quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Quixote Caboclo > texto do jornalista José Carneiro

O Pará já tem, seguramente, um herói. Mais um, talvez. Pra mim esse herói, praticamente anônimo até ontem, é um motorista de ambulância, uma profissão comum, que exige relativamente pouco de quem a escolhe. Mas que pode ser elevada à quintessência do seu valor, dependendo dos brios e da coragem do personagem envolvido.
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E esse herói paraense tem nome, profissão e residência, que tenho a honra de registrar com respeito e admiração: chama-se José Wellington Alexandrino, o motorista de uma ambulância da Prefeitura do pequeno município de Santa Luzia do Pará que, no feriado municipal de terça feira, em Belém do Pará, fez a cidade fremir de dignidade ao lutar e, tal qual um Dom Quixote caboclo, enfrentar moinhos e policiais na tentativa de, minimamente, cumprir sua função profissional e, no limite máximo, dar tudo de si para salvar uma vida.
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José Wellington Alexandrino, como funcionário público a desempenhar tarefa rotineira, poderia imitar tantos outros pelo Brasil afora e simplesmente tratar de cumprir sua pequena missão, de transportar um doente para ser internado em Belém.
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Depois, quem sabe, voltaria satisfeito para a rotina de sua cidade e o aconchego de sua família.
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Mas na capital paraense ele se deparou com uma série de obstáculos, quase intransponíveis e recorrentes, que iam desde os hospitais públicos lotados até o excesso de burocracia, a duelar contra a vida humana.
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José Wellington simplesmente arregaçou as mangas da sua cidadania e enfrentou, de peito aberto, todos os algozes, conhecidos e desconhecidos, bradando pelo que considerava um direito da criança recém nascida que transportava.
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É bastante provável que o herói José Wellington nunca tenha lido a Declaração Universal dos Direitos Humanos e sequer conhecesse os direitos básicos de cada cidadão. Naquele momento delicado em que uma vida mal nascida estava prestes a ser ceifada, talvez pela incúria, ou a desídia, José Wellington alçou-se à condição invejável de lutador e, combatendo o bom combate, saiu em defesa de sua preciosíssima e enferma carga.
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Quando vejo a Academia Sueca escolher para o prêmio Nobel da Paz um governante que manda para o front de guerra no Afeganistão mais 30 mil soldados norte americanos, fico a pensar em que panteão se deve colocar o nosso herói José Wellington Alexandrino que, salvando uma indefesa criancinha, consegue redimir com o seu gesto toda a humanidade. Já era tempo de termos um herói.

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Salve, José Wellington Alexandrino!
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* Texto do jornalista José Carneiro.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Tudo que foi dito é correto e digno de ser dito.Estou cada dia mais assombrada com o que vejo.Tanta violência,descaso e injustiça social.Esses que não apareceram diante das câmeras impedindo a criança de ser atendida,são pobres,injustos e que
faltam a coragen desse rapaz da ambulância.Estão no mesmo patamar de insensibilidade dos governantes desse pais.Parabéns motorista da ambulância.Deus te abençoe!