sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Paulo Vieira - Uma boa raiz da poesia.




Paulo Vieira é de São Miguel

do (rio) Guamá, no Pará.

Viveu uma infância amazônico-urbana passada

na periferia da cidade, entre os restos de um floresta perdida : quintal da casa do seu avô.

Paulo e seus anjos verdes nos dão a engenharia da "poesia

autêntica e legítima".


Paulo Vieira "dá-nos o poema ágil, como pedia Oswald de Andrade, o poema saltimbanco e circence, a poesia que brinca consigo mesma e que pensa a existência e o mundo, de maneira discreta e irônica.Não se poderia encontrar melhor combinação para tão novo poeta", escreve Benedito Nunes.


Não se poderia encontrar melhor raiz para a nova poesia paraense!

..


Detalhe

.


o desencanto embrutece os lábios

sem saber que o beijo

paira entre

borboletas

.


Passeio no Bosque

..


foste passear no bosque

- as árvores passeiam em tua sombra

.

Sétimo Suicídio

..


Em mim

apunhalei

o último

de mim

.

Poema

...


Ao submeter-me à geografia da noite

aceito meu alqueire de solidão

.

Primeiro Canto

....


Meio-dia:

revivo a voz morta

do galo

e vou para casa

almoçá-lo

.

Água do Ser

...


No mar das palavras

compondo

a canção submarina

de meus dias de chuva

a feiticeira

.


águas

março

mar aço

das pedras

.


decompondo folhangens

ao furor das cheias


em minhas jovens veias de peixe

.


Poeta de estimação

...


Todos os dias

depois da ceia

.


O cão late deita e rola

e me lambe os pés

.


O gato me olha

calmamente

se lambe o focinho

e sai

(pisando em plumas)

.


Apesar de ser o cão meu amigo

é mesmo um poeta esse gato

.

Eu, homem vivíssimo

tenho claras idéias de morte.

Um globo terrestre inteiro por visitar

e mal conheço os tacos da sala

.

O amor estende pontes emprevistas...

.

A cabana

...


cada

manga

uma vésper

.


cada

ramagem

uma nuvem

(verdoenga)

.


e a cidade inteira

foi morar à sombra

daquela mangueira

.


Poema das ruas

...


sabem as ruas:

as cargas do mundo lhes são estorvos


mas

de vez em quando

uma chuva fina refresca suas peles

....


Não me avisaram do teu pouso


Quando te vi no início

- nas linhas do livro -

o sol trabalhava a louça azul esmaltada

os pássaros moravam em teus calcanhares

e voavas.

.


Quando te vi novamente

- no fim do filme -

o musgo trabalhava a lousa fria póstuma

mas teu epitáfio era legível:


A morte tem o peso de um pouso.


...

* Do livro "Infância vegetal ".Prêmio IAP de Literatura.








3 comentários:

Benny Franklin disse...

Parabéns, Ronaldo!
- ótima publicação.

Valeu, Paulo!
- parabéns pelo prêmio

Abçs.
Benny Franklin

Ana Carvalho disse...

Vamos regar essa raiz, o futuro é promissor...parabéns RF, parabéns Paulo Vieira!!!!!!

Paulo Roberto Vieira disse...

olá Ronaldo, Franklin e Ana, escrevo para agradecer por terem gostado desses poemas da Infância e para dizer também obrigado ao Ronaldo, que trouxe poemas meus para cá. deixo para vocês então meu endereço http://vieiranembeira.blogspot.com,para visitas onde poderão conferir logo logo a data do lançamento de meu mais novo livro de poemas ORQUIDEAS ANARQUISTAS,além de poemas novos e crônicas, só lembrando que Ronaldo tem um livro quase pronto também, quando sai Ronaldo?..

abraço a