias e grades e negras sentinas
em tufos de capim rompendo o não
no xadrez dos mosaicos que escarceram
velhos passos.

Elas escorrem
nos trilhos de bondes deslembrados
sob o asfalto elas escorrem
pelas ruas
que outrora em nós corriam.


Ferrugem ferragens de alvarenga
alvacenta manhã depois das aulas:
onde deságua o Beco do Cardoso brincavas
brincavas entre palavras ariscas
aranhas caraguejos águas alga
rismos meridianos orações
subordinadas erros (z)eros
ereções ereções entre as maranhas
do negro vasto velo de Tereza.

Mas onde as chuvas de antanho ?

outrora

Aqui foi Belém.

Aqui outrora é.

E já nem sei onde começam teus confins,
cidade amada,
mas meus passos, acostumados à carícia
das pedras, ainda tocam os restos da tua alma.
essa alma desal - desanimada
pedra a pedra
prédio a prédio
palavra por palavra
teu eras teu axi
teu tu e teu sotaque
tua velha sintaxe
luso ameríndia
até não sobrar nada
até ficares axânime
sobre um lençol de pobreza.
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A chuva do transtempo cai agora.

No lampião da esquina a luz goteja
lágrimas sujas na valeta.
É luz de anoitecer.É noite alta.
Arcos
arcas
arcabouço
noturno de visagens nos sobrados
poluções visões de incesto
remorsos gemem no arcaz.

Nenhum olho malévolo cintila nos covis.

As janelas dormem.
as línguas dormem.
O casarão reinol rumina o tempo.
Um soluço animal percorre as ruas.
A cidade
insolvente
se dissolve.


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Quando a sorte...


É festa


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"Olho de Boto" > José Carneiro


“Olho de Boto”

Este é o poeta Cristovam Araújo, autor paraense de imensas sensibilidades. Pouco conhecido fora de alguns círculos, ele é simplesmente o autor do belo poema “Olho de Boto”, que, musicado e gravado por Nilson Chaves e Vital Lima, é uma das músicas mais freqüentemente apresentada nas noites de Belém.

Nascido em Belém na década de 1950, Cristovam Araújo passou a residir, por questões profissionais, no Rio de Janeiro em começo da década de 1980, onde continuou a produzir suas inspirações influenciadas pela sua origem amazônica.

“Olho de Boto” não é sua primeira música gravada por Nilson Chaves mas é a que melhor expressa o seu amor por Belém.

Sua ligação com a cidade e com seu aspecto insular o mantém, de certa forma, preso a essa realidade ribeirinha.

Cristovam Araújo acaba de se aposentar e pretende, cada vez mais, se reaproximar do movimento cultural de Belém do Pará, seu torrão natal.

Revejam a letra de Olho de Boto:

“E tu ficaste serena
Nas entrelinhas do sonho
Nos escaninhos do riso
Olhando pra nós, escondida
Com os teus olhos de rio

Vieste feito um gaiola
Engravidado de redes
Aportando nos trapiches
Do dia-a-dia e memória

E ficaste defendida
Com todas as tuas letras
Entre cartas e surpresas
Recírio, chuva e tristeza

Vês o peso da tua falta
Nas velas e barcos parados,
Encalhados nas lembranças
De Val-de-Cans ao Guamá.

Porto do Sal, das saudades,
Das velhas palhas trançadas
Na rede de outras ruas,
Às margens de outra cidade.

Olho de Boto
No fundo dos olhos
De toda paisagem.

***.

"Amor"

Clarice Lispector
"Amor", conto incluído em Laços de Família:
"O vento batendo nas cortinas que ela mesmo cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício (...)
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Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções (...) Saía então para fazer compras (...) Quando voltasse era o fim de tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos (...)
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Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera (...) Ana subia no bonde (...) Foi então que olhou para o homem parado no ponto. (...) Era um cego. (...) Como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o (...) O mal estava feito. Por quê ? teria esquecido de que havia cegos ? A piedade a sufocava (...) Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas na rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão - e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir.
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Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram (...) Um cego (...) Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida (...) Enfim pôde localizar-se. (...) Atravessou os portões do Jardim Botânico. (...)
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E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada.(...) Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel.(...) No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos. (...)
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Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta (...).
A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele (...)
A decomposição era profunda, perfumada.
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Poesia em Tela


Lívia Rodrigues

Foto de Carla Cabral Entre luzes e folguedos, a sutileza de Lívia Rodrigues, com pose categórica de um relicário, fez seu próprio artigo de luxo. A interpretação afinada de um sabiá, encantou aos ouvidos da platéia nas noites de 24 e 25 deste mês, no teatro Margarida Schivasappa. Literalmente surpreendente!

(*Luana Campos)

Maiakóvski


...Entrega a meu coração
a festa de teu corpo!...

