quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Cidade das Mulheres


Essa sensação de estar sozinha na cidade...A cidade hipnotizada pelo seu olho penetrante.

No seu olho-espelho se vê:

a superficialidade em pessoas comprando livros que nunca serão lidos; o concerto de gargalhadas ao ouvir uma fóssil piada; soluções (?) em caras bolorentas; a auto complacência de joelhos dobrados, que chega a dar calos na inteligência.

O olho de Maria é um álbum de fotografias:

de pessoas que elegem sua própria rainha a fim de permanecerem bobos da corte. De construtores de senzalas a fim de permanecerem escravos.

No olho de Maria, cada foto parecia que tinha arrancado da cidade uma tristeza.
Cenas que não gostaria de vê-las (nunca mais) em movimento.
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No corpo de Nazaré, a cidade é uma chuva em que pessoas se ensopam de verdades.

Não se molham na chuva de Nazaré:

- robôs de carne e osso, esses homens munidos de laptop, câmera, celular e revistas. Pessoas que nunca se fazem uma pergunta. Que prometem (e não fazem) depois de uma enorme e vagarosa dissimulação. Político com feição de um sofrimento (falso) público que chega a ser cômico. Olhares com que as pessoas se medem mutuamente. Os caras lúbricos que despem inocências. O racista. O rapaz autista com o seu carro e som na praia , (o seu bate-estaca musical), que estremece o sossego. Os olhos faiscantes e cansados de um sexagenário. Os tão certos como dois e dois são quatro. Os que zanzam amparados em dinheiro. Os que vão para um encontro com a velocidade de uma tartaruga. Os que roubam a distância e a saudade em e-mails. Os que se corporificam na forma de uma palavra digitada...

Não se molham na chuva de Nazaré:

- os que patrocinam o fim da multiplicidade. Os que comem a mesma coisa, ouvem a mesma coisa, falam a mesma coisa e então, claro, são a mesma coisa.
O fanático religioso. A empáfia masculina. A normalidade indolente. O jeito que imita o do vampiro. Os que são desde pequeninos, militantes sinceros do partido político vencedor de eleição. Gente com um dicionário de gírias cada vez mais volumoso. O zunzunzum, o murmurinho, a fofoca.

Não se molham na chuva de Nazaré:
- os secos de humanidade!

(Nazaré encharcada é a apoteose da poesia cabocla. Não há um milímetro de seu corpo, sem esperas, sem encanto.
Mulher assim (ainda) existe, como rio que não nos afoga.
Viajamos dentro dela como se fosse (sempre) a primeira navegação.

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(RF)
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5 comentários:

Anônimo disse...

Lindo.Tu me emocionas,poeta.

Cleide Maciel.

Anônimo disse...

Poeta,você viu as fotos de Belém nos olhos de Maria.kkkk
E sob a chuva de Nazaré,você navega
com sinceridade.Muita sinceridade.
Adorei.

Fernanda Moura

Anônimo disse...

Com poesia, elegância, humor,tu descreves a hipocrisia de Belém.
Educadamente cutucas os Reis e as Rainhas de nossa terra.
Excelente texto.
O plebeu, Eduardo.

Anônimo disse...

Mulheres inteligentes espelham verdades escondidas e outras bem visíveis em seu texto, poeta.Belo texto.Parabéns.

Lucia Pantoja

papistar_nunes disse...

Na chuva de Nazará homens robôs não se molham mesmo não porque com certeza, tem um enorme guarda-chuva sobre seus miolos cansados de tanta informação inútil.Não sabem nem mesmo qual é o sabor de suas lágrimas, imagina se vão querer saborear as deliciosas lágrimas as vezes tristes, as vezes alegres da deliciosa, saborosa, gostosa sabor de manga Nazaré.
Soluções em caras bolorentas não existem não pois seus antí-mofos espirituais estão com a validade vencida e correr atràs desse antídoto requer luta, submissão, humildade, para chegar perto do onipresente, ubíquo Deus.
Prá mim, vampiro não tem alma, alma é coisa do Supremo.Porisso tem que meter a estaca no peito, para exterminar o bicho de vez ,apodrecer no meio dos vermes.Portanto não existe"jeito" de vampiro, existe vampiro mesmo, tentando sugar o sangue, que é o espírito materializado, dos outros.Morte aos vampiros ou se formos bonzinhos, peçamos a quem de direito dar, a redenção a estes seres.
O zumzumzum, é o zumbido dos insetos que virão ajudar a exterminar a podridão dos "secos de humanidade"o murmurinho,é a natureza arquitetando o seu plano final para renascer plena, saudável, absoluta no meio de seres civilizados que a reconhecem e respeitam como uma das obras supremas, para a fofoca virá o dragão divino que vem engolir, não sem antes queimar essas linguas maculadas.
Enquanto espero esse apocalipse Maya, só me resta esperar navegando nesse homem-rio que ainda existe graças à Deus.Homens que se assemelham à Deus e não se arvoram a "serem Deus".
Mais uma vez obrigada poeta por aflorar em mim a vontade de ver e ser uma partícula dívina.Bjssssss