Auto-Retrato
Entre a espuma e a navalha sou legenda.
O espelho neutraliza o ângulo da morte,
a barba estrangulou a metafísica
e o problema do mal é bem remoto.
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Aqui sim.
Aqui resitirei à mímica,
ao dicionário e ao laboratório.
(a herança do punhal brilha de novo
o fantasma de Abel não me intimida)
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Vejo a testa crescer
entre os espirais de fumo,
o olhar que não vacila
da ruga à pré-história
e o peito rasgado
pela fúria do poema.
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Aqui sim,
aqui iniciarei a espécie nova,
aqui derrotarei o homem-harpa
e pronto estou para a descoberta do sexo.
.
O pincel dá-me o poder do patriarca,
a navalha reduz a timidez e o medo,
o palavrão rola na boca e salva o mundo.
***
"Quero crer que minha geração tenha ficado com o Ruy, fazedor de uma poesia maior, mais alta, irmanada à dor universal que não se acomoda mais às margens, porque o rio se faz caudoloso e transbordará cobrindo as referências, as diferenças.
O anjo bêbado, notívago, perdido na escuridão dos labirintos, este é o anjo de Ruy Barata que, a exemplo do anjo torto de Drummond, anuncia o perigo das fronteiras do reconhecimento da espécie humana.Anuncia os tempos pesados, o tédio, a náusea, a dor existencial."
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* Maria Lúcia Medeiros.
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** Do livro Antilogia:Obra editada por RGB Editora em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado do Pará; Capa:José Antonio Oliveira /Ronaldo Franco; Coordenação Editorial:Tito Barata/Fax Comunicação.
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5 comentários:
poemaço!
Boa, Ronaldo. Publicar poemas de autores paraenses - e principalmente de Rui Barata - é entender que precisamos divulgar para todo mundo a gema filosófica dos nossos poetas.
Você, é desses poetas divulgador.
Parabéns!
Abçs.
Benny Franklin
Melhor Blog do Estado, e futuramente o melhor do País... Parabéns pelo trabalho amigo Ronaldo, um belo incentivo pra arte paraense. Seu blog hoje é um espaço de grande renome ao se tratar de divulgação cutural... Espero que muitos outros prêmios venham por aí...
besos...
Seu blog a cada dia que passa se torna melhor, principalmente, por sua visibilidade dos escritos poéticos estampados (ou recolhidos) em nossa memória. Isso pode ser comprovado pela apresentação desses versos de Ruy Barata, o poeta transgressor do não-dito, numa audácia criativa que o torna um dos grandes poetas da literatura brasileira.
Parabéns, Ronaldo.
O Ruy Barata é o poeta maior do Pará.
Alfredo Tavares
show de poema!
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