Não importa
se, por ora,
em vez do luxo de um vestido parisiense
visto-te apenas com a fumaça de meu cigarro.

(Maiakóvski)

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O Que Vem Do Norte >> Marcos Quinan


Falar da Amazônia agora virou moda e acendeu novas cobiças, todo mundo fala da floresta, das águas, de preservação, falam dos seus habitantes sem saber direito quem são. Gente que não conhece falando como se conhecesse, gente que pensa que conhece falando como se fosse especialista. Tem os que vêm espiar e só espiam o que lhes interessa, os dissimulados que estão até inventando práticas culturais para comunidades e aproveitam também para estimular atos ilícitos em outras, migrantes e desmisturadas. Têm os que daqui saem para se intitular, atrás apenas de um naco de poder, qualquer que seja. E os que aqui chegam parecendo o que não são e procurando a mesma coisa.


Falam da Amazônia e não querem permitir que ela aprenda a conviver com suas desigualdades, com suas possibilidades, com a busca de sua vocação.


Ele também fala da Amazônia com sua obra, no tamanho que é e, por isso mesmo, muito maior do que quer ser. Paraense de Belém, torcedor do Fluminense e do Clube do Remo, está na história da vida cultural de sua terra desde muito cedo, seja no teatro misturado à dança e a música ou em dezenas de atividades culturais da juventude dessa época.


Anos de Rio de Janeiro, de muitos amigos, saraus, encontros importantes e amorosos com gente da música e do teatro, anos de muita experiência e trabalho, de participação em projetos e idéias. Algumas vieram dar nova vida à produção fonográfica brasileira como o primeiro disco independente feito no Brasil, outras lhe mostraram com clareza o que já acreditava e trazia dentro de si.


Na memória da maioria dos festivais de música realizados pelo Brasil, um dos grandes ganhadores de todos os tempos. Neles deixou sua marca de companheirismo e reconheceu amigos para a vida toda.


Um aglutinador de sonhos e relações, em qualquer lugar que vá, defendendo sua arte, com a intuição de quem sabe fazer, vai plantando suas canções e colhendo parceiros com o pensamento impecável de coletividade, de generosidade.


Nunca distante demais de sua terra, presente sempre em cada canto, em todas as convivências e por isso mesmo fortalecendo a cada dia a consciência do artista completo que é. Assim que participa de cada momento de nossa demorada e difícil evolução cultural entre companheiros de movimentos, em ações culturais, empreendimentos voltados para a comunidade artística, principalmente da música. Sempre no sentido de reunir, de fazer mais, de fazer melhor.


Cantador e compositor considerado um dos maiores da Amazônia, tanto no aspecto artístico como na contribuição, divulgação e preservação da cultura amazônica e brasileira. Interligando, com a música, o universo de suas raízes, juntando idéias e fazeres com novos e velhos companheiros, no caminho natural de ir expandindo fronteiras.


Durante sua carreira sempre cantou sua terra. Sonhando, fez sonhar e revelou parceiros, compositores, artistas, músicos e pessoas. Sua obra esta na memória do tempo, do Brasil, da região Amazônica e percorre por entre a floresta e os rios os caminhos da solidariedade que sua generosidade estabeleceu viajar.


Sua obra é recomendada para quem quer falar da Amazônia ou se vestir da palavra fraternidade.


Com orgulho de companheiro, parceiro, amigo, irmão e brasileiro.


À Benção Nilson Chaves.

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CD'S, Livros...














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terça-feira, 28 de outubro de 2008

"Ser da Globo"

Quando eles eram assim...



* Em 1976: a maioria do elenco ganhava por volta de 15.000 cruzeiros; Lima Duarte, com maior projeção, recebia 50.000, mas só as verdadeiras superstars - Francisco Cuoco, Regina Duarte, Glória Menezes, Tarcísio Meira - tinham ordenados superiores a 100.000 cruzeiros.

* "Ser da Globo" é tão difícil como ganhar na loteria, mas a maioria dos atores brasileiros preza e abençoa este mercado de trabalho.

* Do autor ao eletricista, do astro ao extra, cerca de mil pessoas participam da feitura diária dos capítulos de novelas, na mais hollywoodiana das criações da Globo:a cidade cinematográfica.

* Poucos atores conseguem chegar ao Olimpo global, com salários altíssimos.

* Aparecer na Globo também rende convites para fazer comerciais, atuar em filmes ou peças, e até comandar bailes de debutantes nas cidades do Brasil.

* Na foto: astros da Tv brasileira.Muitos continuam estrelas da Globo.

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Instruções de Machado de Assis aos usuários do bonde



Machado de Assis:"Ocorreu-me compôr umas certas regras para uso dos que frequentam os bonds.O desenvolvimento que tem tido entre nós este meio de locomoção, essencialmente democrático, exige que elle não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extractos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos."

