quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Voltas para casa

Depois de um dia inteiro de trabalho
voltas para casa, cansado.
Já é noite em teu bairro e as mocinhas
de calças compridas desceram para a porta
após o jantar.
Os namorados vão ao cinema.
As empregadas surgem das entradas de serviço.
Caminhas na calçada escura.
.
Consumiste o dia numa sala fechada,
lidando com papéis e números,
Telefonaste, escreveste,
irritações e simpatias surgiram e desapareceram
no fluir das horas. E caminhas,
agora, vazio,
como se nada acontecera.
.
De fato, nada acontece, exceto
talvez o estranho que te pisa o pé no elevador
e se desculpa.
Desde quando
tua vida parou? Falas dos desastres,
dos crimes, dos adultérios,
mas são leitura de jornal. Fremes
ao pensar em certo que viste: a vida,
a vida é bela!
.
A vida é bela
mas não a tua. Não a de Pedro,
de Antônio, de Jorge, de Júlio,
de Lúcia, de Míriam, de Luísa...
.
Tua casa está ali. A janela
acesa no terceiro andar. As crianças
ainda não dormiram.
Terá o mundo de ser para eles
este logro? Não será
teu dever mudá-lo?
.
Apertas o botão da cigarra.
Amanhã ainda não será outro dia.
.
*Poeta Ferreira Gullar
.
***

2 comentários:

Nega Cesária disse...

Maravilhoso Ferreira Gular!!!
Bela fotografia!

Socorro

MONE disse...

Belo Texto...
é muito bom teu blog, adorei.