Eu fui uma hedonista. Juro que fui. Vestia meias rendadas e trajes curtos de algodão somente para esperá-lo. Quando ouvia seus passos duros, as coxas e o corpo todo se abriam em risos interiores e eu pendurava minha alma atrás do corpo nu. Um elástico bicho pousado no cio.
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Arranhei uma aliança.
Eu o obrigava a retirar do dedo aquele círculo de ouro e a colocá-lo perto do fogão, ao lado da pia, para que ficasse perto da água e do fogo como forma de purgação.
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Minha pupila, sempre muito retalhada, exergava coisas frouxas e aqueles meus dias, de um passado absolutamente cristão, transformaram-se em lençóis queimados do sol e estendidos num vagão nunca aberto. Algo que se perde com a vida desbotada.
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Ele, com algumas horas dispostas para mim. Eu, cobrando dias de paixão desenfreada. Uma confusão talvez inevitável.
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Houve um término.
Uma quase morte, porque havia a minha dependência, minha amplitude calculada no tamanho dele.
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Não absorvi o final e ali, parada, observando a multidão de pernas e bocas confusas, indagava-me a precisão daquele fim.
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Acabou uma história de devoção proibida.
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* Digliane Melo Almeida * Do livro "Chão de Açucar".
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Um comentário:
Ai poeta... Chão de Açúcar não me parece uma boa coisa para ser lida... Teu blog merece coisa muito melhor... (Sem falsa modéstia). Bjs.
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