Da leitura dos jornaes.
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Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas do vizinho, nem levar-lhes os chapéos; também não é bonito encostal-o no passageiro da frente.
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Dos Quebra-Queixos.
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É permittido o uso de quebra-queixos em duas circumstancias:-a primeira quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.
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Da passagem Às Senhoras.
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Quando alguma senhora entrar, deve o passageiro da ponta levantar-se e dar passagem, não só porque é incommodo para elle ficar sentado, apertando as pernas, como porque é uma grande má criação.
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Da Posição das Pernas.
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As pernas devem trazer-se de modo que não constrajam os passageiros do mesmo banco.Não se prohibem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazel-os occupar por meninas pobres ou viuvas desvalidas mediante uma pequena gratificação.
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Das conversas
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Quando duas pessoas, sentadas a distancia, quizerem dizer alguma cousa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras, e, em todo o caso, sem alusões maliciosas, principalmente se houver senhoras.
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Do pagamento
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Quando passageiro estiver ao pé de um conhecido, e , ao vir o conductor receber as passagens, notar que o conhecido procura o dinheiro com certa vagareza ou difficuldade, deve immediatamente pagar por elle: é evidente que, se elle quizesse pagar, teria tirado o dinheiro depressa.
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(Hoje > Machado de Assis > escreveria uma bíblia para os que frequentam os ônibus...)
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O poeta da Revolução



MAIAKOVSKI - O Poeta da Revolução
Aleksandr Mikhailov
Editora Record, tradução de Zoia Prestes, 560 páginas, R$68

