quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sobre as Orquídeas de Paulo Vieira


*" No jardim das Letras, as flores sempre foram um tópus da poesia.
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Depois dos dedos de rosa das auroras de Homero, das violetas de Safo e de Anacreonte, inúmeros vates ornaram as estantes das bibliotecas com antologias, florilégios e outras grinaldas durante séculos.
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O motivo floral, nos campos líricos, ficou tão repisado e de maneira tão convencionalmente meigosa que foi preciso surgir um poeta genial para renová-lo, associando o símbolo da beleza não mais ao enternecimento piegas e sim ao brilho das trevas.
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Paulo Vieira não é como Baudelaire, um poeta satânico, mas suas orquídeas são anarquistas como as flores do poeta maldito são do mal: por provocação, por ruptura com a maviosa graciosidade.
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(...) Os poemas de Paulo Vieira rompem a ditadura vanguardista da palavra rara, pingada, e reatam com a tradição de uma poesia discursiva. Recorrem pouco às infantilidades do surrealismo, o mais autoritário dos movimentos de libertação poética, mas apresentam traços de correntes essenciais da modernidade lato sensu , como as ambiguidades e as nuances ínfimas do simbolismo, certos jogos gráficos próximos dos caligramas ou até do concretismo, etc.
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Há pinceladas disso tudo num conjunto que no entanto (ou portanto) não segue as palavras de ordem de nenhuma escola. Nem varguardista, nem neo-isso ou pós-aquilo, essa poesia, que sofreu várias influências perceptíveis (enigmax m , nem tão inigmático assim, confessa quase 
que explicitamente a de Max Martins) sem imitar nenhum modelo, não chega ao ponto de ser completamente uma voz singular com identidade arestada e reconhecível.
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E talvez seja de se esperar que nunca chegue lá, pois essa relativa indefinição é um precioso resquício de imaturidade numa obra que, por muitos lados, já é bem madura."
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* Cristophe Golder
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* Orquídeas Anarquistas: Prêmio Instituto de Artes do Pará de literatura (poesia) 2007
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