quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Do tempo que se caía do cavalo branco >> Até a gostosa Juliana Paes.


Como o passado em Proust nasce de uma xícara de chá; essas letras brotaram dentro de um copo de cachaça, no balcão da Casa Sagica (ali, no passado paralelepípedo da Generalíssimo Deodoro).
Continuaram na coalhada do "Sol nasce para todos". E quase dormiram no Cine Poeira...
O texto está molhado de álcool ( do mijo do White Horse). Sujo de cinzas de cigarro ( de um Continental sem filtro). Manchado de gordureba do bife lapiniano. Um bife masculino (argh!),- pelancudo e mal passado.
Com alguma exclamação perdida na praça da Condor ou mastigada com o churrasquinho de gato.
Alguns parágrafos ficaram com as esfirras e moscas, nas guarnições de vidro dos botecos da Presidente Vargas.
As reticências sumiram com as mulheres do Bar do Parque.
Algumas palavras ficaram nuas.No striptease das lembranças do Pagode Chinês.
Nomes de namoradas, (em fotos 3x4 e dedicatórias), que guardávamos na carteira porta-cédulas, foram roubados pela memória minada pela Cuba-Libre.
Bebamos, então, todas as vírgulas do conhaque com o conselho do velho David Brito:- "uma dose dá um tesão dos tempos de saliência com as empregadas domésticas..."
Bebamos o aviso do Paulo Cal:- "o uísque faz mal para a rótula da carteira do funcionário público".
Bebamos "a vodca indica que o tempo está russo",segredo do meu espião orkutiano, o mestre-jornalista Elias Pinto.
Bebamos as patricinhas da Estação das Docas, que esvaziam os bolsos dos turistas,com :- "eu quero um caipirinha com adoçante"..."eu gosto de cerveja sem alcool"..."peça mais um uísque dietético..."(?!?)
Bebamos o amor diet e bem pagas ternuras, democraticamente!
E assim se torna impossível deletar:- os namoros com sorvetes da Santa Marta, os beijos com gosto de sanduíche de mortadela, o barzinho da esquina, a sessão da tarde no Olímpia, o gastar das solas dos sapatos no arraial de Nazaré, a fotografia de todos nós montados nos cavalinhos do carrossel e a dança com o rosto coladinho no laquê.
Não, não posso deletar:- o Corujão, as conversas sem o menor ranço acadêmico, o garçom Waldir, que nos passava a perna com sua matemática, a convivência com pessoas extraordinárias na mesa de bar:
Luiz Paulo Zing, Paulo André Barata, Pedro Abílio do Carmo, Fernando Velasco, Ruy Barata, Edgar Augusto Proença, Bernardino Santos, José Augusto Potiguar, Chembra, Tito Barata, Pedro Santana Marques...
E, hoje, para matar saudades : bebamos a Juliana e todas as suas vogais.
E fiquemos com as consoantes que passaram... (Se é que isso é possível.)

3 comentários:

Eliane Alcântara. disse...

Poeta, a cada dia penso no que mudou
e no que talvez já havia mudado
antes mesmo que eu nascesse.
Tenho saudades de um tempo que
eu não vivi.
Tenho saudades de um tempo que
coleciono dentro dos meus raros
sorrisos.
Saudades do meu tempo de brincar
e correr livre, de cavalgar, de
brincar na palha de café, da
primeira cartinha que escrevi
pensando estar apaixonada.
Saudades mesmo da inocência.
Hoje há malícia nas vírgulas,
nas vogais...
E nosso objetivo penso ser o de
manter as CONSOANTES que sobrevivem,
apesar do esforço de muitos para
apagá-las.
Vejo verdades em sua escrita, amigo.
Como sempre, vindo de você,
encontro aqui uma escrita especial!
Parabéns. Tim-tim e que saibamos
beber. rs*

RKE | Design e Comunicação disse...

Ronaldo,
adorei o blog. Bom ver suas palavras agora em meios virtuais...
Estarei sempre aqui.
Olha, visita o nosso blog também.
www.rkedesign.blogspot.com

grande beijo,

Roberta Carvalho

Marcia Yamada disse...

Te leio com a avidez de aprendiz, que sou. Me acanho a fazer algum comentário, mas te visito sempre e gosto do que leio, das imagens que vejo e fico feliz por ter poesia e cultura ao alcance dos dedos. Obrigada e um beijo carinhoso. Marcia Yamada