quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Max e seus santos de cabeceira > Elias Pinto

Max

Max e Elias
Acho que fui o jornalista que mais vezes entrevistou o poeta Max Martins, morto na segunda-feira, aos 82 anos. Volta e meia e lá ia eu incomodar o pobre bardo. Fizemos entrevistas longuíssimas, na casa do Max, na Casa da Linguagem, de onde ele foi diretor, na Sucam, área da saúde pública, de onde foi inspetor.
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Era coisa de mais de três horas de bate-papo, que, publicadas, rendiam duas cerradas páginas de jornal, daquelas de trasantontem, maiores que o padrão atual, e que davam ali em torno de cinqüenta mil toques.
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Na época, contava-se em lauda, 25 laudas, 30 laudas, por aí. No ritmo dessas, suponho termos feito umas três ou quatro. Fora outras tantas, menores, compactas.
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Nesse vira e mexe aqui de casa, atrás do “Lebensraum”, do espaço vital, tentando dar um mínimo de ordem nessa traçalhada, desencavei um desses encontros, impressos, com o Max.
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Não se trata de uma entrevista. O que fiz foi pedir ao poeta que traçasse um roteiro de sua formação poética, de suas leituras, seus santos de cabeceira, “ab ovo”, desde o berço.
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O recorte que tenho dessa matéria, uma cópia, não traz a data de publicação. Mas o texto foi publicado na coluna que eu então assinava no jornal “A Província do Pará”, e a data, certamente ali por volta de 1990/91. Dou então a uma segunda edição o roteiro de leituras do poeta de “Não Para Consolar”. Fiquem, pois, com as leituras e os autores de cabeceira de Max da Rocha Martins.
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“O meu livro, ‘Para Ter Onde Ir’, ainda inédito, tem uma dedicatória: Ao Velho Poeta. Aparentemente simples, levará porém os futuros leitores à interrogação: quem é esse Velho Poeta? O Velho Poeta é muitos poetas, escritores, romancistas, filósofos, ensaístas, amigos, meus pais; aqueles que direta ou indiretamente tiveram vívida influência sobre a minha formação de poeta. Aqueles que pelas suas obras ou pela amizade criadora, ou por seus exemplos, teceram o que eu chamaria a minha universidade. Assim pois, o ‘Para Ter Onde Ir’, que é um diálogo comigo mesmo, é dedicado, afinal, a mim próprio.
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No princípio, foi Casemiro de Abreu, os poetas românticos brasileiros e portugueses das velhas antologias. Depois veio o ‘Cartas a um Jovem Poeta’, de Rainer Maria Rilke, o primeiro presente recebido do professor Francisco Paulo Mendes e cujo exemplar muitos anos depois passei às mãos merecedoras do poeta Age de Carvalho. Depois vieram Carlos Drummond, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Camões, Homero, Mário Faustino, Dylan Thomas, Rimbaud, Baudelaire, Octavio Paz, Mallarmé, Paul Celan, Henri Michaux, René Char, Bashô, Cummings, Blaise Cendrars, Kaváfis, Maiakóvski, Jorge Luis Borges, Robert Stock, García Lorca, Lautreamont, Ungaretti, Trakl, Blake, André de Bouchet, as vanguardas, o Concretismo.
E Guimarães Rosa (‘Grande Sertão: Veredas’), D. H. Lawrence, Henry Miller, Henry Thoreau, Clarice Lispector, Dostoiévski, Thomas Hardy (‘Judas, o Obscuro’), Kazantzákis, Hermann Hesse, Romain Rolland, Thomas Mann, Flaubert, Malcolm Lowry, Hermann Broch, ‘Em Busca do Tempo Perdido’, de Proust, o ‘Dom Quixote’, Melville, Shakespeare, Mircea Eliade, Chuan-Tzu, o Zen-Budismo, ‘I Ching’, ‘Lao-Tzu’, ‘O Livro Tibetano dos Mortos’, o ‘Bhagavad-Gita’, a Bíblia.
E Aristóteles, Platão, Nietzsche, Heidegger (‘Acheminement Vers la Parole, Hölderlin y la Esencia de la Poesia’), Derrida, Gilles Deleuze, Todorov, Pound (‘ABC da Literatura’ e ‘A Arte da Poesia’), Valéry (‘M. Teste’). E Damaso Alonso, Carlos Busoño, Roman Jakobson, Auerbach, Roland Barthes, Georges Bataille, T. S. Eliot, Walter Benjamin, George Steiner, os Manifestos Surrealistas, Max Bense, Benedito Nunes, José Guilherme Merquior, Antonio Candido, Ernest Fenollosa, Haroldo de Campos, Jean Starobinski, Saussure, Leo Spitzer.
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Isso não é receita para jovens poetas, o que eles deveriam ler etc. É o meu caso e só. Mas acho que um poeta de hoje deve palmilhar por aí. Creio que esse é, pelo menos, o cerne de uma compreensão e de um amor pela poesia. Não esqueci de incluir na lista o óbvio: os dicionários, principalmente os etimológicos, os analógicos, os de mitologia, os botânicos, os de mecânica celeste, os históricos, culinários, os almanaques e catálogos, e qualquer coisa do chão, como acha o Manoel de Barros.”
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2 comentários:

Benny Franklin disse...

Trilhas a seguir!

Anônimo disse...

A receita para ser um bom poeta!

Tereza Reis.