Acho que foi na noite de quarta para quinta-feira. Não tenho mais saco para o Jô Soares, mas a TV estava ligada, o telejornal acabou e entrou o gordo.
Na verdade, estava lendo o maravilhoso livro, recém-lançado, sobre a Leila Diniz, do Joaquim Ferreira dos Santos, e não estava nem chundas para as notícias televisivas.
Mas o primeiro entrevistado me chamou a atenção. Era o Tom Zé. Ouvi muito um disco do Tom Zé, lá pelos anos 70, o “Todos os Olhos”, aquele da capa que poucos sabiam de que ângulo, ou olho, do corpo se tratava, exatamente pelo close, digamos, visceral.
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Parecido com aquele conto do Edgar Allan Poe, acho que “A carta roubada”, não lembro bem se esse o título. Para esconder a tal carta, que se sabia seria procurada minuciosamente, o personagem que a detinha a ocultou deixando-a à vista de todos. Isto mesmo: deixou-a em cima da mesa do escritório, bem visível. E saiu à rua, já sabendo que viriam vasculhar sua casa. Pois reviraram todos os cantos e escaninhos do ambiente, mas os invasores não se deram ao trabalho de verificar aquele envelope largado descuidadamente sobre a mesa.
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Assim a capa do disco do Tom Zé. De tão evidente a anatomia ali retratada, ninguém acreditou que aquilo era aquilo mesmo.
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Realmente eu apreciava as músicas e letras daquele disco: “Quando a gente era pequeno,/ pensava que quando crescesse/ ia ser namorado da Brigitte Bardot,/ mas a Brigitte Bardot/ está ficando triste e sozinha”. Ou: “Quando eu vi/ que o Largo dos Aflitos/ não era bastante largo/ pra caber minha aflição,/ eu fui morar na Estação da Luz,/ porque estava tudo escuro/ dentro do meu coração”.
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O problema é que o Tom Zé, depois que foi redescoberto por aquele músico americano (meio que parecido com o caso do Zé do Caixão, seu prazo de validade espichado pelo aval americano), pronto, acreditou que era realmente um gênio, um Walter Smetak da atomização microtonal, seja isso o que for, seja o que Deus quiser. Gênio, a propósito, foi o outro Tom, o primeiro.
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Vendo o trololó do Tom Zé no Jô, descobri-me sem mais disposição para essas patativices de Tom Zeverissimações. Não tenho mais borogodó para genializações no que é mera prascovice. E o Jô Soares, por trás de todas as línguas em que parlenga, parola e garrula, é apenas um deslumbrado com a ancha natureza de que se julga expressão máxima. Está longe de ser o intelectual que julga ser.
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Como entretenimento, avie-se, levando em conta o que é a televisão brasileira, que é isso aí mesmo servido todo dia. Estomazil.
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E quer saber: também estou um chato. Nada parece ter graça. Talvez seja saudade da Leila Diniz. Pensava que quando crescesse eu ia ser namorado da Leila Diniz.
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Ê NÓIS, PARANAENSES
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Li que a ministra Dilma Rousseff chamou os paraenses de paranaenses. Nenhuma novidade. Muitas vezes, em doutoradas páginas do Rio e de São Paulo, em resenhas, por exemplo, de um livro de Vicente Cecim ou Haroldo Maranhão, elogiavam a qualidade literária do autor “paranaense”. Se há inteligência na jogada, criatividade, é freudiano, ou seja, só pode ser “paranaense”. Paraense? Só se tiver bala, linchamento, massacre, depredação geral, trabalho escravo, conflito de terra, pistolagem...
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Ó PROS CARROS
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Outro dia li, aqui mesmo, quer dizer, reproduzido da Folha de S.Paulo, o Ruy Castro desancando, na sua coluna, a “civilização” do carro. Já escrevi tantas colunas sobre a barbárie automobilística que daria para reunir e publicar uma plaqueta só com este assunto (ou até um livro de bom tamanho).
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Agora ameaçam, mais uma vez, esticar, espichar a avenida 25 de Setembro – ou a 25Avenue, como diz o compadre Edson Gillet, morador do pedaço –, matando-lhe o traçado serpenteante.
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É para os carros tomarem conta? É mais asfalto cedido à ulceração motorizada?
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Sou contra e contra todos os argumentos que se façam em nome do desalmamento criminoso dessas máquinas de matar. Que sejam mais criativos e promovam meios de deixar essas feras o máximo de tempo possível em suas jaulas-garagem. Mais transporte público, isto sim, por baixo, por cima, pela água, via canela. E vão à (*), como diria Leila Diniz.
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PRETO NO BRANCO
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Está bem, está bem, estou assim assim. Mas, para terminar de bem, convido-os, hoje, a dar um pulo aqui na vizinha Rita, em seu Bistrô , na Ferreira Cantão quase esquina com a praça da Trindade (do lado daqui, não do lado da igreja). É que neste sábado tem uma feijoada que agrada a gregos e baianos, ou melhor, a cariocas e franceses (e a nós, “paranaenses”). Uma não, duas. Com o pretinho básico, tradicional. E com feijão branco, à francesa, que vem a ser o cassoulet, servido com pedaços de pato. Pronto, você pode ir de preto no branco (ou branco no preto, sem preconceito). Com direito a erguer um brinde ao Obama. E já com umas tantas na cabeça, finalizar com aquele grito de guerra final das vedetes: Oba
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Nas Fotos: A Divina > Leila Diniz. Jô Soares, Tom Zé ..
