segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Feira Pan-Amazônica : Orgulho Desnecessário?

Hangar: Local da Feira
Para livreiro de Belém, a Feira Pan-Amazônica é um mal necessário
Wagner Alonso comanda uma pequena livraria em Belém, a Solar do Leitor, que atua, até para se manter no mercado, no concorrido setor de livros didáticos, mas reserva uma compacta seção voltada para o leitor que aprecia finos biscoitos literários. É costume encontrar por lá “fominhas” de livros, como Lúcio Flávio Pinto e Tenório Nascimento. Sobre a Feira Pan-Amazônica do Livro, que abre hoje, em Belém, sua 13ª. versão, Wagner comentou a respeito do evento em recente entrevista concedida ao jornalista Elias Ribeiro Pinto, publicada no Diário do Pará. Confira alguns trechos.

1 “Quanto à Feira Pan-amazônica, vamos participar pelo quinto ano consecutivo. Isso é uma vitória para nossas possibilidades. No primeiro ano levamos um prejuízo considerável, no segundo um pequeno, só no terceiro é que compreendemos como vender bons livros num ambiente de feira e alcançamos o equilíbrio. Ano passado tivemos algum lucro, mas é muito pouco. Se continuamos participando é muito mais para manter aberto um canal de comunicação com o público leitor do que para faturar com as vendas. Continuar participando com as contas equilibradas foi conseguido com muita teimosia e gestão, claro.”

2 “Acredito que uma das funções da feira é mesmo essa, a de canal de comunicação. Mas fico intrigado quando são publicados os resultados do faturamento do evento. Primeiro porque não consigo conceber uma fonte confiável para chegar ao número divulgado, depois tentando descobrir onde o dinheiro foi parar – só pode estar no caixa dos âncoras ou dos expositores, na maior parte de fora do Estado, que vendem de tudo que se parece com um livro ou um brinquedo educativo em verdadeiras piscinas de produtos. Se tivesse que oferecer uma resposta direta: como não temos mais tido prejuízo e divulgamos a livraria, participar da feira vale a pena sim. Mas no fundo encaro como um mal necessário.”
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3 “Este ano, em parceria com a Paka-Tatu, o investimento total de um espaço de 60 metros quadrados, incluindo todas as despesas, gira em torno de 25 mil reais. O metro quadrado de 2008 para 2009 aumentou cerca de 30% sem nenhuma justificativa. O leitor que frequenta o evento, muitas vezes pensa que o espaço é cedido para as livrarias. Não chego ao ponto de reivindicar isso, mas afirmo que podemos fazer algo muito bom, por menos.”
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4 “O Banpará cobrará uma taxa de 6% sobre as transações do Credi-Leitura, um programa do Estado de incentivo ao professor e alguns servidores para que adquiram livros no evento, e que significa a metade do faturamento de estandes como o nosso. É mais do que qualquer administradora de cartão de crédito comercial cobra, mesmo em vendas parceladas. É um banco do Estado, com funções sociais. Isso é um incentivo ao expositor? Mesmo com todas as atividades que não sejam o comércio de livros e que ocorrem antes e durante o evento, e que podem ajudar na formação de público leitor, na capacitação de professores e bibliotecários etc. Acho que poderíamos ter resultados melhores com outro modelo.”
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5 “Para ser breve, pergunte ao Estado quanto custa o evento. Sugiro que se imagine um novo evento com o corte de metade do orçamento. A metade economizada poderia ser investida da seguinte forma: um terço para capacitação de professores, bibliotecários e ações de formação de leitores; um terço em editais para publicação de livros para editoras locais (em diversas áreas de saber e com critérios bem delineados, exigindo contrapartida social inclusive); e um terço para compra de livros para as escolas e bibliotecas públicas através de livrarias locais (com informação pública sobre essas compras ou qualquer outro meio que combata o superfaturamento e a concentração das compras em poucos fornecedores).”
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6 “Agora imaginemos essa ação de forma contínua, ao longo de dez ou vinte anos. Em se tratando de mercado editorial, no mínimo teríamos livros de editoras locais sendo vendidos em livrarias do Brasil inteiro em igualdade de condições com as editoras de fora, além de um número maior de livrarias na cidade. Não estou dizendo que o Estado não investe no livro e na leitura. Mas entendo que os investimentos são equivocados, desordenados. Não existe uma política clara, consistente e com objetivos de longo prazo.”
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7 “A Feira Pan-amazônica é importante, estaremos presentes, acreditamos no evento e compreendemos seus aspectos positivos. Mas é preciso aperfeiçoá-la, e talvez isso passe por suprimir o “orgulho” de que se trata de um dos maiores eventos do livro no Brasil. Não vejo necessidade disso. Que isso seja entendido em nome da diversidade e do futuro, pois se um governo decide acabar com a feira, o que sobra para a cidade? Um grande evento a menos, o mercado de venda de livros didáticos, livrarias nos shoppings e meia dúzia de editoras lutando para lançar livros.”
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Um comentário:

Natália Amorim disse...

Olá Ronaldo,
Muito pertinente a matéria sobre a fera e a relação de custo e ganho para os editores e escritores da "Pan-Amazônia".
Usar o mesmo peso e a mesma medida para grandes e pequenos, e mais cair nas velhas fórmulas continuam não contribuindo significativamente para que as "trocas" ocorram de forma senão igualitárias, ao menos equilibradas.
Grande Abraço!