sábado, 17 de maio de 2008

Onde não se tenham inventado o telefone...

...Pela descrença que em meu espírito se acentua, permite que eu deseje ser só - ou tua somente - num lugar do mundo, onde os gritos não tenham eco, onde a inveja não ameace, onde as coisas do amor aconteçam sem
testemunhas...
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Livrem-me da pressa, das datas, dos salários e das dívidas e a todos serei agradecida, num verso submisso.
Livrem-me de mim, de uma certa insaciabilidade que apavora e de todos serei escrava numa humilde canção.
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Permite que eu só queira, agora, esse canto de sono e preguiça, onde não necessite dos atletas, onde o céu possa ser céu sem urubus e aviões, onde as árvores sejam desnecessárias, para que os pássaros se sintam bem em cantar e dormir em nossos ombros.
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Permite que eu deseje, agora, tomada e vencida pelas urgências que de mim exigem, um canto de sono e preguiça, onde não se tenham inventado o telefone e o relógio.
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Permite que eu deseje, agora, um silêncio que me contagie de tristeza, uma calma boa e definida para, num momento espontâneo e sossegado, escrever as grandes definições, as palavras que me envaideçam, os versos e as cantigas que me elevem, querido, à glória e à resolução do teu desmesurado amor.

(Antonio Maria)

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!

Seu blog,poeta Ronaldo Franco, me emociona.

Leila Couto.

Anônimo disse...

Lindo!

Rosa Pires (Belém)