sábado, 14 de março de 2009

Procura da poesia

carlos drummond de andrade * As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia, com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
.
* Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
.
* A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
.
*Não osciles entre o espelho e a memória
em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
.
* Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
.
***

Um comentário:

Sônia Brandão disse...

Drummond bem o dizia. A prática é que são elas.

Abraços.