sexta-feira, 24 de abril de 2009

Afinal, o que é um botequim?


*Afinal, o que é um botequim?
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Muitos de seus personagens são referências de uma época, exemplo de Sig, o rato-símbolo do Pasquim, e a turma dos chopnics, em cumplicidade com Ivan Lessa. Há cartuns que, de tão impagáveis, sobrevivem mesmo sem a parceria do traço, como aquele que mostra Jesus Cristo na cruz dizendo para Maria Madalena: “Hoje não dá, Madalena, estou pregado”.
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Fora da prancheta, Sérgio de Magalhães Jaguaribe, o jornalista, cartunista e cronista Jaguar, foi um dos “culpados” pelo mito de Ipanema – na qualidade de um dos criadores da Banda de Ipanema, para não falar do Pasquim. Jaguar jamais disse “Intelectual não vai à praia, intelectual bebe”, mas a versão da autoria caiu-lhe bem (o verdadeiro autor da frase foi Paulo Francis).

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Com a autoridade de quem já bebeu “o equivalente à lagoa Rodrigo de Freitas”, Jaguar brindou-nos, lá pelo começo do século, com sua “autobiografia”, Confesso Que Bebi: Memórias de um Amnésico Alcoólico, uma espécie de roteiro ébrio-afetivo dos bares do Rio de Janeiro, de casas chiques aos pés-sujos, onde o autor, afinal, passou boa parte de sua vida.
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Mas como bom bebedor não bebe só, o cronista divide a mesa com gente ilustre, todos envelhecidos em barris de carvalho, ou passados nas voltas que dá a serpentina da vida – aliás, pela quantidade de episódios lembrados, o autor se revela um amnésico alcoólico de ótima memória.
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O livro já mostra a que veio desde a dedicatória, que contempla mais de 200 nomes, entre amigos do autor e personagens da história – do compositor Carlos Cachaça, passando por Baudelaire a Edmund Wilson e Bôscoli até desaguar, last but not least, em Jesus Cristo, “que fez a água virar vinho”.
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Os leitores botequineiros devem lembrar que, coisa de cinco ou seis anos atrás, fizemos aqui uma votação para eleger nossos botequins de cabeceira. Pois agora pergunto a vocês, tomando por mote o título de uma das crônicas do Jaguar que reproduzo a seguir: “Afinal, o que é um botequim?”. E ao dizer o que é um botequim, companheiro(a), aproveite para confirmar ou renovar seu voto no seu botequim preferido, aquele que reuniria as qualidades expostas crônica pela crônica do Jaguar, que segue.
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A estagiária de segundo caderno me ligou querendo saber o que, na minha opinião, era um botequim.
Ora – comecei a responder, e embatuquei. Foi aí que me dei conta: nunca tinha refletido sobre essa questão transcendental. Porra, a gente simplesmente vai a um boteco quando está a fim de tomar uma bebidinha, fazer hora, sei lá. Foi o que eu disse para a moça.
Mas, como toda estagiária de segundo caderno, ela foi implacável:
Seguinte: tenho que fechar a matéria ainda hoje. Vai pensando no assunto, daqui a pouco ligo de novo.
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Então vamos lá, antes que ela cumpra a ameaça. Pra mim, todo lugar onde se bebe é um botequim, seja o Bar Brasil, na Lapa, ou o maior boteco do Rio (pelo menos em tamanho), o Bar do Tom, anexo à Churrascaria Plataforma, no Leblon, ou o minúsculo Bunda de Fora, no Jardim Botânico.
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Um botequim deve ser, de preferência, razoavelmente limpo. Mas não a ponto da gente pensar que está bebendo numa enfermaria. Ninguém morre de infecção contraída em bar. E quantos já morreram de infecção hospitalar?
Nunca me esqueço de uma vez que levei o Nássara para conhecer a filial, num shopping da Barra, do Bar Luiz. Além de genial caricaturista, ele foi também grande boêmio. A decoração lembrava em tudo o mais antigo bar do Rio. Mas tinha alguma coisa errada.
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Limpo demais – sentenciou –, mas nada que alguns bons bebuns não resolvam. Outro ponto a ser considerado: bebericar em pé ou sentado? Estou cada vez mais convencido que beber em pé, junto ao balcão, tem várias vantagens, a saber: primeiro, você é servido mais depressa. Depois, fica mais fácil driblar os chatos, se você está numa mesa é presa fácil, eles vão puxando uma cadeira e sentando ao seu lado. E depois você pode escolher o tira-gosto de melhor aparência e fiscalizar se o cara do bar está tirando direito o chope ou fazendo a batida como você pediu, só com meia colherinha de açúcar.
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E, é claro, seu santo tem que cruzar com o do garçom. É como um casamento, conheço boêmios que passam mais tempo com o garçom do que com a mulher. O Bar Bico, em Copacabana, é um bom exemplo desse tipo de botequim.
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Tem tudo que um boteco que se preze deve ter: de ovo cozido a sanduíche de churrasquinho, de caracu com dois ovos, o Viagra dos pobres, ao bate-entope mais barato, pão com ovo. O chope, da Brahma, é bem tirado, na manteiga (com muita pressão), como o cara do balcão comandou. E tem uma vantagem: você, do balcão, controla o cara tirando o seu chope, para ter a certeza de que não é de balde, na minha opinião, crime inafiançável.
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Agora a moça pode me ligar: vou matar a pau.
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* Elias Pinto
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Um comentário:

luandra disse...

cara é mais uma dica, tenta colocar a corda letra em cinza claro, ou diminui um pouco ela, espero que nao leve a mal...o texto tava legal, so que cança a vista....abraço e boa srote