MAIAKOVSKI!
Elias Ribeiro Pinto

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Os versos do poeta Vladimir Vladimirovitch Maiakovski (1893-1930) alopraram os meus 18, 19, 20 anos de idade. Descobri-o naquela edição de 1967 (pela Tempo Brasileiro?), em tradução dos irmãos Campos mais Boris Schnaiderman. Um amigo, a quem emprestei o volume, me fez o favor de encaderná-lo em sólida armadura (quando emprestar, afinal, vale o risco), apta a enfrentar as quebradas nas quais, de improviso, eu armava meu palanque poético e encarnava a persona do “férvido cantor”. Assim blindado, o livro freqüentou incontáveis, concorridas e encardidas mesas de botequins, cumprindo o lemalambique do poeta russo: “Há um velho sistema:/ Vamos encher a cara!/ Afogar/ as penas/ no vinho”.
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Depois saiu uma outra edição, revista e ampliada, acho que pela Perspectiva. Esta, sem blindagem para poupá-la, viu-se vítima de meus arroubos declamatórios. Explico. Em ancestral noite etílica, a cavaleiro do sobrado onde morava, na Pedreira, o pátio aberto às estrelas, eu declamava Maiakovski aos camaradas circunstantes – e só quem já recitou o bardo, “a plenos pulmões”, sabe da força febril de seus versos, não fora o poeta um eloqüente tribuno dos próprios poemas.
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Pois bem. Ao fim da rajada versejante, e aproveitando o silêncio que se seguiu, gratinado pelas palavras em brasa que eu dardejara, ainda suspenso no parapeito, dali lancei, com ímpeto revolucionário, o livro ao chão, o choque libertando, como no espocar do champanhe, além da capa do volume, jorros de metáforas, paronomásias e ritmos coriscantes, iluminando a noite e ofuscando os que vertem “versos feito regador”, e aqueles que os babam, bonifrates encapelados. Maiakovski, suponho, não reprovaria meu gesto olímpico de atirar seu livro à noite. Pediria mais vodca e balalaica.
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Outra aventura maiakovskiana foi no campus da UFPA. Fazia Ciência Política III com o mestre Amílcar Tupiassu. Um dia, entediado do sociologuês – não do professor, que era cativante e boa praça –, entro na sala com uma garrafa de uísque, Dimple, e sob o sovaco o inevitável Vladimir Vladimirovitch. Peço licença, ofereço uma dose ao mestre, com carinho. Fleumático, adepto do fair play, Tupiassu recusa. Comunico então, em caráter extraordinário, que Marx cederá lugar à poesia. Convido Tupiassu a ocupar lugar de honra entre os alunos e escalo a mesa professoral, agora púlpito poemático: “Professor,/ jogue fora/ as lentes-bicicleta!/ A mim cabe falar/ de mim/ de minha era”.
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Finda a récita poética, à porta da sala de aula acotovelava-se súbita platéia, que antes, em estado de pastoreio, ruminava nos corredores.
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Pensei até em fundar uma “Companhia de Desmanche de Aulas”. O interessado dirigir-se-ia ao competente encarregado, combinando hora e local da aula a ser interrompida. Em seguida, ao suplicante seria apresentado o nosso catálogo de poemas, a fim de atender possíveis preferências, com as opções indo de Castro Alves a Bertolt Brecht, passando por Drummond, Fernando Pessoa, Walt Whitman e Allan Ginsberg, sem esquecer, é claro, Maiakovski.
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À vera, universitário, cheguei a formar uma companhia mambembe de oradores e/ou declamadores, que saía em grupo, devidamente supridos de poemas que eu distribuía momentos antes.
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Numa ocasião, pelo menos dois pavilhões do campus foram tomados de assalto pelos brancaleones do verso. Tiveram que convocar a segurança universitária para pôr fim ao movimento insurrecto da rima unida jamais será vencida.
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Mas sim, voltando a Maiakovski, glorificado e xingado, colocado e retirado do pedestal, líder da vanguarda poética do cubo-futurismo russo, ele foi, acima de (ou abaixo de) tudo, o poeta que flertou incansavelmente com o suicídio em seus versos-vértebras, até consumar-se, in totum, suicida.
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Lembro do poema “A Serguei Iessiênin”, em que Maiakovski condena a babugem sentimentalóide e desnuda a posição hipócrita da crítica quando do suicídio de Iessiênin em 1925, cinco anos antes de o próprio Maiakovski cometer o gesto que condenara, em verso, no amigo.
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Lembro também – e só posso lembrar, pois, como vocês sabem, não encontro, nesse bárbaro matagal de livros, nenhum de que, urgente, preciso, e já nem me dou ao desperdício de procurá-lo – de outro poema, “Lílitchka!”, uma das mais belas peças líricas do espólio poético mundial, em que revém a letomania do autor: “E não me lançarei no abismo,/ e não beberei veneno,/ e não poderei apertar na têmpora o gatilho”.
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Evidente que esta série de negações pressupõe o desejo suicida, como a pedir, implorar à amada: “Não o consintas,/ meu amor,/ meu bem”. Coincidência. Enquanto vou citando “Lílitchka!”, da janela do vizinho desce o som de Tim Maia: “Não quero dinheiro, quero amor sincero, isso é o que eu mais quero...”.
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E vamos aproveitar enquanto o poema de Maiakovski vem-me, fresco, à memória: “Se ela assim torturasse um poeta,/ ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,/ mas a mim/ nenhum som me importa/ afora o som do teu nome que eu adoro”. E não resisto, melhor que não resista ao caboco maiakovskiano que agora baixa em mim: “De qualquer forma/ o meu amor/ – duro fardo por certo –/ pesará sobre ti/ onde quer que te encontres”.
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Quanto ao “e não poderei apertar na têmpora o gatilho”, Maiakovski apenas mudou de alvo. Em vez da cabeça, disparou um balaço no peito. Acossado pela recorrente idéia do suicídio, Maiakovski, nos seus versos, sempre mirou o futuro, dialogou com o porvir. “Ressuscita-me, quero acabar de viver o que me cabe!”. Com o suicídio, o poeta acertou as contas com a vida, mas deixou o futuro de sua obra em aberto.
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Bem, confesso, admito, já não tenho paciência didática para fazer um apanhado biográfico de Maiakovski, acompanhado de palavras que possam situá-lo no tempo em que viveu, levando o leitor para mais perto de sua obra. Ora, mas por isso mesmo estou escrevendo este texto. Quem se interessar, há uma boa biografia do poeta recentemente chegada ao Brasil.
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Trata-se de Maiakovski – O Poeta da Revolução. Seu autor, o também poeta Aleksandr Mikhailov, revela as contradições e paradoxos desse ícone de toda uma geração. Um dos maiores poetas da Rússia, Maiakovski pôs fim à própria vida aos 37 anos de idade. O biógrafo narra a vida desta personalidade polêmica e aponta os motivos por trás de suas ações. Mobilizado e aclamado pela revolução soviética, Maiakovski carregava em si as marcas da experiência social iniciada em 1917.
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Maiakovski deixou uma biografia tão impressionante quanto sua obra. Uma vida marcada por algo de passional, de heróico, de trágico.
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Espírito romântico, ele é um personagem de si próprio. Esse homem de quase dois metros de altura, em algumas fotos de grande beleza física, em outras de uma rudeza campesina, é revelado aqui em seus paradoxos e contradições.
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As lutas estéticas e ideológicas. A riqueza metafórica e rítmica de sua poesia. Sua maestria no uso das hipérboles, seu humor cáustico, seu virtuosismo no jogo das palavras.

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Mikhailov explora essas nuances, as contradições que dilaceravam sua alma, as discussões e discordâncias ressonantes ainda hoje.


