segunda-feira, 11 de maio de 2009

"Breve Depoimento: Amazônia, Ano Zero : José Otávio Pinto

Cem anos de cinema - este universo estético, vasto e complexo, que já foi capaz de oferecer a nós, seres humanos do último século do segundo milênio ocidental, em meio a uma grande quantidade de fitas pouco, pouquíssimo, ou nada significativas, um número expressivo de filmes de considerável, em maior ou menor grau, valor artístico cultural.
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Uma entidade estética ampla e profundamente fecundada pelos perceptos e afectos - para usar a terminologia de Gilles Deleuze, um dos mais brilhantes ensaístas filosóficos e estetas deste século - expresso nas obras de autênticos gênios cinematográficos, como Jean-Luc Godard, Robert Bresson, Luís Buñuel, Frederico Fellini, Friedrich Wilhelm Murnau, Orson Wells, Ingmar

Bergman, Michelangelo Antonioni, Charles Spencer Chaplin, Alfred Hitchcok, e vários outros (mais um vinte ou pouco mais que isso), cineastas do mesmo, precioso, estofo criador.
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Cem anos de cinema, e o cinema amazônico continua, um zero absoluto (Não interessa, no momento, esmiuçar as causas econômicas e político-culturais da inexistência de um núcleo cinematográfico regional, produtor e realizador de filmes de longa e curta metragens, mas apenas para registrar a negatividade do fato, que é a ausência do cinema amazônico).
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Há exceções solitárias, mas mesmo estas são raríssimas. Só dois filmes e ambos feitos por um cineasta alemão, Werner Herzog:
Aguirre, a Cólera dos Deuses e Fitzcarraldo. E há, também, o caso único de um terceiro longa metragem - este, realizado aqui no Pará - de bom nível: Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna.
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O resto é, infelizmente, constituído de filmes que não apenas têm muito pouco valor, ou são mesmo totalmente insignificantes (ruins, medíocres, péssimos), como, em diversos aspectos, desrepeitam e deturpam características fundamentais e grandes valores culturais específicos da Amazônia.
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O cinema amazônico ainda está por nascer.

E, certamente, algum dia surgirá - como, há mais de trinta anos, apareceu, no Brasil, o Cinema Novo, esse importante movimento que, entre numerosos diretores de maior ou menor talento,revelou, a este país e ao mundo, pelo menos um cineasta realmente extraordinário: Glauber Rocha.
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Um dia haverá - e tomara que não muito distante! - em que de fato, começar-se-á a realizar, nesta imensa Amazônia, tão rica arquetípico-mitologicamente um trabalho amplo, fecundo e esteticamente bem dimensionado de expressão cinematográfica do grandioso tesouro simbólico, metafórico, ficcional desta região, que aguarda, impacientemente, o instante sublime de esplendor na tela.
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(Publicado na Revista Asas da Palavra: do curso de Letras/Departamento de Língua e Literatura da Unama.1995.)
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