quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Buda Amazônico > Elias Pinto

Buda Amazônico

Max da Rocha Martins, que morreu na segunda-feira, aos 82 anos, pertenceu a mais brilhante geração intelectual da história belenense, que teve em Francisco Paulo Mendes, Benedito Nunes, Haroldo Maranhão, Mário Faustino (que tomamos emprestado do Piauí e repassamos ao Rio de Janeiro), Ruy Barata e Paulo Plínio Abreu seus mais ilustres expoentes, além, é claro, do próprio autor de “Caminho de Marahu”.
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Destes, ficou, para contar a história dessa plêiade do Exército do Pará, o filósofo e inspirado (e não menos rigoroso) ensaísta literário Benedito Nunes. Aliás, o professor já ensaiou o que seria esse painel de geração no primoroso prefácio, intitulado “Max Martins, Mestre-Aprendiz”, que escreveu para o livro “Não Para Consolar”, reunião de quarenta anos (1952-1992) da poesia de Max.
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Essa constelação agregou-se em torno do Suplemento Literário da “Folha do Norte”, encarte dominical que durou de 1946 a 1951, fundado e dirigido por Haroldo Maranhão, e dos três números, de 1951 a 1952, da revista “Norte”. Foi uma geração que se repartiu, somando-se, entre o livro e o jornalismo.
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Max Martins, com a porção oriental que mediunizou sua poesia, foi uma espécie de Buda amazônico, serenamente contemplativo entre as sublimes brumas da cortina de fumaça expelida pelo fumante de três maços diários de cigarros. Mas sem perder o erotismo jamais, tardo onanismo exsudando-se.
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Em 1992, coordenador editorial da Cejup, escrevi a orelha de um livro de que tenho orgulho de ter contribuído para sua publicação: exatamente o “Não Para Consolar”, a bela edição (resultado da soma do projeto gráfico de Age de Carvalho, fotos de Béla Borsodi e composição de Martina Hutter) dos poemas reunidos de Max Martins, que tinha então 66 anos. Transcrevo, a seguir, o texto dessa orelha, que ainda considero útil para os que desejam se aproximar da obra do poeta, texto que não perdeu, 17 anos passados, sua atualidade, muito pelo contrário, infelizmente.
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“Caso o leitor dispusesse de uma fita métrica destinada a medir talentos poéticos – maiores e menores –, por certo teria de estendê-la ao máximo a fim de avaliar a obra de Max Martins. De ‘O Estranho’ (1952) a presente edição o paraense Max Martins, nesses quarenta anos de poesia, ergueu solitária voz no cenário poético brasileiro.
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Aos 66 anos de idade o autor de ‘Caminho de Marahu’ é, praticamente, um ilustre desconhecido do leitor. A restrita circulação de seus livros anteriores – mal cruzaram as fronteiras regionais – contribuiu para este fato. ‘Não Para Consolar (Poemas Reunidos)’ pretende reparar tal injustiça, colocando Max e sua poesia à vista de um público maior.
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Poesia (in)tensa, nela o discurso poético resulta da escavação linguística, verso-rupestre moldando, no corpo do poema, ‘o cavo amor roendo/ o seu motor-rancor’. Técnica a serviço da contenção, do embate, palavra-poro a transpirar na rocha, máximo labor para alcançar a ‘educação pela pedra’. Mineral lavado, polido, cinzelado, carne descarnada até o branco do osso, perfuratriz: ‘Escrevo duro/ escrevo escuro// E neste muro/ o que procuro, furo’.
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A poesia de Max Marins, como observa, no prefácio, o professor Benedito Nunes, nasce, renasce, do remoer de crises – é no limite da página que o poeta supera seus limites, avançando as fronteiras da cartografia poética. A palavra reduzida-ampliada em polissignos, linguagem movendo-se no interior do vocábulo a partir do grau zero da escrita, da metáfora.
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Se é necessário que a imprensa divulgue, para despertar a atenção nacional, o faroeste que domina as matas paraenses, onde a lei do 38 passa a limpo conflitos agrários – pistoleiros, garimpeiros e índios convivendo com megaprojetos, o século XIX (quando não a Idade Média) embaralhado ao século XX –, é preciso que também se lance um olhar à literatura deste Grão-Pará.
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Ao lado do ensaísmo crítico de um Benedito Nunes, da ficção de primeira linha de Haroldo Maranhão e Vicente Cecim, é indispensável acompanhar os rumos indicados pela ‘seta semovente’ da poesia de Max Martins (isso para não falar de Age de Carvalho, discípulo e cúmplice no livro-renga ‘A Fala entre Parêntesis’).
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No mais, lanço o desafio (a quem duvidar). Max Martins é hoje, em atividade, um dos três, quatro, cinco (quando muito) maiores nomes da poesia nacional. Que o leitor veja – compare – quem lhe alcança na extensão da fita metro-poética.”
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2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, valeu por me seguir, vou seguir vc tb ^^

abraço. =]

Anônimo disse...

Pode crer que sim ;D

Tem msn ?

abrazz.