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Gabeira


Fernando Gabeira:- a lembrança da tanga não ganha a Prefeitura do Rio de Janeiro...
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Frases:
* "Na praia, mesmo que que não queiram, as pessoas têm um corpo. Ninguém pode fingir
que é puro espírito quando está seminu."
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* "Eu não tenho vergonha de ser bonito."
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Eleições 2008

As eleições de 2008 trazem novidades e alterações importantes em relação a eleições anteriores.Foram 594 as ocupações/profissões declaradas nestas eleições pelos candidatos a vereador, vice-prefeito e prefeito.
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O número de concorrentes analfabetos diminuiu para 284, enquanto que os parlamentares candidatos tiveram queda de desempenho importante, mostrando que o quadro se altera a cada pleito.
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Isso demonsta que as exigências crescem e a necessidade de trabalhar mais e apresentar propostas mais condizentes com o cotidiano do cidadão é uma premissa que não deve ser esquecida e sim valorizada.
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Para os amantes > que enlaçam as dores do século...

... Trabalho junto à luz da cama
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
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Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
.
Mas para os amantes, seus braços
que enlaçam as dores do séculos,
.
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.

(Poeta Dylan Thomas)

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Fotografia

"Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração" dizia Henri Cartier-Bresson, um dos maiores fotojornalistas do mundo, que ao lado de Robert Capa, David ´Chim´ Seymour, e George Rodger fundou em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, a agência fotográfica Magnum, a mais mítica e famosa da história. O grupo explorou uma dimensão humanística da imagem e fez uma revolução de linguagem e de procedimentos.

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Ursula Vidal no Boteco do Elias Pinto


Clik sobre o texto >> Vc vai vê-lo ampliado.

domingo, 26 de outubro de 2008

Poeta Antonio Juraci Siqueira - uma página de rios...


Boto 60

(Poeta Antonio Juraci Siqueira)


Eu venho de um mundo
que tu não conheces:
do onde, do quando,
do nunca, talvez.....
.
Eu venho de um rio
perdido em teus sonhos,
um rio sondável
que corre em silêncio
entre o ser e o não ser.
.
Eu venho de um tempo
que os homens não medem,
nenhum calendário
registra os meus dias.
.
Sou filho das ondas
que geme na praia,
sou feito de sombras
de luz e luar
e trago em meu rosto
.
mandinga e mistério
e guardo em meus olhos
funduras de rio.
.
Cuidado, cabocla!
Cuidado comigo
que eu sou sempre tudo
o que anseias que eu seja:
- teus ais, teus segredos,
tua febre, teu cio...
.
Se em noites de lua
sentires insônia
e a fome de sexo
queimar as tuas entranhas,
a sede de beijos
tua boca secar
e em brasa o teu corpo
meu corpo exigir,
contigo estarei
na rede do encanto
cativo nas malhas
da teia do amor.
.
E quando os teus olhos
fitarem meus olhos,
e quando os meus lábios
teus lábios tocarem,
e quando os meus braços
laçarem o teu corpo,
e quando o meu ser
em teu ser penetrar,
só então saberás
quem sou e a que vim.
.
E assim que a semente
do amor, do desejo,
vingar no teu ventre
gerando outro ser,
não mais estarei
contigo. Somente
a minha lembrança
permanecerá
boiando nas águas
barrentas, confusas,
de tua memória
cansada, febril...
.
- Foi sonho ? - Foi fato ?
Ninguém saberá!...
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sábado, 25 de outubro de 2008

Ilha do Mosqueiro- 2008

Uma ilha chamada Mosqueiro:- gerações de bem viver.

À beira-rio, em que se misturam todas as raças da alegria.

Marés de lembranças caboclas.
Praias que transbordam saudades.
Território de férias paraenses.
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"A história de Mosqueiro se confunde com a história da colonização da Amazônia, particularmente do Estado do Pará e de sua capital. É a história de um arquipélago singular, localizado na fantástica foz do rio Amazonas que vem encantando os viajantes durante séculos." (escreve > Eduardo Brandão na Revista Ilhas Amazônicas)
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A origem do nome "Mosqueiro"
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*A influência da cultura tupinambá deixou marcas em Mosqueiro, a começar pelo próprio nome. Alguns estudiosos, entre eles Meira Filho, atribuem a um processo de corruptela do termo Moquém ou Moqueio.
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* Nos primeiros séculos de colonização portuguesa, o litoral era responsável pelo abastecimento da cidade de Belém.Os tupinambás submissos, também conhecidos como tapuias eram encarregados desta tarefa.Como não possuíam a cultura do sal e não dispunham de tecnologias como a refrigeração, as praias de Mosqueiro, caminho obrigatório para quem chegava em Belém, foram palco da prática intensiva do moqueio.
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* Os colonizadores não conheciam o termo Moqueio, mas conheciam Mosqueiro, nome dado a algumas localidades de Portugal e Espanha, logo concluíram era a ponta dos Moqueios, a ponta da Musqueira, a ponta do Mosqueiro.
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* A ponta do bem viver.







