quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ouvi dizer que é cada vez maior o número de pessoas que se conhecem pela internet e acabam casando ou vivendo juntas - uma semana depois.
.
As conversas por computador são necessariamente, sucintas e práticas e não permitem namoros longos, ou qualquer tipo de aproximação por etapas.
.
Estamos longe, por exemplo, do tempo em que as pessoas se viam numa quermesse de igreja e se mandavam recados pelo alto-falante.
.
Quando finalmente se aproximavam, eram mais 2 anos de namoro e 1 de noivado e só na noite de núpcias, imagino, ficavam íntimos, e mesmo assim acho que o vovô dizia "com licença".
.
Na geração seguinte, o homem pedia a mulher em namoro, depois pedia em noivado, depois pedia em casamento, e quando finalmente podia dormir com ela era como chegar ao guichê depois de preencher todas as firmas e esperar que chamassem a sua senha.
.
Durante o namoro ele lhe mandava poemas, o que sempre funcionava, e muitas mulheres de um certa época, para serem justas, deviam ter casado com o Vinícius de Moraes.
.
As pessoas dizem que houve uma revolução sexual. O que houve foi o fechamento de um ciclo, uma involução.
.
No tempo das cavernas o macho abordava a fêmea, grunhia alguma coisa e levava para a cama, ou para o mato.
.
Com o tempo desenvolveu-se a corte, a etiqueta da conquista, todo o ritual de aproximação que chegou a exageros de regras e restrições e depois foi se abreviando aos poucos até voltarmos, hoje, ao grunhido básico, só que eletrônico. Fechou-se o ciclo.
.
A corte, claro, tinha uma justificativa. Dava à mulher a oportunidade de cumprir seu papel na evolução, selecionando para procriação aqueles machos que, durante a aproximação, mostravam ter aptidões que favoreciam a espécie, como potência física ou econômica ou até de gosto por Vinícius de Moraes.
.
Isso quando podiam selecionar e a escolha não era feita por elas. No futuro, quando todo o namoro for pela Internet, todo sexo virtual e as mulheres - ou os homens, nunca se sabe - só derem à luz a bytes, o único critério para seleção será ter um computador com modem e um bom provedor de linha.

Talvez toda a comunicação futura seja por computador. Até dentro de casa. Será como se os nossos namorados de quemesse levassem os alto-falantes para dentro de casa.
.
Na mesa do café, marido e mulher, em vez de falar, digitarão seus diálogos, cada um no seu terminal.
.
E quando sentirem falta da palavra falada e do calor da voz, quando decidirem que só frases soltas numa tela não bastam e quiserem se comunicar mesmo, como no passado, cada um pegará seu celular.

Não sei o que será da espécie. Tenho uma visão do futuro em que vivemos todos no ciberespaço.
.
Só nossos corpos ficarão na terra, porque alguém tem que manejar o teclado e o mouse e pagar a conta de luz.
.
* "Grunhido eletrônico" > texto de Veríssimo.
.
***

Nenhum comentário: