Aqui,
olhar para cima é ver nos arabescos dos ladrilhos alguns corações azuis retalhados de uma saudade indecifrável, redesenhados feito fênix, partidos de identidade. É ver nos fungos das paredes o retrato de algum rosto bárbaro e bem-amado. É enxergar nas esquinas uma cor de fruta ou de ave. É ter nas pontas dos pincéis o ocre que se esconde nas fibras do cupuaçu, e sobre a tela o cheiro desenhado que é mistura de gozo e pele morena queimada de sol.
olhar para cima é ver nos arabescos dos ladrilhos alguns corações azuis retalhados de uma saudade indecifrável, redesenhados feito fênix, partidos de identidade. É ver nos fungos das paredes o retrato de algum rosto bárbaro e bem-amado. É enxergar nas esquinas uma cor de fruta ou de ave. É ter nas pontas dos pincéis o ocre que se esconde nas fibras do cupuaçu, e sobre a tela o cheiro desenhado que é mistura de gozo e pele morena queimada de sol.
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Aqui,
a chuva também queima. Quando a gente se reconhece preso nos pingos, como que cercado por uma grade invisível feita d’água, nos queimamos. E então a chuva é ferro, ácido ou fogo. Queima, paralisa, mas na cicatriz desperta ternura. “Coitada! Ela pegou chuva!”, apenas sobram as balas de água perdidas nas roupas, a vontade das lágrimas por se ter reconhecido inofensivo e algum prazer esquisito como o frio que silencia. O ciclo trafega até que se dissipe nas esquinas a vez da plúmbea cor de nuvem que ameaça.
Aqui,
a chuva também queima. Quando a gente se reconhece preso nos pingos, como que cercado por uma grade invisível feita d’água, nos queimamos. E então a chuva é ferro, ácido ou fogo. Queima, paralisa, mas na cicatriz desperta ternura. “Coitada! Ela pegou chuva!”, apenas sobram as balas de água perdidas nas roupas, a vontade das lágrimas por se ter reconhecido inofensivo e algum prazer esquisito como o frio que silencia. O ciclo trafega até que se dissipe nas esquinas a vez da plúmbea cor de nuvem que ameaça.
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Aqui,
há oculta a correnteza. No mênstruo das mulheres que valem o peso dos corações de três ou quatro homens. No crespo dos cabelos. Nos olhos pedintes como duas castanhas doces boiando na bainha da Baía. Nas navalhas que tecem pés nas nucas. Nos contratos tácitos de amor e devoção.
Aqui,
há oculta a correnteza. No mênstruo das mulheres que valem o peso dos corações de três ou quatro homens. No crespo dos cabelos. Nos olhos pedintes como duas castanhas doces boiando na bainha da Baía. Nas navalhas que tecem pés nas nucas. Nos contratos tácitos de amor e devoção.
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Aqui...
Há a Belém que se desenha por dentro e nos vai devorando...
Até surgir em nós a face do que é nosso.
E mesmo que se negue, tudo é evidente.
Mesmo que lateje, não sangramos
Pois há a água do ar para limpar todas as feridas.
Aqui...
Há a Belém que se desenha por dentro e nos vai devorando...
Até surgir em nós a face do que é nosso.
E mesmo que se negue, tudo é evidente.
Mesmo que lateje, não sangramos
Pois há a água do ar para limpar todas as feridas.
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(Texto de Digliane Melo Almeida)
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2 comentários:
Caro Poeta, olá!
Quando passo entre as paredes azulejadas das vielas paraenses sinto a sua história contada ali aos meus olhos e me encontro com personagens e lembranças das aulas de Hist´ria desta terra que tanto amo.
Emoções revividas aqui nas fotos e no artigo.
Um terno abraço amazônico
Texto poético com voz feminina.Muito bonito.
Téo
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