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Chapéu Tirado para o Chapéu Virado -Lembranças de Francisco Simões


Mário de Andrade em Chapéu Virado (Mosqueiro-Belém do Pará), 1927.
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Na crônica do sábado passado, neste mesmo coojornal, falei de algumas das minhas recordações de infância e juventude, anos 40 e 50, passadas na Ilha do Mosqueiro, no Pará, mais especificamente na praia do Chapéu Virado. Abri o meu coração e mergulhei nas minhas lembranças agradáveis daqueles tempos.
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Estou acostumado a receber comentários sobre os meus textos, o que muito me envaidece e estimula. Não deixo de responder a ninguém que, me lendo, ainda me concede a honra de opinar sobre o nosso modesto mas autêntico trabalho. Desta feita o material que recebi motivou-me a voltar ao assunto, porém enfocando o que alguns disseram de bom e de ruim, é verdade, sobre a atual realidade daquela Ilha.
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Meu bom amigo, ex colega de BB, professor da maior competência, o bom João André que nasceu em Belém mas viveu grande parte de sua infância e juventude em Manaus (AM) disse: “Sua crônica sobre a Praia do Chapéu Virado me emocionou, porque além de transmitir com maestria um sentimento ainda tão presente em mim, embora vivido há tantos anos, me lembra que visitei Mosqueiro pela primeira vez, nas primeiras férias no BB, ano de 1959, quando fui conhecer minha terra, Belém, onde nasci e de lá saí para Manaus com poucos meses de vida”.
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Muito bom quando tocamos a emoção das pessoas, mas melhor ainda quando nossas recordações reavivam as de outrem que igualmente as viveu, no mesmo lugar, e poucos anos depois de mim. Afinal, dizem que recordar é viver. Eu concordo. Agradeci ao André como o faço a todos que me escrevem, pois não deixo ninguém sem uma palavra de retorno, por respeito e por agradecimento, sempre.
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Outro bom amigo, também colega aposentado do BB, o Orlando Barcelos, que não é paraense, comentou: “Amigo Simões, coisa mais linda suas reminiscências na praia do Chapéu Virado. Imagino que os benefícios do passeio já começavam na travessia de 2 horas na tal embarcação. Acho maravilhoso, em dia ensolarado, atravessar a Baía de Guanabara, lentamente, na antiga Barca, mas que dura apenas 20 minutos, imagine só em duas horas. ´É mesmo reconfortante, muito saudável.”
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Desculpem, mas me envaidece sim ter o trabalho reconhecido, especialmente quando o que escrevemos alcança os sentimentos de quem lê. Acredito que outros sintam a mesma coisa. É reconfortante e nos estimula, mesmo aos 70, a dar sempre o melhor de nós. A cada texto que escrevo é uma espécie de recomeçar permanente. Como que rejuvenesce a gente.
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Minha irmã Maria Luiza, que vive em Belém e esteve na Ilha do Mosqueiro na semana passada, entre outros comentários confirmou o que eu já temia, ou tinha quase certeza, afinal o homem é predador por natureza, etc e tal. Disse ela a certa altura: “Acabo de ler a sua crônica sobre o Chapéu Virado e realmente, mano, a paz acabou na Ilha do Mosqueiro. Do Hotel do Russo só existe o prédio que há algum tempo foi transformado em pousada, embaixo um supermercado, mas nem isso existe mais.”
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Adiante ela me falou das melhorias, ou melhor, da modernização porque passou toda a Ilha. Sei que ela não escaparia ao avanço natural do... progresso. Não sou contra ele, mas deploro o homem não conseguir, especialmente no Brasil, modernizar sem aniquilar o que de bom, o que de herança de um passado, de história, mereceria ser olhado com respeito e sensibilidade antes de apenas simplesmente destruir.
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O amigo e excelente poeta paraense, Alberto Cohen, dos mais assíduos no me transmitir sua opinião sincera, leal, sempre que lanço crônica nova, acabou por confirmar, com outras palavras, as minhas desconfianças sobre como estaria hoje aquilo que já fora um paraíso, na minha infância e adolescência. A certa altura disse:
“Amigo Simões, suas saudades do Mosqueiro são recompensadas pelas belas lembranças de um lugar que já foi melhor. Hoje proliferam as invasões, sob o beneplácito dos que deveriam ser os fiscais da ordem pública. Continue com suas belas recordações de um Mosqueiro que já foi mais belo, meu amigo.”
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Percebe-se que o silêncio, assim como o clima romântico, poético, de outros tempos, devem ter sido devidamente expurgados com a modernização geral da Ilha. Mas, que fazer se assim são esses seres humanos ditos racionais? Pois é.
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Ilha do Mosqueiro
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Um enfoque diferente deu a minha querida amiga Kathleen ML, paulista, poeta da melhor qualidade, pessoa de uma larga cultura geral, ao ler o meu texto. Vejam como ela descreveu seus sentimentos despertos pelas minhas recordações naquela crônica:
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“Amigo Simões, amei as lembranças do Chapéu Virado, na baía de Marajó, penso. Até caminhei naquelas areias, metaforicamente, e me vi menina correndo pra lá e pra cá, não sabendo nadar, mas me oferecendo às ondas, agarrando as mangas-rosa, brincando de esconde-esconde com um menino, parecido talvez com você , menino tb da areia.”
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“Na realidade o cenário era São Vicente, na orla do outro lado da cidade, junto à Ponte Pênsil: a Praia das Vacas, onde se faziam piqueniques (alguém ainda faz?), um recorte de areia onde quase ninguém ia, com árvores de pitanga misturadas com a vegetação selvagem. Os homens, que eram meu pai e meu avô, subiam numa ponta de pedras para pescar. A paisagem era de mar, mas o espírito tinha algo de pastoril, de bucólico. Até porque, outrora, nos anos 20 e 30, havia lá uma pequena fazenda marítima, e as vacas passeavam na areia! (risos)”
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Não bastasse esta delícia de comentário de Kathleen, uma de minhas poetas preferidas, com certeza, ela ainda teve o zelo de pesquisar e me enviar algumas fotos antigas da praia do Chapéu Virado. Mais emocionante foi receber dela este presente que acompanha também esta crônica: a foto, na mesma praia, feita no ano de 1927, na qual vê-se, em primeiro plano, o grande e saudoso mestre... Mário de Andrade. Meu Deus, eu não mereço, isto é uma relíquia. Obrigado Kathleen, você não existe.

