terça-feira, 4 de novembro de 2008

Mais realistas que o Rei (Ronaldo Franco)


"Pelo curto tempo que você sumiu/ Nota-se aparentemente que você subiu/ Mas o que eu soube a seu respeito/ Entristeceu-me ouvi dizer/Que para subir você desceu/ Você desceu."
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Era a grande Clara Nunes, guerreira que só ela, que cantava a música aí de cima, não era? Nós moços de espírito, lembramos, não lembramos?
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Se a Clara, que pena, há muito já não está entre nós, sua música, e esta aí de cima, em particular, não podia ser mais atual, presente, eterna enquanto existir humanidade - ou falta de humanidade.
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Nos noticiários, na vida de todo dia, a minha, a sua, a nossa, quantas vezes não assistimos a uma gente que, para subir, desce o nível, pisa, a moral toda enterrada na lama.
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E o mais engraçado é que essas pessoas que "se acham" , em geral, não são os chefes, os superiores, mas os "atravessadores", os intermediários, o estafinho, os que, antes que o chefe estique a mão para abrir a porta, já estão com as suas na maçaneta, dando passagem.
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São os mais realistas que o rei - que interpretam os humores do patrão à revelia do próprio patrão.
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Os verdadeiramente de cima, sei, por experiência, que são - não digo sempre, mas muitas vezes - pessoas cordatas, capazes de receber em sua sala com a mão estendida e um sorriso no rosto, providenciando água e cafezinho.
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Mas os atravancadores, o tal estafinho (tão temporário), até para fazer valer o cargo, sua influência junto ao chefe, dizem que este não pode receber, que não está ou está muito ocupado. E tome chá de cadeira na bacia das almas que é a sala de espera.
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São as pedras no meio do caminho.
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Esses, os que se acham, erguem muros em torno dos chefes, feito aquele muro que o Pink Floyd construiu, tijolo a tijolo, num desenho (i)lógico, construído com a argamassa do ódio, do ressentimento, do rancor e dos interesses mesquinhos.
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O muro que depois se desintegra, esfarela, arrebentado pela sede de liberdade e contestação.
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Quintanar é preciso:- vocês, atravancadores, passarão...
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5 comentários:

Anônimo disse...

Tu sabes escrever a verdade nua e crua.

Beijos de Joana Freitas.

Anônimo disse...

É bem verdade tudo isso, apesar de também ser bem verdade que existem "reis" e "reis". Uns que fazem dos "atravessadores" seus escudos e, no final, passam por bonzinhos e sinceros. São, muitas das vezes, asquerosos. Conheci uns desses... Como conheci esses que se sentem mais que eles. Ou seja, ambos os tipos não passam de idiotas.

Besos

Carmen

Anônimo disse...

E como temos atravancadores em nossas vidas,poetinha.
Só os cegos não exergam.
Teu texto está ótimo.

Beijos de Alice Moraes

Anônimo disse...

Dá-lhe,poeta.

César Bentes.

Anônimo disse...

Conheço tantos atravancadores,poeta.O seu blog não daria conta da minha lista.rs
Belo texto.

José Batista.