sexta-feira, 3 de abril de 2009

Os jornais não lembram da vida...

Desastre de trem, um surto de peste na Índia...
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Você acredita nisso que os jornais dizem?
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Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem unicamente desastres e desgraças?
Não! Os jornais que falsificam a imagem do mundo.
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Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o traía. Eu não afirmo que isso é mentira. Mas acontece que o jornal escolhe os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenham conteúdo jornalístico.
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Vejamos a história desse crime: "Durante os três primeiros anos o casal viveu imensamente feliz..." Você sabia disso?

O jornal nunca publica uma nota assim:

* Anteontem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda, no Méier, o sapateiro Agusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda Brito Ramos, de 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento
em que a sua consorte erguia os braços para segurar a lâmpada para abraçá-la alegremente, dando-lhe beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em vista disso, a senhora em questão voltou-se para o marido, beijando-o longamente na boca e murmurando as seguintes palavras:"Meu amor", ao que ele retorquiu: "Deolinda".
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" ...Os jornais noticiam tudo, tudo menos uma coisa banal de que ninguém se lembra:a vida..."
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*Rubem Braga
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3 comentários:

jac rizzo disse...

Hummm...só suspiro feliz!

Tenho um amigo que nos presenteia com o melhor da crônica feita neste país!! Rubem Braga é considerado o rei da crônica, por uma elite de críticos.

Mas eu não gosto disso.
Não gosto da palavra rei.
Eu nem gosto de reis!

Gosto do mel, do lirismo, do
imenso sentimento que saíam
das histórias dele!!

Abraço, meu querido!

Judô e Poesia disse...

Olá Ronaldo,

Estou em Belo Horizonte e acompanho com interesse e curiosidade este blog.
Fico feliz de notar sua atenção pelos detalhes e pela beleza dos pequenos gestos.

Abraços de Minas,

Domingos

Rosa Maria Ribeiro disse...

Noticie-se aqui e onde se puder que vale a pena passearmo-nos pela tranquilidade das palavras objectivas que aqui se escutam.
Ao amor em parangonas. Ás coisas simples que fazem grandes os homens!