Frases do cronista e poeta Rubem Braga


Rubem Braga:"Era tão econômico ao falar quanto ao escrever, e era econômico também para rir.Estimativas otimistas calculam que Rubem não deve ter dado mais que meia dúzia de gargalhadas em toda a sua vida. Se lhe diziam uma coisa engraçada, também não ria explicitamente.Mas sabia-se que achava graça porque havia algo em seu rosto que o traía: a expressão dos olhos." ( Ruy Castro)
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3 frases de Rubem Braga:
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* Crônica é viver em voz alta.
* Peixe e hóspede, depois de 3 dias, fedem.
* Ultimamente tem passado muitos anos.
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Essas Meninas

As alegres meninas que passam na rua, com suas pastas escolares, às vezes com os seus namorados. As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas; essas coisas sem importância.
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O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado, riem sem motivo; riem.
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Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar das coisas sem importância.Faltava uma delas. O jornal dera notícia do crime. O corpo da menina encontrada naquelas condições, em lugar ermo.A selvageria de um tempo que não deixa mais rir.
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As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se adultas de uma hora para outra; essas mulheres.
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***Carlos Drummond de Andrade, em Contos Plausíveis ( José Olympio, 1985)


Aíla Magalhães & Adilson Alcântara


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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Alma Feminina > Carmen Palheta


ALMA FEMININA I

Com as devidas reservas, independente de raça ou língua, alma feminina é sempre um universo de expectativas muito semelhantes quando o foco é a alma masculina.

ALMA FEMININA II
Dor de amor: em português ou espanhol, a busca eterna que não se abstém de dores e contentamentos que esta possa outorgar-lhes.

ALMA FEMININA III
Constatação após várias reuniões de “nenas” no mundo portenho.


TEMPO VADIO

Acorda, que a noite já nasceu
E se inicia o tempo das horas vadias
a rimar sonhos,
álcool
fantasias
A unir orgias e preces
em melodias...

Acorda! Pois já desponta a lua no outubro do céu
e apronta novo cenário
pra outro dia - uma cria sonâmbula pós pôr-da-lua –
Luta ingrata do tempo senil
E necessária do por vir...

Acorda, que a noite já nasceu
E como Orfeu
te entregas
a mais um alado sonho nos braços meus.

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A Suavidade de Lívia Rodrigues > No Samba


Hoje, o teatro Margarida Schivasappa é o endereço da delicadeza musical.
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À noite (20:30hs), Lívia é "Artigo de Luxo". Mais exatamente, a voz suave para cantar Cartola,
Paulinho da Viola, Zé Ketti, Paulo César Pinheiro, entre outros.
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Música para voar no macio da sua voz.
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Na opinião deste blog, Lívia é o grande talento de uma turma de boas cantoras surgidas em Belém.
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Já estreou nos palcos mostrando a sua devoção pelo samba, num repertório que misturava clássicos do ritmo ao choro, gênero de difícil interpretação a começar pelas poucas músicas letradas.A bossa nova e o jazz, além de ritmos nordestinos como o côco e o baião são outras influências da cantora.
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Ela é uma estrela!
E o que a torna maravilhosa é o fato de que parece
fácil ser uma mulher simples e uma cantora escandalosa em ternuras.
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Clarice Lispector



