sexta-feira, 5 de junho de 2009

Belém na Terceira Divisão >> Flávio Nassar



Belém foi "oficialmente" declarada integrante da terceira divisão das capitais brasileiras.
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"Oficialmente" porque na prática, há muito, já se sabia.As capitais da primeira divisão, desde o século 19, são o Rio e São Paulo.Outras capitais se agruparam no segundo bloco: BH, Porto Alegre, Recife, Salvador e Belém.Historicamente, na "terceirona" das capitais estavam Manaus, São Luís, Fortaleza, Natal, Curitiba, Cuiabá, Teresina, etc.
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Na aurora do século 20, Belém vivia sua segunda idade do ouro. A primeira fora na última metade do século 18, sob Pombal. "A época de Landi".Há cem anos o prefeito de Belém era Antônio Lemos e a cidade rivalizava com a capital federal na implantação de novidades e melhorias.
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A Belém urbanizada que hoje conhecemos foi pensada naquele tempo. Os investimentos em infraestrutura urbana do período da borracha sustentaram a cidade até meados de 1960. Nesta época, o Brasil começava a ser predominantemente urbano, e a abordagem dos problemas das cidades saía da esfera da disciplina Desenho Urbano e passava para a era do Planejamento.
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É quando as capitais que agora estão mais bem posicionadas que Belém começaram a se repensar.
Nos anos 60, São Luis criava um órgão de preservação de seu patrimônio artístico, Belém começava a destruir a Cidade Velha. Hoje o Centro de São Luis é patrimônio da Humanidade.
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Nos anos 70, em Curitiba, já funcionava o Instituto de Planejamento e Pesquisa Urbana (IPPUC). O instituto elaborou os Planos de Desenvolvimento que nos últimos 40 anos transformaram a medíocre capital do Paraná em cidade referência internacional.
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Em Belém se incentivava a invasão das baixadas. Nos anos 80, Salvador já fizera a recuperação do Pelourinho. Hoje o Centro de Salvador é tombado pela UNESCO, Salvador se tornou uma das mecas do turismo internacional e da cultura de massa.
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Em Belém não há bem tombado por agência internacional.
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Nos anos 90, Fortaleza, Recife e Salvador começaram a implantar sistemas de transporte metropolitano e agora cuidam de metrô. Em Belém a única "inovação tecnológica" no transporte de massa foram as vans, as kombis, as bicicletas e os burros sem rabo, na contra mão.No início do século 21, Fortaleza e Manaus são servidas diariamente por vôos internacionais e têm grandes redes de hotéis. Já Belém...
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Agora, enquanto se chora o leite derramado, buscam-se desculpas: foi uma conspiração contra Belém; a decisão foi política; foi lobby; foi uma injustiça; bla, bla, bla. E apontam-se os culpados: foi o governo; foi a prefeitura; foram os dois; foi o Lula que não gosta da Ana Júlia.A culpa é deste governo, desta prefeitura e de todos os outros que nos administraram a cidade e estado nos últimos 50 anos.
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A culpa é de nossas elites políticas, sindicais, intelectuais, acadêmicas, empresariais, etc, etc, etc.
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A culpa é da nossa geração de paraenses que achamos que "comendo de arremesso" "dormindo de balanço" vamos ter vida “de descanso”, porque só aqui tem açaí, tacacá e de quebra a Virgem de Nazaré para abençoar.
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Esses mega eventos esportivos são sobretudo grandes negócios, para recebê-los as cidades têm que estar dentro do padrão globalizado.
Têm que ser cidades globais, com segurança, infraestrutura aeroportuária, hoteleira, turismo receptivo, mobilidade urbana, qualidade de vida, etc.
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Bairrismos de lado, tem alguém em sã consciência, e que tenha visitado pelo menos algumas das cidades escolhidas, que possa acreditar que Belém atende essas condições?(Vamos deixar Natal de fora, zebra é zebra).
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A Fifa, tudo bem, é dirigida por um bando de safados como mostrou o Juca Kfouri, mas os critérios de escolha são objetivos.
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A eliminação de Belém não foi um ato político, não foi conspiração, era previsível para um cidade que há décadas se recusa a pensar-se estrategicamente.
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Que isso nos sirva de alerta, sempre é tempo de recomeçar.A Universidade Federal do Pará, por meio do Fórum Landi, foi contratada pela Fundação Cultural do Município de Belém, para, com recursos do Ministério das Cidade, elaborar o Plano de Requalificação do Centro Histórico de Belém.
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Que toda a cidade participe, discuta, debata. Oportunidade haverá. Que depois do Plano do Centro possamos fazer um plano para a cidade, para a região Metropolitana.
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Senão, como já previ na ficção, vão acabar desmontando a Basílica de Nazaré e a levando junto com o Círio para São Luís ou Manaus.

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2 comentários:

Safira disse...

Olá!

Vai ao meu blogue, tens lá uma magia violeta.

Abraço,

Safira

papistar_nunes disse...

Aqui a única coisa tombada são as nossas seculares mangueiras que "vira e mexe" por absoluta falta de cuidados,tombam aos nossos olhos atravessando as avenidas.
Que vergonha!!!