quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Márcia Yamada : na medida certa o direito à felicidade



Márcia Yamada

A receita podia até ter desandado, mas saiu tudo na medida certa: uma generosa porção de Sol Nascente, mais a combinação perfeita da língua de Luís de Camões com a noite profunda e lendária dos índios. Paraense por completo, brasileira de corpo inteiro, assim é Márcia Yamada: filha, irmã, mãe, mulher, amiga.


Está lá no seu DNA, à vista de quem quiser ver: seu nome, brasão de sucesso, é marca paraense que qualquer papa-chibé reconhece onde quer que esteja. Não precisava dizer, mas digamos de uma vez: Márcia é gente boa.

Que gosta de Tom Jobim, Chico Buarque, Djavan, Gil. Afinadíssima com a sua gente, também acompanha o som da terrinha: Pedrinho Cavalléro, Pardal, Kzan, Adalbert, Paulinho Assunção, Nilson Chaves, Vital Lima. E faz coro com Walter Bandeira, Lucinnha, Andréa Pinheiro, Lívia Rodrigues.


“E gosto de tantos outros”, completa, “que me perdoem não o esquecimento, mas a falta de espaço para citar”.

Ela é choro, da bossa, do samba, “de tudo que é bonito de ouvir e de cantar”.


É irmã lua da poesia, da prosa solar.


E por isso ama e não sabe viver sem a família e os amigos. Mas, e estejam certos disso, ela briga, sim, quando precisa, por tudo que acredita e ama. “E se não for pedir muito”, acrescenta, “quero sempre ser mais e mais feliz.”


Márcia, que a felicidade (e os muitos amigos que lhe querem bem) nunca deixe de bater à sua porta.

***
Ronaldo Franco: A paz é apenas um comercial mundial?

Márcia Yamada: Acho que a paz é um desejo da maioria, mas os desejos, infelizmente, nem sempre se realizam.

RF:Quem vende mais – o vendedor de ideologia ou o balconista de desejos?

Márcia: Um bom vendedor vende de desejos a ideologias, e a história está aí para confirmar o eterno comércio de ideologias. Importante é que o cliente, satisfeito, volte sempre.

RF:O que é uma alma vira-lata?

Márcia: Muita gente que tem essa alma não consegue manter laços verdadeiros de amizade, acostuma-se com restos, retalhos de carinhos e emoções, sem se dar e receber por inteiro.

RF: É possível farejar uma mentira "sincera"?

Márcia: Meu faro é incrivelmente treinado, e, diferente do Cazuza, nenhuma mentira me interessa...

RF: O que você não suporta sob seu nariz?

Márcia: Tudo que não cheira bem: hipocrisia, mentira, falsidade, bajulação, mau-caratismo.

RF:Você diz o que pensa e faz o que gosta?

Márcia: Só digo o que acredito e só faço o que me apetece.

RF:Quem tem medo da verdade?

Márcia: Pessoas que pouco me interessam...

RF: O que lhe deixa de orelha em pé?

Márcia: Música de boa qualidade

RF: Quem é manchete em seus pensamentos?

Márcia: Os protagonistas da minha vida: Hiroshi e Teca, meus pais; Yasmin Akiko, Victor Yoshio e Vicente, meus filhos e marido.

RF: Qual é a primeira página de seu dia?

Márcia : Um beijo do meu marido, sempre.

RF: Qual seria seu destino no seu road movie íntimo?

Márcia: Em qualquer lugar onde, da minha janela, eu pudesse ver o mar, ao lado do meu amor e dos meus filhos.

RF: Quem sobrevive na floresta urbana: o caçador ou a caça?

Márcia: Depende da inteligência e da sorte de ambos.

RF: Gerald Thomas (festejado autor do teatro nacional) disse: "A base de um casamento feliz é o entendimento humorístico". Você concorda?

Márcia: O bom humor é essencial para manter qualquer relacionamento, inclusive o casamento. Mas, para mim, bom humor é diretamente proporcional à inteligência... Por isso não é tão fácil de encontrar.

RF: Quando o amor começa a pifar?

Márcia: Quando falta respeito, confiança e diálogo.

RF: É bom namorar para casar ou casar para namorar?

Márcia: Namorar sempre, como meio ou como fim .

RF: Quem não passa de um retrato 3x4?

Márcia: Que preconceito com o 3x4... Tem pessoas que não são nem isso...




RF: Qual é o endereço da amizade?

Márcia : O meu: - quem cultiva minha amizade terá para sempre um aliado em qualquer situação... Quem me conhece sabe.

RF: A mulher dondoca vive ou já morreu?

Márcia: Vez por outra é bom viver um dia de dondoca, ir ao salão, às compras... Mas, infelizmente, tem gente que ainda faz da dondoquice estilo de vida e até profissão.

RF: Quem é um barco para qualquer mar?

Márcia: Deus, Oxalá, Jesus, Alá, Adonai, ou qualquer outro nome que defina esta força superior, esta energia maior que rege o universo.

RF: Em que momento a gente ri até de gol contra?

Márcia: Quando saímos de uma maré ruim e a correnteza passa a correr a nosso favor.

RF: Quem pode usar microssaia elegantemente?

Márcia: Ninguém. Microssaia é, acima de tudo, desconfortável. E quem é que consegue ser elegante desconfortavelmente?

RF: Os machões gritam: "Há mulheres para namorar e mulheres para casar". Há verdade nessa gritaria?

Márcia: Como se esta decisão partisse só deles . Há pessoas para tudo no mundo, para namorar, ficar, casar e até pra machões – machistas e burros!



RF: O que lhe provocaria um dilúvio de saudade?



Márcia: Os meus sábados de “trabalho” com meu pai, quando, de mãos dadas, passeávamos pelo comércio, com parada obrigatória num boteco na esquina da Manoel Barata com a Frutuoso, para tomar uma abacatada ou um caldo de cana com pastel.



RF: Qual é a melhor paisagem humana em Belém?



Márcia: O Círio de Nazaré.



RF:Onde se pode ver o peso de nossa cultura?



Márcia: Em todos os cantos: basta ter sensibilidade, olhos e ouvidos atentos.




RF: A "Cidade Velha" é apenas uma realidade poética?



Márcia: É falta de empenho político...



RF: Quem morde a mão que o alimentou?



Márcia:Quem nunca merecia ter sido alimentado.



RF: O que lhe parece a empáfia engomada e a seriedade oca?



Márcia:O retrato de algumas pessoas que, sinceramente, prefiro não comentar.




RF: “De mim, basta eu!”, você diria a quem?



Márcia: Para ninguém. Eu, sozinha, não sou ninguém. Preciso de minha família (marido e filhos), de meus pais, meus irmãos e amigos,sempre.




RF: Belém está curada da síndrome de província?



Márcia: Síndrome de província é igual à cidade de muro baixo? Se sim, a resposta é não.



RF: Quem tem o ego maior que o Mangueirão?



Márcia :Alguém que precisa de terapia... Afinal, tudo em excesso tem de ser investigado.



RF:Quando é a hora exata de sair de algum lugar na ponta dos pés?



Márcia: Quando os limites começam a ser ultrapassados.



RF: Em Belém, o que você contempla com a mão no queixo?



Márcia: Nossas águas – dos céus e dos rios.



RF: Responda rápido: o que a empolga?



Márcia: O sorriso e o carinho dos meus filhos!



RF: Quando você consegue zerar o cérebro?



Márcia: Zerar? Nunca! Mas relaxar numa rede em Salinas (fora do zunzunzum de temporada), ahhh...




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