***
Na verdade, estava lendo o maravilhoso livro, recém-lançado, sobre a Leila Diniz, do Joaquim Ferreira dos Santos, e não estava nem chundas para as notícias televisivas.
Mas o primeiro entrevistado me chamou a atenção. Era o Tom Zé. Ouvi muito um disco do Tom Zé, lá pelos anos 70, o “Todos os Olhos”, aquele da capa que poucos sabiam de que ângulo, ou olho, do corpo se tratava, exatamente pelo close, digamos, visceral.
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Parecido com aquele conto do Edgar Allan Poe, acho que “A carta roubada”, não lembro bem se esse o título. Para esconder a tal carta, que se sabia seria procurada minuciosamente, o personagem que a detinha a ocultou deixando-a à vista de todos. Isto mesmo: deixou-a em cima da mesa do escritório, bem visível. E saiu à rua, já sabendo que viriam vasculhar sua casa. Pois reviraram todos os cantos e escaninhos do ambiente, mas os invasores não se deram ao trabalho de verificar aquele envelope largado descuidadamente sobre a mesa.
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Assim a capa do disco do Tom Zé. De tão evidente a anatomia ali retratada, ninguém acreditou que aquilo era aquilo mesmo.
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Realmente eu apreciava as músicas e letras daquele disco: “Quando a gente era pequeno,/ pensava que quando crescesse/ ia ser namorado da Brigitte Bardot,/ mas a Brigitte Bardot/ está ficando triste e sozinha”. Ou: “Quando eu vi/ que o Largo dos Aflitos/ não era bastante largo/ pra caber minha aflição,/ eu fui morar na Estação da Luz,/ porque estava tudo escuro/ dentro do meu coração”.
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O problema é que o Tom Zé, depois que foi redescoberto por aquele músico americano (meio que parecido com o caso do Zé do Caixão, seu prazo de validade espichado pelo aval americano), pronto, acreditou que era realmente um gênio, um Walter Smetak da atomização microtonal, seja isso o que for, seja o que Deus quiser. Gênio, a propósito, foi o outro Tom, o primeiro.
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Vendo o trololó do Tom Zé no Jô, descobri-me sem mais disposição para essas patativices de Tom Zeverissimações. Não tenho mais borogodó para genializações no que é mera prascovice. E o Jô Soares, por trás de todas as línguas em que parlenga, parola e garrula, é apenas um deslumbrado com a ancha natureza de que se julga expressão máxima. Está longe de ser o intelectual que julga ser.
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Como entretenimento, avie-se, levando em conta o que é a televisão brasileira, que é isso aí mesmo servido todo dia. Estomazil.
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E quer saber: também estou um chato. Nada parece ter graça. Talvez seja saudade da Leila Diniz. Pensava que quando crescesse eu ia ser namorado da Leila Diniz.
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Ê NÓIS, PARANAENSES
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Li que a ministra Dilma Rousseff chamou os paraenses de paranaenses. Nenhuma novidade. Muitas vezes, em doutoradas páginas do Rio e de São Paulo, em resenhas, por exemplo, de um livro de Vicente Cecim ou Haroldo Maranhão, elogiavam a qualidade literária do autor “paranaense”. Se há inteligência na jogada, criatividade, é freudiano, ou seja, só pode ser “paranaense”. Paraense? Só se tiver bala, linchamento, massacre, depredação geral, trabalho escravo, conflito de terra, pistolagem...
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Ó PROS CARROS
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Outro dia li, aqui mesmo, quer dizer, reproduzido da Folha de S.Paulo, o Ruy Castro desancando, na sua coluna, a “civilização” do carro. Já escrevi tantas colunas sobre a barbárie automobilística que daria para reunir e publicar uma plaqueta só com este assunto (ou até um livro de bom tamanho).
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Agora ameaçam, mais uma vez, esticar, espichar a avenida 25 de Setembro – ou a 25Avenue, como diz o compadre Edson Gillet, morador do pedaço –, matando-lhe o traçado serpenteante.
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É para os carros tomarem conta? É mais asfalto cedido à ulceração motorizada?
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Sou contra e contra todos os argumentos que se façam em nome do desalmamento criminoso dessas máquinas de matar. Que sejam mais criativos e promovam meios de deixar essas feras o máximo de tempo possível em suas jaulas-garagem. Mais transporte público, isto sim, por baixo, por cima, pela água, via canela. E vão à (*), como diria Leila Diniz.
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PRETO NO BRANCO
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Está bem, está bem, estou assim assim. Mas, para terminar de bem, convido-os, hoje, a dar um pulo aqui na vizinha Rita, em seu Bistrô , na Ferreira Cantão quase esquina com a praça da Trindade (do lado daqui, não do lado da igreja). É que neste sábado tem uma feijoada que agrada a gregos e baianos, ou melhor, a cariocas e franceses (e a nós, “paranaenses”). Uma não, duas. Com o pretinho básico, tradicional. E com feijão branco, à francesa, que vem a ser o cassoulet, servido com pedaços de pato. Pronto, você pode ir de preto no branco (ou branco no preto, sem preconceito). Com direito a erguer um brinde ao Obama. E já com umas tantas na cabeça, finalizar com aquele grito de guerra final das vedetes: Oba
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Nas Fotos: A Divina > Leila Diniz. Jô Soares, Tom Zé ..
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2 comentários:
Êta artigo bom de se ler, heim Elias?
Esta "paranaense" aqui agradece, rsrsr
Beijo-açu
bisbilhotando poeta** e adorando, sempre q. quero saber algo interessante passo por aqui, não sei o que quero saber, mas sempre encontro algo... Essa do Tom Zé foi rsrsrrsrs! abraços!!
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