quarta-feira, 21 de outubro de 2009

DuDu : Bicho do Mato Rasteiro

Foto: Duciomar Costa > Prefeito de Belém
1 Como é possível que um personagem como Duciomar Costa chegue a prefeito de Belém? Chegue e ainda se reeleja? Sem resposta a essas perguntas, ou pior, conhecendo as respostas possíveis a esse tormento, muita gente anda desgostosa com sua condição de cidadão belenense. Há quem pense até em levantar acampamento, mudar-se para outras paragens menos poluídas politicamente.
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2 Não vou enveredar por aquele caminho fácil de dizer que o povo não sabe votar. Já escrevi sobre isso uma pá de vezes aqui na coluna. O eleitor de Belém não elegeu Edmilson Rodrigues, que pregava a mudança, a renovação, o reencontro com a cidadania – se é que já tivemos esse encontro no passado? O eleitor brasileiro não conduziu ao poder Fernando Henrique Cardoso e Lula, cada um, a seu modo, expressões do que podíamos alcançar em termos de compromisso e dignidade políticos pós-ditadura? Pois os três, para mim, deixaram um legado lastimável, já incluindo Lula nesse balanço. Pode ser que você não compartilhe da minha opinião, mas é a isso, desconfio, que chamam democracia.
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3 O mesmo processo democrático que abriu as portas da prefeitura para Duciomar e, antes, deu-lhe uma cadeira de vereador, deputado estadual e senador.
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4 Sabe-se, claro, que a qualidade educacional contribui para um voto mais consciente, e sabe-se, por sua vez, das deficiências do país nessa área, a par da fragilidade social e econômica de boa parte do eleitorado, aspectos que se somam para dar passagem a messianismos políticos, a aventureiros e populistas de palanque, a estadistas de araque.
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5 Duciomar, no entanto, foi içado de sua mediocridade parlamentar pelo oportunismo dos que se julgavam portadores da chama olímpica da verdade e da honestidade, habitantes de uma torre de marfim política, ou melhor, de uma cobertura edênica a que apenas os eleitos tinham acesso para ouvir, de viva voz, os éditos divinos, para de lá descer e pregar as tábuas da lei do tucanato. Se Duciomar não tivesse sido convocado a essas alturas de ar rarefeito (talvez pelas circunvoluções nicotinadas do ambiente), bem provável que ainda estivesse à frente da sua frota doidivana e mambembe de ônibus desbussolados – daí, certamente, a ânsia que o faz querer ser uma espécie de padroeiro dos empresários do ramo, que, em vez de São Cristovão, condutor dos motoristas, deitam oferendas ao assaz aureolado e querubínico Duciomar, Dudu, breve no tamanho, imenso na generosidade em abrir mão do erário em favor dos que já não têm mãos suficientes para abarcar o que, tintilante, lhes abunda, fruto do calvário que é o transporte público de Belém.
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6 À imagem e semelhança do chefe, a Câmara converteu-se numa terra desolada, retrato da cidade desvalida entregue a mandíbulas que mordem o que podem. O exército duduca, no que vota, devota-se ao sonante ideal que lhes açula o apetite, ou os instintos mais primitivos, como diria aquele outro exemplo jeffersoniano de lubricidade política. Nenhuma novidade no front, a não ser a desfaçatez que se concede cevados brindes de bastidores, em cevadas efusões marginais ao plenário.
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7 A vitoriosa carreira política de Duciomar Costa gerou-se, paradoxalmente, de sua costela invertebrada, de sua constituição gelatinosa, de seu espinhaço dúctil, que se deixa moldar às circunstâncias que lhe prefiguram, pragmaticamente, o modelo que convém à vitrine da vez. É um campeão de votos que não faz sombra – ao contrário, ganha corpo à sombra, e por isso se move serpenteando, à vontade ao rés do chão, animal político de sangue frio. Um bicho do mato, do mato rasteiro, que não emana luz, antes a absorve, conspirador dos escaninhos, destilador do sombrio que é seu habitat.
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8 A uma Belém solar, que explode em luz e calor, nada pior do que ter um administrador que move sua pele fria, camaleonicamente, ao abrigo da luminosidade, do sol, que, por sua ação detergente, lhe devassaria o soturno que é a vestimenta de sua personalidade. Como os que vivem nas profundezas, porém, ele precisa vir à superfície para renovar o ar. Esta superfície é o palanque. Até quando o ar, o voto, lhe será renovado?
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( Texto do jornalista Elias Pinto - do Diário do Pará)
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3 comentários:

jac rizzo disse...

Amigo Ronaldo, vim só para me
solidarizar com você, porque já
me cansei deste assunto.

O povo escolhe os Malufs, os Lulas, os Garotinhos, os Duci...esqueci o nome, e nos sentimos impotentes para fazer algo.

As causas, nós mais ou menos sabemos...fazer o quê?

Esse governo atual compra votos descaradamente
e foi reeleito apesar dos escândalos todos, coisa que me deixou perplexa!

Só nos resta falar, denunciar, protestar, mas sinto que a minha voz é tão fraca...

Abraço carinhoso, querido!

Anônimo disse...

Esse cara existe? Como é possível?

Tãnia

Anônimo disse...

O negócio é o seguinte,o povo gosta de sofrer.Eleitores barsileiros são masoquistas.Gostam de apanhar.

Téo.