terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Um dia na vida do século XXI- Carlos Eduardo Vilaça


Um dia na vida do século XXI

A ficção científica sempre foi vista como algo menor, fruto de devaneios de alienados. Algo que não acrescenta nada, em qualquer meio artístico em que se desenvolva, e quem levanta a sua bandeira está fadado a zombarias diversas. Isso, nos dias de hoje. Imaginem há alguns anos, quando a ciência e a tecnologia não haviam ainda alcançado o seu atual nível de excelência e várias das investigações científicas comprovadas, atualmente, não passavam de mera especulação. Nesse contexto, surge um homem. Um cara que pavimentou o caminho para a ficção ser tratada seriamente, fazendo o que ele mesmo afirmava ser “no limite do possível”: Arthur C. Clarke.
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Mais conhecido como o autor de “2001: uma odisséia no espaço”, que Stanley Kubrick tratou de transformar em um clássico do cinema (foto), Clarke é responsável por, pelo menos, outros sessenta títulos que colocam a ficção científica em evidência. Morto no ano passado, aos 90 anos de idade – embora achasse que passaria facilmente dos 100, com todo o aparato tecnológico disponível –, ele nunca precisou ser redescoberto. Sua obra sempre permaneceu atual, interessante e com um público fiel, disposto a descobrir os mistérios da existência.
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Nas minhas andanças nos sebos de Belém, encontrei alguns de seus livros e não pensei duas vezes: hora de gastar. Nessa semana, terminei a leitura de “Um dia na vida do Século XXI”, onde o autor faz projeções, de forma totalmente embasada - através de consultas a vários pesquisadores de cada área do conhecimento contemplada no livro -, de como será a vida em 2019, ano em que a viagem do Homem à Lua completará 50 anos.
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Escrito em 1989, o livro prende a atenção por não ter um caráter didático, embora sua divisão por tópicos possa causar essa impressão. A cada capítulo, Clarke desenvolve suas teses sem perder o lirismo e o senso de humor. E o tema colabora para tal. Afinal de contas, o fascínio que a Lua e o espaço exercem sobre a humanidade vem carregado de extrema poesia, e a própria ciência envolvida acaba ficando em segundo plano algumas vezes.
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Assim, vamos passando em revista um dia na vida de um hospital, de um robô, nos transportes, estudos, até chegarmos ao ponto em que “a vida encontra a morte e dá a volta por cima”. É um mundo incrível, ainda mais pelo fato de que várias das “previsões” são altamente possíveis. Por exemplo, os hospitais vistos como grandes empresas, brigando por lucro e clientes; ou então o fato de que assistir aos lançamentos de Marilyn Monroe não será problema. Não que ela tenha ressuscitado, apenas foi recriada digitalmente, o que não está longe de acontecer. Algumas tentativas já foram feitas. Marlon Brandon e Lawrence Olivier já “renasceram” em algumas produções. E mais vêm por aí, podem apostar.
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Devo começar logo a leitura do próximo livro de Clarke, tenho certeza que não vou me decepcionar. Ele entendia bem o que significava a ficção científica, dando-lhe o seu correto valor social, servindo “como sistema de alerta antecipado”, ou seja, através de suas “visões do futuro”, buscar os melhores caminhos para a nossa raça. E é exatamente isso que fazem os melhores programas de televisão e filmes do gênero. “Jornada nas Estrelas”, por exemplo, nada mais é do que um grito de paz, de mostrar como a convivência entre os povos é fundamental para a evolução do mundo. Esse é o legal da ficção.
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Um comentário:

Angelo Dias disse...

Tomando como base este post, vou comprar o livro 2001 e A vida(...) do autor. Gosto de saber quem compra livros sob minha recomendação, então, aqui te digo que estes dois livros vou comprar explícitamente por causa deste texto. Obrigado.