UMA IRA
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- "Esta" - se disse o homem ajoelhado como antes de ir para a guerra - "esta é a minha prece de possesso. Estou conhecendo o inferno da paixão. Não sei que nome dar ao que me toma, ou ao que estou com voracidade tomando, senão o de paixão.
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O que é isso que é tão violento que me faz pedir clemência a mim mesmo? É a vontade de destruir, como se para este momento de destruir eu tivesse nascido. Momento que virá ou não, a minha escolha depende de eu poder ou não me ouvir. Deus ouve, mas eu me ouvirei? A força da destruição ainda se contém um instante em mim.
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Não posso destruir ninguém ou nada, pois a piedade me é tão forte como a ira; então eu quero destruir a mim, que sou fonte dessa paixão. Não quero pedir a Deus que me aplaque, amo tanto a Deus que tenho medo de tocar nele com meu pedido, meu pedido queima, minha própria prece é perigosa de tão ardente, e poderia destruir em mim a imagem de Deus, que ainda quero salvar em mim.

____________________LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
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O Jazz Festival deixou saudades...
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Do baú do Poeta Marcos Quinan

Não é um grupo musical e sim um grupo de artistas dos mais representativos na música que se faz aqui.
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Foto tirada na década de 80, durante um movimento cultural que se chamou AÇAÍ por um fotógrafo não identificado.

> Da esquerda para a direita:
Mário Moraes, cantor e compositor
Marco André, cantor e compositor com carreira nacional
Albinha, cantora e compositora (irmã do Chico Sena)
Almirzinho Gabriel, cantor e compositor
Tony Soares, cantor e compositor (já foi um dos integrantes do Arraial do Pavulagem)
Eduardo Dias, cantor e compositor
Gilberto Ichirrara, cantor e compositor (exelente compositor que se mudou daqui no fim dos anos 80 ou começo dos anos 90)
Walter Freitas, cantor, compositor, instrumentista, dramaturgo, escritor, jornalista etc...
Ronaldo Silva, cantor e compositor (integrante e um dos idealizadores do Arraial do Pavulagem)

Um grande abraço.Quinan

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Arquivo > do jornalista José Carneiro


Em cena o prefeito Isaac Soares


Outra foto digna de registro, do fundo do baú. Mostra o então vice-prefeito de Belém Isaac Soares, no exercício do cargo, despachando no gabinete oficial. Em pé, ao lado, estão os repórteres Lauro Sabbá e Carlos Rocque.
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Era o inicio da década de 1960. Isaac foi eleito vice prefeito na chapa encabeçada pelo general Moura Carvalho mas não completou o mandato. A ascensão política de Isaac Soares foi ceifada pelo golpe militar de 1964, que cassou praticamente toda a cúpula do PSD, partido que estava no poder no Pará.
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O galante e educado Isaac Soares já era considerado um dos solteirões mais cobiçados de Belém, como diziam as colunas sociais. Ele próprio, tendo sido alijado da política, enveredou pelo colunismo social, cuja coluna ainda hoje é publicada.
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Praticamente aposentado de suas lides profissionais, o bonachão Isaac Soares continuou solteiro, resistindo a todos os assédios que por algum tempo marcaram a vida social do “tigrão”, como ele era carinhosamente chamado por suas fãs.
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Nneka

Nneka

Atenção!: esta voz promete conquistar o mundo.

Nneka Egbuna nasceu na cidade petrolífera de Warri, na Nigéria. Começou a cantar muito cedo como forma de fugir aos pesadelos de infância.Aos 19 anos se 'assumiu' como cantora e compositora .
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O sangue africano corre em suas veias. Berlim está lhe beijando os pés.
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O hip hop e o soul fazem de Nneka uma cantora especial, cheia de histórias para contar e partilhar. Com uma enorme responsabilidade e consciência social em relação à Nigéria, Nneka não deixa a história do seu país fora da sua música. Bem pelo contrário: diz que o povo Nigeriano é sua inspiração constante.
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O primeiro disco - Victim of Truth - chegou em 2005. Foi considerado pelo Sunday Times no Reino Unido "um disco tão bom quanto o álbum The Miseducation of Lauryn Hill de Lauryn Hill".
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Em 2008, voltou com No Longer At Ease e desta vez, não escapou aos ouvidos mais atentos: elogios não têm lhe faltado e 'Heartbeat' - o single de apresentação, é sucesso.
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De resto, Nneka diz que adora subir a um palco: grande ou pequeno. Seja para uma multidão em grandes festivais (ao lado de nomes como Sean Paul e Gnarls Barkley) ou simplesmente nas ruas de Londres.
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Vive atualmente na Alemanha.
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Dizem que é a rainha do soul... tire as suas próprias conclusões ouvindo-a aqui:
http://www.orkut.com.br/Main#FavoriteVideoView.aspx?uid=1898117550096382099&ad=1222230674


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