sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Maestro Waldemar Henrique > depoimento sobre a bossa-nova


*Waldemar Henrique > afirma:
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- "O verdadeiro mestre, o guia modesto, a figura marcante que preparou o advento da bossa-nova foi o Garoto. Ao redor do seu violão maravilhoso estavam Radamés Gnattali, Chiquinho e uma turma de meninos talentosos garimpando dia e noite: Donato, João Gilberto, Tom, Ed Lincoln, Vandré, Luiz Eça e Dolores Duran."
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* Claver Filho autor de "Waldemar Henrique - O Canto da Amazônia", comenta: "É importante e curioso que Waldemar se lembre de um nome e o valorize - o de Garoto - quando os personagens do grande movimento em questão a bossa-nova, raramente se lembrem dele em seus comentários, quando solicitados a falar daqueles momentos de ensaio e tomada de consciência para novo comportamento em relação à música popular brasileira.
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É que Waldemar conheceu de fato, aqueles inícios; aqueles jovens viviam em seu apartamento, no Rio, e ele orientou quase todos. E hoje fico pensando em como das orientações dos mais nacionalista de nossos compositores saiu um grupo aparentemente sem nacionalismo algum, atacados até hoje, os seus integrantes, mesmo depois da bossa-nova, de americanizados ao extremo."
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*Então Waldemar diz: " Como eu fui bem sucedido, sempre recebi bem os jovens que tinham demonstração de talento".
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*Continua Claver: " Será que uma música como Tamba-tajá, cuja primeira parte é tão horizontal e a segunda é que se mexe, não foi a origem de, entre outras, o Samba de uma nota só ?...
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*"Compare-se a pequena tessitura de boa quantidade de trechos de bossa-nova, e talvez coincida com a tessitura das músicas do músico do Pará. Além disso, tirando-se as dissonâncias e certas estilizações, vai sobrar a batida da bossa."
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* Ora, só a título de curiosidade, poderíamos, através de uma partitura de Villa-Lobos, chegar ao ponto em que a batida da bossa se parece com as acentuações da embolada. A partitura é um arranjo para coro e piano que Villa fez para Caboca de Caxangá, chegando, num certo ponto das versalhadas, a indicar as acentuações da embolada segundo a seguinte fórmula:
pa-tchi-tchi-pa-tichi-tichi-pa-tichi, pelas oito semicolcheias que fazem um compasso binário que se repete sempre.
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* ...Costumavam fazer bossa-nova em compasso quartenário - principalmente a rítmica de João Gilberto...
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* "Pois sim: a rítmica do maior intérprete da bossa-nova é composta de dois compassos binários da embolada, sendo um como vem na fórmula indicada acima, e outro que é...simplesmente invertido".
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* Mas o que tem a ver Waldemar Henrique com a embolada?... Algumas das peças mais famosas do músico, Boi-Bumbá e Coco peneruê e outras muitas, têm uma parte em embolada que pode ter ficado no subconsciente daqueles meninos...
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A preocupação de Waldemar Henrique em relação à musica brasileira:
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" Um dos males que têm consumido a história da criação artística no Brasil é a ausência de trabalho sistemático de pesquisa, propiciador de elementos capazes de enriquecer a criação musical. De certo modo, a existência de um completo ensino musical acarreta a ausência de consciência técnica, impedindo a produção musical de atingir, a não ser raramente, aquele grau de perfeição que decorre da convergência de criatividade artística e categoria artesanal".
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"O doce e ameno culto da improvisação, fruto de um romantismo mal digerido, acaba tornando-se causa e efeito da mencionada falta de consciência técnica. A crença no curso espontâneo da arte natural, da improvisação telúrica, termina por gerar um cordial desprezo pelo estudo e formação técnica".
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"O culto pelo consumo que alimenta o deleite da facilidade gera a rápida e abundante produção, o alinhavado descuido, o desinteresse pelo aperfeiçoamento e a conivência com o inacabamento artístico."
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"Com frequência vence o que Sérgio Buarque de Hollanda aponta como o espírito de aventura sobrepujando o espírito de trabalho."
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"Por isso temos a necessidade de intensa, ampla e programada atividade de pesquisa renovadora, visando concorrer para o reatamento da linha evolutiva autenticamente brasileira em nossa música popular".
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E o que Waldemar aconselhava aos jovens paraenses ?
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Maior conscientização brasileira. Mas lamentava uma ausência total de estímulo para o surgimento positivo desses valores, entretanto por experiência própria aconselhava aos nossos compositores que havia uma coisa melhor que pesquisar motivos folclóricos, catalogar versos, melodias, ritmos de carimbó, batidas de babaçuê, passos de mara-baixo...A lição de amar nossa terra e sentí-la profundamente nos seus rostos, problemas, paisagens, características.
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Villa Lobos escandalizava os puristas folcloristas quando dizia:- Eu sou o folclore.
E Villa estava certo dessa verdade. Ele pulsava e suava Brasil. Por onde andasse- e longos anos viveu em Paris e Nova York - sua obra refletia nossas paisagens, nossos ritmos e a nossa sensibilidade modinheira.
Era Villa e era o Brasil.
Os valores musicais de nossa região devem ser encontrados no coração de cada artista criador.
A calça pode ser blue-jeans, mas o coração deve estar perto da terra natal.
Os valores musicais são como os valores humanos. Têm de ser autênticos.
E o maestro acrescenta: "Nós temos uma atmosfera, um ambiente, um sentir próprios. Os compositores deveriam pensar nisso e captar esse imponderável que está dentro de cada um. Pode-se ser alegre ou triste mas o falar paraense se indentica pela doçura.
Fixemos essa doçura.
Antes de tudo devemos estudar música, escolher tonalidades, acordes, intervalos, material para pintar nosso quadro. Todavia se há de escolher um caminho, esse será o do amor à terra."
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2 comentários:

Unknown disse...

Ronaldo
Precisamos divulgar quem foi Waldemar Henrique e sua importância para a formação da identidade da música popular brasileira.
Assim evitaremos que os talentos paraenses, para serem reconhecidos, tenham que pegar "o Itá do Norte".
Precisamos acabar com o dito que Santo de casa não faz milagres, pois saiba, Waldemar lutou e foi o grande responsável pela primeira, se não me engano, reforma do Theatro da Paz e pasme! na época, inauguraram o Theatro e esqueceram de mencionar o seu nome, como diretor do TP,na placa de inauguração,talvez achassem que não seria importante.
Parabéns pela Postagem.

Fabio Gomes disse...

Outra coisa pouquíssimo comentada é a quantidade de paraenses envolvidos com a bossa nova (havia ainda o acreano João Donato). Lembro agora apenas de Billy Blanco e de quase todos os integrantes d'Os Cariocas (eles poderiam se chamar Os Paraenses), mas estou certo de que havia outros. Seria um mero acaso?